Com o cenário ainda de fôlego no varejo brasileiro, principalmente agora, com a injeção da segunda parcela do décimo terceiro salário, várias redes varejistas resolveram manter os planos que tinham de abertura de lojas neste ano, e correram para abrir novas unidades a tempo de abocanhar clientes, de olho nas compras de Natal e das férias de final de ano. O cenário é inverso ao de varejistas americanas e inglesas, como a caótica situação da Woolworths, criada em Liverpool em 1909, que fechará 800 lojas em janeiro de 2009, além da rede Best Buy, líder no comércio de eletrônicos nos EUA, com queda de 77% no lucro líquido no último trimestre e que anunciou cortes nos investimentos para o ano que vem.
No mercado nacional, por enquanto o cenário ainda é outro. Ontem foi dia de duas inaugurações da Casas Bahia, que abriu unidades em Vila Velha, no Espírito Santo. A maior rede varejista de eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis do País abriu loja no Shopping Praia da Costa com 600 metros quadrados, e apresentou novas instalações da filial do centro da cidade, com mais de 1.300 m².
O diretor executivo, Michael Klein, disse que a companhia encerrará o ano com 560 unidades - 30 delas inauguradas em 2008. Para 2009 estão programadas mais 30 lojas e aportes futuros da ordem de R$ 84 milhões, parte para o projeto de expansão na Bahia, com maturação prevista para 2010. Mês passado, a rede inovou ao inaugurar sua primeira loja dentro de um bairro de periferia, na capital paulista, para atingir de maneira mais assertiva o público de baixa renda. O local escolhido foi Paraisópolis, a segunda maior favela da capital paulista. Segundo Klein, os próximos alvos são Rocinha (RJ) e Heliópolis (SP).
Apesar de manter o otimismo, com expectativa de recuperação do crescimento no varejo interno a médio e longo prazos, este ano o lucro da Casas Bahia caiu pela metade em relação a 2007, somando R$ 135 milhões. Os motivos alegados foram desde juros maiores pagos aos bancos, até o aumento dos aluguéis e salário mais alto dos funcionários. Perguntado sobre os reflexos da crise, Klein disse acreditar que garantirá investimentos futuros, sendo a maior fatia desta verba, de R$ 84 milhões, destinada para 2009.
Outra rede que demonstra ímpeto, mesmo em tempos de cautela, é a Apple, com a inauguração da A2You em um espaço de 200 metros quadrados. A unidade foi aberta há poucos dias e é a maior loja autorizada da Apple no Brasil, localizada no Shopping Pátio Paulista, em São Paulo. No espaço, são oferecidas novidades da área de tecnologia. Uma delas são os fones da marca Skullcandy, sucesso mundial que invadiu as ruas de Nova York neste verão e que agora será lançado no Brasil.
Para a fase de inauguração, a A2You disponibilizou aos 20 primeiros compradores de um dos modelos iPod, um fone da Skullcandy de brinde. Além disso, o público participou de workshops gratuitos, com profissionais diretamente treinados pela Apple. A loja abriga também um Centro de Soluções Integrado (NIO) para serviços como upgrade e conserto de máquinas na hora.
A paulista Lojas Marabraz, especializada em móveis, há poucos dias começou a operar uma megaloja na Baixada Santista, em São Paulo. A empresa seguiu a tendência do varejo de investir no formato clean.
Segundo a direção da rede, o projeto foi concebido para oferecer o máximo de conforto e praticidade, com um completo mix de produtos, composto por itens para quarto, sala, cozinha e infanto-juvenis. Com mais de 100 lojas no Estado de São Paulo, a Marabraz, fundada pelo empresário Abdul Hadi Mohammed Fares, há mais de dez anos, é focada nos públicos das classes C, D e E.
No ramo supermercadista, o Grupo Pão de Açúcar inaugurou, ontem, sua segunda loja cearense da rede Assai, com aporte de R$ 6 milhões, para comercializar produtos a varejo e por atacado. Com 1.700 m² de área de vendas, a loja dispõe de 130 vagas de estacionamento e emprega 300 pessoas. A primeira loja Assai do Ceará foi inaugurada mês passado. As duas unidades somam investimento de R$ 14 milhões. Com a inauguração da segunda loja, o Grupo Pão de Açúcar chega ao dobro de lojas abertas da rede em 2008, em comparação a 2007, quando as empresas iniciaram a parceria. A rede promete mais oito lojas inauguradas até dezembro, totalizando 28 pontos-de-venda em todo o País.
Associação
Apesar da correria de inaugurações nestes últimos dias do ano, o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, afirmou ontem que é preciso manter serenidade e que o governo e as empresas se esforcem para evitar aumento de demissões no País, o que poderia reduzir a confiança do consumidor e impactar negativamente as vendas ao longo do próximo ano.
Para Burti, é preciso ficar atento aos indicadores econômicos, além das pesquisas, como a da ACSP, que indica que as vendas do Natal deste ano na capital paulista devem variar entre uma queda de 1% e um aumento de 2% sobre as do mesmo período de 2007. "O pessimismo entre os consumidores está forte. Qualquer ganho em relação ao ano passado será bem-vindo", afirmou. Segundo ele, até setores que tradicionalmente têm vendas aquecidas em dezembro, como o de vestuário e calçados, já vêm enfrentando queda, por conta da crise.
Para 2009, o dirigente da entidade descarta fazer projeções exatas, mas avalia que o varejo deve crescer entre 1% e 1,5% a mais que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo Burti, a comercialização de bens de maior valor agregado será mais afetada no próximo ano. Ele destacou que, do cenário que impulsionou as vendas desses produtos antes do estouro da crise, baseado na abundância de crédito, dólar desvalorizado e crescimento da renda e do emprego, pouco restará em 2009.
Na opinião do economista da ACSP, Marcel Solimeo, o desempenho do varejo em 2009 vai depender ainda do comportamento do consumidor diante das medidas anunciadas pelo governo para a retomada do consumo. Além disso, os níveis de inadimplência ainda devem permanecer estáveis, em comparação aos números do período pré-crise, completou o presidente da ACSP.
Veículo: DCI