Alguns dos passos para transformar a multinacional de alimentos Heinz em uma companhia com a cara dos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, do fundo 3G Capital, foram dados ontem, durante o dia em que Warren Buffett, sócio de Lemann na Heinz, esteve no Brasil, em visita à Ambev, em São Paulo.
A cervejaria é a expressão máxima do modelo que será replicado na companhia de alimentos adquirida pelo 3G e pelo investidor há três semanas. Buffett veio não só para ver de perto o celebrado modelo Ambev de gestão, mas principalmente para entender melhor se (e o que) aquilo que foi feito na Ambev cabe na nova administração da fabricante de ketchups, segundo pessoas próximas aos investidores.
Sob total sigilo e forte esquema de segurança, a presença de Buffett por aqui também vinha sendo interpretada pelo mercado ontem, conta uma fonte, como espécie de apoio de Buffett aos sócios do 3G num momento em que Burger King e Heinz - dois dos negócios principais do 3G - estão no centro de uma investigação na SEC, órgão de fiscalização do mercado de capitais americano, por uso indevido de informações privilegiadas.
A investigação envolve operadores de mercado financeiro, e não as empresas. A visita seria um sinal de que os dois sócios estão trabalhando juntos e alinhados, de acordo com essa fonte ouvida.
Na manhã de ontem, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, dois dos três sócios-fundadores da 3G Capital, acompanharam Buffett em visita à sede da cervejaria, na zona sul de São Paulo. Ele esteve com o presidente da Ambev, João Castro Neves e Nelson Jamel, diretor financeiro. Executivos da cervejaria também se reuniram pela manhã com alguns diretores da linha de frente do fundo de investimento Berkshire Hathaway, de Buffett.
Marc Hamburg, chefe da área financeira do Berkshire Hathaway, esteve na empresa junto com o investidor americano. Lemann, que mora na Suíça, chegou ao Brasil na terça-feira para preparar a visita de Buffett, que voltou aos Estados Unidos na noite de ontem. Circularam informações no mercado ontem de que o megainvestidor poderia visitar fábricas da Ambev e outros negócios do 3G, como o Burger King, mas fonte da rede de fast-food negou a visita.
A parceria dos sócios do 3G e Buffett, e por consequência a presença do megainvestidor por aqui, é vista como uma chancela do bilionário ao modelo de gestão do trio de sócios. Não só em raras ocasiões Buffett se associou a alguma companhia em uma aquisição, como é raro vê-lo visitar modelos de gestão pelo mundo (aos mais próximos, Buffett se refere a Lemann como "o professor"). Com a Ambev, o que funcionou foi um conjunto de ações replicado hoje no Burger King - e a ser copiado na Heinz nos próximos anos.
Estrutura de trabalho muito enxuta, reavaliação constante de despesas e valorização de quem trabalha pesado norteiam o modelo de gestão dos brasileiros. Como pano de fundo, está a necessidade de transformar a Heinz em uma empresa maior do que ela é. Não que a companhia esteja em má situação. "A empresa é bem gerida, não vejo problemas", disse Beth Loewy, da corretora Sturdivant & Co. É que a Heinz poderia ser mais eficiente.
As despesas, por exemplo, têm crescido há dois anos, pelo menos, na mesma velocidade das vendas, segundo balanço de resultados da Heinz. Esse deve ser um dos focos do trabalho a ser feito daqui para frente pelos novos gestores. Existe uma expectativa de que o 3G coloque um presidente de sua confiança à frente da Heinz, abrindo caminho para a entrada de outros executivos ligados ao 3G na companhia.
Veículo: Valor Econômico