Congelamento de preços na Argentina ainda resiste

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Em um mês e meio de vigência, o congelamento informal de preços na Argentina, para surpresa até mesmo dos críticos do governo da presidente Cristina Kirchner, está resistindo. Os produtos mantidos congelados em supermercados e lojas de eletrodomésticos por uma ordem verbal do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, tiveram uma variação insignificante de preços desde o início de fevereiro e não há problemas de desabastecimento.

O governo deve lançar nos próximos dias mecanismos para prolongar a política no mês de abril. Inicialmente, os preços estariam liberados no fim deste mês. Moreno pressiona o sistema financeiro para que reduza as comissões cobradas do comércio pelo uso de cartões de crédito a um máximo de 1% e, no caso do cartão de débito, a 0,75%. Pela lei argentina, a comissão máxima é de 3%. O governo ameaça com o lançamento de um cartão de crédito oficial, que passaria a ser o único meio eletrônico de pagamento no comércio.

As cinco maiores redes varejistas na Argentina (Carrefour, Walmart, Cencosud, Casino e a argentina Coto) movimentaram no ano passado cerca de US$ 15,2 bilhões, sendo que 60% desse total foram com o uso de cartões de crédito ou débito. Um corte de dois pontos percentuais nas comissões representaria uma economia da ordem de US$ 180 milhões ao ano. A economia traria alguma recomposição de margem e viabilizaria o congelamento ao menos por mais 30 dias.

De acordo com levantamento realizado pela ONG Consumidores Livres, que enfrenta um processo do governo por divulgar tabelas de preços que contradizem o desacreditado índice oficial, entre os dias 1º de fevereiro e 15 de março houve um aumento médio de 0,89% nos preços de uma cesta básica de 38 produtos de supermercado.

"No mesmo período no ano passado a variação havia sido de 3,9%", disse o diretor da ONG, o ex-deputado Hector Polino, do oposicionista Partido Socialista. Segundo Polino, "os problemas de desabastecimento, que afetam o açúcar, a erva-mate e o óleo de girassol, são anteriores ao congelamento". Para Polino, "as grandes redes varejistas estão queimando a gordura do grande reajuste que fizeram em janeiro e havia muito espaço para reduzir a margem". A ONG calculou um reajuste médio de 1,66% em sua cesta de produtos.

Em janeiro, as empresas de consultoria estimaram um índice de inflação da ordem de 2,7%, que teria sido reduzido para 1,2% em fevereiro. Segundo os dados do Indec, o instituto de estatísticas do governo, a variação de preços foi de 1,1% em janeiro e 0,5% no mês passado.

Entre economistas, prevalece o ceticismo em relação ao fôlego das manobras de Moreno para conter a inflação. "Qualquer congelamento provoca distorções nos preços relativos e desabastecimento da economia a longo prazo, e esse, que não envolve acordo algum com os sindicatos e a indústria, é claramente insustentável", afirmou Mariano Lamothe, economista da empresa de consultoria Abeceb. Segundo Lamothe, " o limite ficará claro depois dos aumentos salariais nas cadeias produtivas envolvidas", previsto entre abril e maio.

"O maior sinal de que esse congelamento não terá efeito na macroeconomia está na formação de expectativas", disse o economista Ramiro Castiñera, da empresa de consultoria Analytica.

A descrença em relação ao congelamento fica evidente no levantamento feito pela Universidade di Tella, divulgado na terça, com base em uma pesquisa de opinião desenvolvida pelo instituto Poliarquia. A mediana dos pesquisados aposta em uma inflação de 33,5% durante os próximos 12 meses. Em fevereiro, a mediana era de 33%.



Veículo: Valor Econômico



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