Preço sem desconto: a difícil missão de pechinchar no varejo

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Negociar um abatimento nas grandes redes de varejo é tarefa quase impossível. Os produtos são praticamente tabelados em todas as unidades e os vendedores e gerentes possuem pouca ou nenhuma autonomia

 

Conseguir um bom desconto no presente de fim de ano não é tarefa fácil nas grandes lojas do varejo. Os vendedores dão todo tipo de justificativas para não baixar um centavo no preço: dizem que o valor é tabelado, que já está em promoção e até jogam a culpa no chefe, que não permite a negociação de descontos.

 

Em lojas como o Magazine Luiza da Rua Tuiutí, no Tatuapé, uma das seis visitadas pelo JT na tarde da última segunda-feira, o abatimento foi baixo: a geladeira Brastemp BRM35B, depois de alguma conversa, saiu R$ 49 mais barata do que o preço anunciado à vista, de R$ 1.699, um desconto de 2,88%. Em outras lojas, como o Carrefour do bairro do Limão, na zona norte, mesmo insistindo com o gerente, a vendedora não conseguiu baixar os R$ 1.898 de uma TV de LCD da LG modelo LG30, de 32 polegadas. “É a última peça, ele falou que já está baixo.”

 

Para o professor de economia da Faculdade Trevisan, Alcides Leite, as grandes redes têm condições de fazer bons abatimentos, mas não dão autonomia aos vendedores. “Para facilitar a administração das várias unidades, fazem um sistema único de preços e o funcionário não pode mudar.” Segundo ele, a pechincha é mais eficaz em lojas menores, onde é possível conversar até com o dono.

 

O gerente não deixa

 

A boa ou a má vontade do gerente também são argumentos de vendedores quando o cliente pechincha. Um corte de R$ 50 foi o máximo que vendedora do Wal-Mart da Vila Guilherme, na zona norte, calculou sobre o preço da máquina de lavar roupas Electrolux LTR15, de R$ 1.298.

 

No Extra da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, um microondas Electrolux ME185, de 17 litros, custava R$ 299 e teria desconto de “uns R$ 20”, ou seja, 6,6%, depois de uma conversa com o gerente.

 

Já nas Casas Bahia da Praça Padre Damião, na Vila Prudente, zona leste, o vendedor se disse “refém” da tabela de preços para não baixar o preço de aparelhos de DVD Philips e LG: “É o preço anunciado na TV e nos jornais. Não tenho como mexer”. Sua colega, no entanto, deu outra justificativa para não dar descontos sobre o preço de computadores: culpou o “sistema”, que estaria “travado” naquela tarde.

 

Desconto tabelado

 

A melhor negociação foi na Fast Shop do Shopping Eldorado, na zona oeste, onde o vendedor, após perguntar qual seria o uso e procurar modelos compatíveis, aceitou negociar preços de notebooks. Os descontos, disse, são tabelados. “É o sistema que passa. Geralmente fica entre 7% e 10%. Esse está com 10%”, disse, sobre modelo E500 High, da LG, que custava R$ 2.999 e sairia por R$ 2.699,10. A câmera fotográfica Sony Cybershot 7.2 MP, que custava R$ 799, teria a mesma porcentagem de desconto.

 

À vista e a prazo, tudo na mesma

 

Uma estratégia comum entre as redes é atrair o cliente para o pagamento parcelado oferecendo o mesmo preço à vista e a prazo. Com este apelo, o consumidor acaba escolhendo pagar em mais vezes para evitar uma despesa maior em um só mês. Esta prática motivou o Ministério Público estadual a abrir ação contra 13 redes varejistas em novembro.

 

O MP argumenta que o procedimento fere o Código de Defesa do Consumidor, já que são embutidos no preço à vista os juros que só deveriam ser cobrados a prazo. As lojas do Carrefour, Wal-Mart, Extra, Casas Bahia e Magazine Luiza visitadas pelo JT oferecem a opção - e estão entre as acionadas.

 

Segundo a professora do programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA), Flávia Ghisi, as redes priorizam promoções à negociação. “É outro modelo. Tentam atrair pelo preço baixo e parcelamento, o que dificulta a barganha”, diz.

 

Sobre esta questão, o Carrefour informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que dá descontos em compras com o cartão da rede, e que, para os eletrônicos, estes descontos variam conforme a categoria. As Casas Bahia informaram que a empresa não divulga estratégias de venda.

 

Para Alcides Leite, da Trevisan, a rigidez não é boa nem para clientes nem para redes em tempos de crise. “O consumidor deve evitar dívidas e, com a falta de crédito e risco de calote, receber à vista seria ideal para as lojas”, afirma.

 

Conhecimento e argumentos técnicos sobre o produto e só entrar na loja já sabendo o que comprar ajudam na negociação do desconto. O fundamental, no entanto, é pesquisar. “Vale a pena gastar um tempo pesquisando em sites. A variação de preço é muito grande. Não se pode ir à loja porque é mais perto de casa”, sugere Leite.

 

Foi o que fez o publicitário Otávio Muniz. Sua última compra foi um aparelho de DVD em uma loja do Carrefour, escolhida depois de pesquisar em sites de diversas redes. “Lá estava R$ 129. Nas outras estava por R$ 159”, conta. Muniz ainda tentou desconto à vista, que foi negado. “Podia ser em três vezes sem juros, mas preferi à vista. Preço menor que esse não ia encontrar.”

 

Veículo: Jornal da Tarde


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