Pesquisador da FGV diz que aumento de custos da indústria pode retardar ou anular efeito da queda de grãos
Com o aguardado recuo nos preços dos grãos, que explodiram em 2012 devido a quebras de safra na América do Sul e nos EUA, espera-se alívio na inflação de alimentos neste ano.
Outros componentes do custo da indústria alimentícia, no entanto, devem retardar a queda de preço ou podem até mesmo anular o efeito da desvalorização dos grãos sobre os produtos industrializados, segundo Mauro de Rezende Lopes, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.
Como o milho e os derivados de soja são matéria-prima na produção de aves, suínos e numa ampla gama de alimentos industrializados -de massas a sorvetes-, têm grande influência sobre a inflação do grupo alimentação, que responde por 24% do IPCA, o índice oficial.
As cotações já perderam força em relação às máximas, mas continuam em patamar alto e só devem ceder mais após definição da safra americana, no segundo semestre.
Reflexos mais significativos do novo cenário dos grãos nos preços de alimentos industrializados, portanto, só devem ser sentidos na segunda metade do ano.
O que mais preocupa, no entanto, são outros custos da indústria de alimentos, como embalagens e frete.
Sondagem feita pelo pesquisador do Ibre com indústrias do setor mostra que, desde janeiro, as embalagens de vidro subiram 11% para os produtores de alimentos, as embalagens metálicas, 7,5%, e as de papelão, 5%.
Outros materiais usados em embalagens, como cobre (4,4%) e folhas metálicas (7,2%), também subiram. Sem contar o custo do frete, maior preocupação do agronegócio e da indústria de alimentos.
FRETE
Além do aumento no preço do diesel, de 5,4% em janeiro e de mais 5% nesta semana, a redução da jornada de trabalho dos caminhoneiros elevará em pelo menos 10% o custo do frete para a indústria alimentícia, segundo o levantamento de Lopes.
Ele também diz que elevam os custos das empresas antecipação de dissídios, em alguns casos, para janeiro.
Os índices de inflação ainda não captaram o impacto do frete e das embalagens sobre os alimentos industrializados porque o repasse do aumento de custo para o consumidor começou na virada de fevereiro para março.
"Não tem como o setor de alimentos industrializados contribuir para uma queda na inflação, pelo menos nos próximos três meses", diz.
Com o aumento da renda, os alimentos industrializados ganham relevância nos índices de preço. O grupo tem peso de 7% no IPCA.
Veículo: Folha de S.Paulo