A Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras e um dos maiores acionistas da BRF, acredita que a companhia "vai muito bem". "Falando como acionista da BRF, a Petros não vê necessidade de mudanças drásticas. É lógico que tudo pode ser melhorado, mas não vemos a empresa com algum problema. A BRF é uma solução'", afirma Carlos Fernando Costa, diretor de investimentos da Petros.
Esta é a primeira vez que um executivo do fundo de pensão se manifesta sobre a polêmica em torno da eleição do conselho da empresa. Há cerca de três meses, surgiram as primeiras informações sobre um desalinhamento entre as visões dos três maiores acionistas da BRF. De um lado estaria a Petros, que tem 12,74% da companhia. Do outro, o fundo de pensão Previ (12,21%) e a gestora de recursos Tarpon (8%). Os dois últimos gostariam e defendem mudanças de gestão, com a BRF tornando-se global e simplificando seu processo decisório.
Juntos, Previ e Tarpon indicaram Abilio Diniz, presidente do conselho do Pão de Açúcar, para ter a mesma função na BRF. A iniciativa abriu a polêmica sobre um conflito de interesses nas atividades do empresário, já que uma companhia é cliente da outra.
Em reunião de conselho da BRF, Luís Carlos Fernandes Afonso, que é presidente da Petros e representante do fundo na empresa, manifestou que, embora não possuísse restrições aos nomes indicados para compor o próximo conselho da BRF, entendia que a discussão sobre quem será o presidente poderia ser mais amadurecida, em busca de consenso.
"Essa foi a opinião dada pelo conselheiro. A Petros não se manifestou, uma vez que o conselheiro não tem voto indicativo e não houve uma reunião prévia para orientá-lo. Por coincidência, ele é presidente da Petros e, em tese, a avaliação dele tem aderência com o pensamento do fundo. No entanto, a Petros como instituição vai se posicionar somente na assembleia, dia 9, e conforme o que avaliar que seja melhor para a empresa", diz Costa.
"Se naquele momento entendermos que o Abilio é o nome ideal, votaremos nele. Se entendermos que não é, não votaremos", diz. Costa destaca ainda que a questão do conflito de interesses foi delegada para a BRF, para que ela dê sua avaliação, conforme prevê seu estatuto. "É uma questão obviamente polêmica, que foi direcionada à empresa e não cabe à Petros manifestar-se sobre isso", afirma.
Ele acredita que a BRF é uma empresa "redonda", com governança, mas acabou exposta sem motivos. "Se ela pode ficar melhor, é claro que sim. Mas não faz sentido falar em ruptura, não é esse o caso. Há sentido em falar no que é melhor para a BRF. Foco no exterior é natural para uma companhia do porte dela. Pode se discutir se é melhor ser mais ofensiva aqui ou ali, mas é uma questão de ajustes", diz o executivo. Para ele, inclusive, o debate aberto no mercado pode transparecer que há um descontentamento dos acionistas com a BRF. "Da parte da Petros, não há", afirma.
Costa frisa ainda que a convivência dos fundos não está nem estará de forma alguma prejudicada. "Estamos de acordo que em nenhum momento opiniões divergentes entre nós afetarão a companhia. Ela está acima de qualquer discussão, e as decisões buscarão o que for melhor para ela".
Para ele, Petros, Previ e Tarpon são fundos grandes, que defendem suas opiniões. "Termos pontos que não são comuns é normal. Mas essa é uma discussão conceitual. Uma vez acertada e a partir do dia 9, será vida que segue. Tanto na BRF como em nossa convivência em qualquer outro investimento em comum. Ninguém está de mal", disse.
O executivo da Petros destaca que a BRF é uma empresa grande, com mais de 100 mil funcionários e uma gama imensa de setores em que atua. "Obviamente que tem problemas, como várias outras companhias. Existem alguns projetos a serem desenvolvidos. Se precisa ser mais rápido, mais lento, se algum foco deve ser alterado, se algumas questões devem ser modificadas, isso é natural", diz.
Há uma concordância entre Tarpon, Previ e Petros de que não é preciso fazer uma mudança brusca de rumos na empresa - é o que Abilio Diniz tem dito aos mais próximos, apurou o Valor.
Seriam necessárias novas medidas para preparar a empresa para uma fase de crescimento mais acelerado. Uma nova estrutura corporativa deve ser criada na BRF. Projeto em discussão há mais de um ano prevê a criação de um "headquarter global", que pode ser presidido por José Antonio Fay, e as subsidiárias da empresa ficarão abaixo dessa estrutura central - inclusive a operação brasileira. Se Abilio for eleito para presidir o conselho, também podem existir mudanças no modelo de gestão, dando maior poder para pessoas-chave, com descentralização de decisões e redução de hierarquias.
Veículo: Valor Econômico