Ovo ou barra? À vista ou a prazo? Os dilemas de Páscoa

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Manter a doce tradição da Páscoa com chocolates em forma de ovos tem um preço salgado. Isso porque, a iguaria colorida que encanta crianças e adultos chega a custar três vezes mais que o mesmo chocolate, só que em forma de barra. Basta fazer as contas para ver o quanto a brincadeira sai caro.

A título de exemplo, mas cuja diferença se mantém no caso de outras marcas: um ovo de 500 gramas da Lacta custa R$ 44, 98, enquanto uma barra de 170 gramas sai por R$ 4,98. No primeiro caso, cada 100 gramas custam R$ 8,99. No segundo, 100 gramas ficam em R$ 2,98.

Mas os rio-pretenses que não abrem mão de agradar, independentemente do preço, tem à sua disposição as facilidades do bom e velho crédito que tem levado a nova classe C ao paraíso. Lojas de Rio Preto estão parcelando os ovos de chocolate em até dez vezes.

Normalmente as grandes lojas conseguem oferecer essa facilidade aos clientes. O gerente da Havan de Rio Preto, Wilhan Henrique de Brito, explica que é possível parcelar a iguaria pascal em até dez vezes no cartão, desde que as parcelas não sejam menores do que R$ 5.

Em outras grandes redes hipermercados da cidade, como Carrefour, Pão de Açúcar ou Wal Mart, ou mesmo supermercados menores, o cartão de crédito comum também pode ser usado para comprar os doces em suaves parcelas.
A estratégia, pelo jeito, está funcionando. Pelo entusiasmo dos consumidores, comerciantes da cidades estimam um crescimento médio de 15% nas vendas neste ano em comparação ao mesmo período do ano passado.

As crianças, claro, são as principais impulsionadoras desse negócio. A pequena Emilly Arakaki Yochida, 7, já conhece o significado real da Páscoa, mas não deixa de amar os chocolates. Se for aqueles que oferecem algum brinde, como os brinquedinhos e acessórios que recheiam os ovos, melhor ainda.

“A Páscoa é renascimento. Gosto dos ovos porque têm brinquedos e são muito deliciosos”, diz Emilly. Seus pais, Susana Arakaki, 40, e Wagner Yochida, 44, fazem questão de manter a tradição e todos os anos compram ovos para a filha e para as sobrinhas.

Eles são comerciantes e sabem lidar com a economia no lar. Como forma de pagamento, quando a compra dos ovos é grande preferem utilizar o cartão de crédito para dividir o pagamento. “É mais prático usar o cartão devido aos benefícios oferecidos, com isso posso comprar os ovos e outras coisas agora e pagar tudo depois”, conclui Susana.

Ela, que é peruana, comeu seu primeiro ovo de Páscoa no Brasil. “No Peru também existem ovos de Páscoa, mas não há tanta propaganda como aqui, o costume brasileiro é diferente de lá”, afirma. Outros consumidores preferem pagar no ato da compra, evitando pagamentos prolongados, como a educadora infantil Josefa Aparecida Silva Rizzo, 45. Moradora de Ilha Solteira, ela se deslocou até Rio Preto para presentear os sobrinhos.

Ela comprou seis ovos de chocolate e pagou no cartão de débito. “Com o débito não preciso me preocupar em pagar depois, aliás eu nem gosto de chocolate, prefiro comprar para presentear minha família”, conta Josefa.
Quanto ao fato de pagar mais pelo mesmo chocolate, Josefa não tem dúvida. Vale tudo para fazer a alegria da garotada, segundo ela.

Mas, após comparação, há quem resista à tentação. A professora Aparecida Martins Borges, 50, é um exemplo. Considerando os preços abusivos, ela é adepta de algo “menos consumista”. A professora prefere a presença das pessoas que ama ao invés do chocolate. “Não compro ovos de Páscoa porque não acredito no consumismo, mas sim em um bom abraço de amigos”, diz
Aparecida.


Impostos "Salgam" o chocolate


O que encarece os ovos de Páscoa é a sua matéria-prima, o chocolate, explica o economista Walter Luiz Oliveira. “Nessa época, por aumento da demanda, os preços se elevam fortemente.” O parcelamento, dependendo do caso, pode não ser uma boa opção. Para Walter, alimentos não devem ser parcelados uma vez que são consumidos rapidamente e a dívida permanece. “A não ser que se faça uma grande compra do produto. Parcelamento, na verdade, seria para bens duráveis.”

Segundo João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), além do aumento da procura, a carga tributária incidente no chocolate também é alta e contribui para elevar os preços. “ As famílias brasileiras poderiam consumir mais e melhor na Páscoa se não fossem atacadas pelos altos tributos embutidos nos preços dos produtos”, afirma. No caso dos ovos de chocolate, os tributos chegam a representar 38,53% do preço do produto.

Evitar endividamento

Decidir entre o ovo, com suas cores e embalagens chamativas, e a simplicidade da barra não é uma tarefa fácil. O importante é não acumular dívidas desnecessárias. “Não se deve comprometer a renda pagando caro somente por questão de luxo. Se deseja presentear, faça, mas não se enfie em dívidas”, afirma o economista Walter Luiz Oliveira.

A recomendação do especialista é válida. Os ovos este ano estão mais caros, de tamanho menor e com baixo estoque nas lojas. A avaliação é do professor de varejo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Plá.“As grandes redes estão com um cuidado para que não sobrem ovos mais caros, que são os maiores, porque houve um aumento grande no preço dos ovos de Páscoa. Os fabricantes repassaram o aumento de custos e ainda colocaram um pouco mais em cima disso. Então, isso está criando essa anomalia no mercado.”

Segundo o professor, ao mesmo tempo em que a nova classe média está comprando mais ovos de menor peso, as pessoas de maior renda estão adquirindo ovos menores para presentear na data. “É o grande natal da indústria dos chocolates e as grandes redes já têm pedidos dos lojistas há mais de três meses.”

 
 
Veículo: Diário da Região - S.José do Rio Preto/SP


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