Se ao longo do ano o mercado chegou a projetar uma inflação acima do teto da meta de 6,5%, a prévia da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), divulgada na sexta-feira parece ter acabado com essa possibilidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15 teve alta e 0,29% em dezembro, ante 0,49% no mês passado. No acumulado do ano, o índice subiu 6,1%, abaixo do teto da meta, mas acima do verificado em 2007, de 4,37%.
A forte desaceleração dos preços dos alimentos contribuiu para a queda no ritmo de alta do IPCA-15. O preço de produtos alimentícios passou de alta de 0,90% no mês passado para alta de 0,34% agora, com uma contribuição de 0,08 ponto percentual para o índice. Segundo o IBGE, entre os produtos alimentícios, o feijão carioca, que já havia tido queda de 2,54% em novembro, ficou ainda mais barato em dezembro, com queda de 21,15%, enquanto o tipo preto, 7,65% mais caro em novembro, caiu 4,71% em dezembro.
No caso dos produtos não alimentícios, a alta em dezembro foi de 0,28%, ante 0,37% no mês anterior. Houve desaceleração em itens como artigos de limpeza (de 0,91% em novembro para 0,79% em dezembro), aluguel (de 0,84% para 0,56%), gasolina (de alta de 0,33% para queda de 0,12%), álcool (de 0,75% para -0,29%) e automóveis usados (de -1,10% para -2,57%).
Para o economista da LCA Consultores Fábio Romão, a desaceleração dos preços foi um movimento atípico. Isso porque, segundo ele, nesta época do ano a inflação deveria estar percorrendo um caminho de alta, não declinando. Na visão do economista, essa é uma clara evidência de que as últimas quedas dos preços agrícolas no atacado estão sendo repassadas para o varejo.
Por isso, a LCA está mantendo a sua projeção de 0,33% para o IPCA fechado deste mês, mas já adotou um viés de baixa na sua projeção. "Trata-se de uma bela desaceleração", disse o economista da LCA sobre a queda dos preços de alimentos. "Mas é claro que não é só esse efeito baixista do atacado para o varejo que define a queda da demanda. O aumento da taxa de desemprego, conforme anunciou o IBGE, também nesta época do ano não é normal", adverte.
O economista-chefe do SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, concorda a surpresa provocada pela desaceleração nos preços dos alimentos. "A taxa do grupo alimentação deu uma boa recuada e veio abaixo do que imaginávamos. Vimos quedas bem fortes na parte de cereais e de alguns legumes, além de as carnes bovinas apresentarem uma boa desaceleração na alta dos preços", listou Camargo, que havia projetado uma elevação de 0,38% para o indicador geral.
Veículo: DCI