Há uma semana, o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues disse a uma plateia de empresários em evento na sede da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) que o Brasil tem plenas condições de ser o grande fornecedor de grãos para o mundo nas próximas décadas, desde que superadas dificuldades regulatórias e jurídicas. Ontem, no seminário A realidade do pré-sal, promovido pela entidade, as análises dos conferencistas foram na mesma direção: o País pode igualmente estar entre os maiores fornecedores de petróleo e gás natural nos próximos anos, desde que vencidos obstáculos institucionais, financeiros e tecnológicos para a exploração dos recursos do pré-sal.
Participaram do evento, que praticamente lotou dois auditórios na sede da entidade, o presidente da ACSP e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Rogério Amato; o vice-presidente da ACSP, coordenador do Conselho de Infraestrutura da entidade e presidente-executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), Luiz Gonzaga Bertelli; o gerente-geral da Unidade de Operações de Exploração e Produção da Bacia de Santos da Petrobras, Oswaldo Kawakami; o assistente da diretoria da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Guilherme Papaterra; o ex-presidente da Petrobras e presidente do conselho de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Armando Guedes Coelho; o ex-ministro das Minas e Energia e ex-presidente da Petrobras Shigeaki Ueki; e o conselheiro da ACSP Plínio Mário Nastari. Amato enfatizou a importância do evento, destacando a importância do tema que influencia a vida de todos os brasileiros. Bertelli demonstrou preocupação com a atual política de preços dos combustíveis adotada pelo governo, que disse considerar pouco sensata. Ele lembrou do congelamento do preço da gasolina e do óleo diesel e dos prejuízos que a Petrobras acumulou nos últimos anos importando combustíveis para vendê-los a preços mais baixos no mercado interno.
Fornecedor mundial – Atualmente, 60% da matriz energética mundial está baseada em petróleo e gás, cenário que não deve mudar muito em um período de 30 a 40 anos, destacou em sua apresentação Guedes Coelho. "A matriz energética mundial continuará predominantemente baseada em petróleo e gás. Essa previsão abre muito espaço para expansão em toda a cadeia ligada ao setor", disse.
A descoberta do petróleo do pré-sal, em 2006, mudou o panorama energético para o Brasil, ao acrescentar 35 bilhões de barris às reservas até então conhecidas, de 15 bilhões de barris. Com reservas de 50 bilhões de barris, o Brasil fica entre o 7º e 8º lugares entre os principais países produtores. A existência de reservas, porém, não garante a produção. "Como a exploração de petróleo é cara, estima-se que apenas entre 30% e 35% das reservas efetivamente saem dos poços no mundo", disse.
Hoje, a produção de petróleo do pré-sal brasileiro chega a 100 mil barris diários, o equivalente a 5% da produção diária de 2 milhões de barris. Em 2020, o pré-sal deve ser responsável por 28% dos 4,2 milhões de barris produzidos por dia. Segundo o assessor da diretoria da ANP, já saíram dos poços do pré-sal, das primeiras operações em 2008 até o fim de 2012, cerca de 130 milhões de barris de petróleo. "O pré-sal já é uma realidade", disse Papaterra. A projeção é que em dez anos o óleo do pré-sal represente pelo menos 50% da produção brasileira.
As limitações para a exploração do pré-sal, na visão de Coelho, estão relacionadas a questões de diversas ordens. As questões regulatórias (incluindo decisões sobre royalties e partilhas) são consideradas de extrema importância pelo fato de a área de petróleo exigir das empresas planejamento de longo prazo. Outro fator está relacionado às demandas financeiras: considerando investimentos de US$ 10 a US$ 20 para cada barril de petróleo a ser produzido, estima-se que o pré-sal exija US$ 450 bilhões, recursos que, sozinho, o Brasil não pode bancar.
Há, ainda, as questões da caríssima tecnologia de exploração em águas profundas, da mão de obra especializada e da logística. "O pré-sal é um projeto estratégico, de longa duração, e sua sustentabilidade está relacionada à capacidade do País de criar um ambiente de atratividade de investimentos. O desenvolvimento do pré-sal pode colocar o Brasil em uma posição ímpar do contexto mundial: baixa população, grande produtor de alimentos e de energia. Não podemos falhar nesse objetivo", disse Coelho.
O ex-ministro Ueki centrou sua apresentação nas preocupações com as condições atuais, diante do cenário de interferência política e de uso da empresa para outros fins diversos da produção de energia de petróleo e gás. "Não se pode usar uma companhia como a Petrobras para controles de variáveis macroeconômicas. Isso pode destruir a capacidade da empresa de fazer seu trabalho", afirmou.
O executivo da Petrobras Kawakami apresentou a estrutura de operação, produção e transporte de petróleo e gás da Bacia de Campos, que se estende por 350 mil quilômetros quadrados do litoral do Sudeste. Só a área do pré-sal tem 150 mil quilômetros quadrados na bacia. Ele destacou os altos investimentos da Petrobras para garantir a segurança das operações e a modernização de áreas em terra.
Veículo: Diário do Comércio - SP