O ano de 2008 apresentou altos e baixos para o segmento de leite em Minas Gerais. Até o final do primeiro semestre os produtores começararam a recuperar as perdas mas, logo em seguida, voltaram a enfrentar problemas devido aos baixos preços praticados no mercado. A avaliação foi do presidente da Comissão Técnica de Pecuária de Leite da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Eduardo Dessimoni.
De acordo com Dessimoni, em janeiro de 2008 o litro estava em torno de R$ 0,71 e foi sofrendo alta até junho, quando chegou a R$ 0,78 por litro. Desde então, os preços começaram a sofrer redução chegando a patamares médios em torno de R$ 0,59 no Estado. "No mesmo período do ano anterior, o litro de leite estava sendo comercializado a R$ 0,72. Em setembro do ano anterior, o litro de leite chegou a ser comercializado a R$ 0,83 em Minas Gerais", comparou.
O cenário começou a se deteriorar para os produtores a partir do segundo semestre deste ano, afirmou o dirigente. "As crises foram sistemáticas e os insumos começaram a apresentar muitas altas. Como forma de sobreviver, os produtores estavam fazendo o leite chegar aos laticínios com temperatura de 8 graus, o que aumentavam os custos mas melhorava a qualidade do produto", salientou.
Além disso, para sobreviver em um mercado cada vez mais exigente, os produtores acabaram obrigados a investir para acompanhar a demanda, explicou Dessimoni. "O padrão necessário gera custos mais altos. Enquanto isso, os custos de produção do litro de leite em Minas Gerais estão entre R$ 0,70 e R$ 0,76, valor superior ao preço pago atualmente pelo produto no mercado", afirmou.
De acordo com Dessimoni, a crise no setor leiteiro começou antes mesmo da crise financeira internacional chegar ao país. Segundo ele, o segmento foi afetado principalmente pelos preços praticados no mercado internacional, que fez com que a tonelada de leite em pó fosse comercializada a US$ 5,7 mil, viabilizando a produção em todo o mundo. "A produção mundial aumentou para atender a demanda e com isso os preços começaram a cair, voltando ao patamar de US$ 2 mil em função da grande oferta", explicou.
O cenário é crítico para o setor e a crise financeira está se espalhando, afetando todos os setores da economia, contando com o agravante da falta de crédito, ponderou. "Por isso, os produtores estão sendo obrigados a liquidar os custeios sem prespectivas de renovação de crédito, o que agrava mais ainda a situação. Ainda é difícil de avaliar o que poderá ocorrer, pois ainda existe muita expectativa no ar", alertou.
Outro problema recorrente nesse momento de crise é o medo, que está fazendo com que muitos produtores deixem de investir. Para o dirigente, antes da crise leiteira, o desenho era de demanda forte enquanto hoje o país continua produzindo em escala menor uma vez que a perspectiva é de queda na demanda. "Tudo dependerá de como o consumo de lácteos irá funcionar no mundo, pois a crise financeira afeta mais os países desenvolvidos que os em desenvolvimento", apontou.
Produção menor - Para 2009, o dirigente acredita que, em função das crises, o efeito será de redução na produção em função do desestímulo, alertou Dessimoni. "Já existem casos de produtores vendendo matrizes que possuem produção menor. A estimativa de encerrar 2008 com alta de produção entre 3% e 4% terá que ser revista, pois houve danos no setor. No ano passado foram produzidos 7,4 bilhões de litros em Minas e este exercício haverá redução em função dos seis meses de preços baixos", advertiu.
O saldo das exportações de lácteos acumuladas até outubro foram de US$ 253 milhões, ante o mesmo período de 2007 que registrou US$ 122 milhões. O dirigente acredita na possibilidade de alcançar volume de negócios da ordem de US$ 500 milhões, com o saldo podendo chegar a US$ 300 milhões neste exercício. "As possibilidades são boas uma vez que as exportações, mesmo com preços inferiores, continuam se mantendo", projetou.
De fator positivo, o cenário indica que nos ativos agropecuários a melhor das perspectivas é do segmento lácteo, pois o consumo se mantém forte. "Países como a China e a Índia continuam demandando, fazendo com que o leite não seja o pior produto da crise. Por exemplo, o preço dos grãos continuam caindo, o que beneficia a pecuária leiteira", ponderou. (RM)
Veículo: Diário do Comércio - MG