As quatro maiores empresas de shopping centers do país com capital aberto - BRMalls, Multiplan, Iguatemi e Aliansce - anunciaram captações recordes de recursos neste ano. As transações, ofertas primárias de ações e emissão de debêntures, acumulam de janeiro a abril R$ 2,13 bilhões, com algumas operações ainda em andamento. Em todo o ano passado, as captações das quatro companhias somaram R$ 1,95 bilhão.
Até então, 2012 era o ano com maior volume captado. Ontem, a Iguatemi Empresa de Shopping Centers anunciou uma emissão primária que deve superar os R$ 500 milhões. Essa montanha de recursos no caixa das companhias deve ser aplicada na abertura de novos shoppings pelo país nos próximos dois anos, em expansões e reformas.
Para se ter uma ideia da movimentação desse mercado hoje, as empresas têm anunciado a abertura de até três shoppings ao ano (média de dois ao ano) e as expansões de áreas chegam a atingir seis empreendimentos por ano (a mé dia é três). Duas reformas convencionais de shoppings no país atualmente equivalem, em metragem, à abertura de um novo empreendimento de grande porte.
A Abrasce, associação do setor, prevê 46 inaugurações em 2013, de empresas de capital aberto e fechado (foram 27 em 2012). "Não há dificuldade do setor em conseguir recursos no mercado hoje. Nós consideramos a hipótese de um 'follow on' [emissão de ação] já em 2013 ou 2014, com recursos que podem ser aplicados na compra de novos terrenos ou M&A [sigla para fusões e aquisições]", diz José Baeta Tomás, presidente da Sonae Sierra Brasil, com oito shoppings no país e dois em construção, para abertura neste ano.
Nesse cálculo das novas captações um fator em especial tem peso: é caro montar um shopping no Brasil. Um empreendimento padrão, com 180 a 200 lojas, não sai por menos de R$ 250 milhões. Há três anos, custava de R$ 190 milhões a R$ 200 milhões. Encarecimento dos terrenos nas grandes capitais, altas nos preços da matéria prima (só o aço subiu em média 12% em 2013) e da mão de obra fizeram o custo subir. Daí a opção de buscar recursos com investidores no mercado, o capital mais barato disponível hoje no mercado, diz um executivo do setor. Isso fica mais fácil ao se considerar os resultados financeiros recentes das empresas, com alta das receitas de 20% a 30% em 2012 e expansão no lucro operacional de 15% a 20%, a depender da empresa analisada.
O valor de R$ 2,13 bilhões das operações anunciadas no primeiro quadrimestre é 75% superior ao montante registrado no mesmo período do ano passado. Os números foram obtidos pelo Valor com base nos informativos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O anúncio ontem da Iguatemi ajudou a reforçar esse montante. A empresa informou que fará uma emissão de ações, com lote suplementar e adicional, que pode chegar a R$ 518 milhões, com base na cotação das ações ordinárias da empresa ontem. São recursos que vão para o caixa da empresa, cujo plano de expansão foi comentado ontem pelo comando.
"Há três expansões de shoppings em andamento hoje [com inauguração em 2014], além da construção de uma torre comercial para abertura em 2015", disse a analistas Carlos Jereissati Filho, presidente da Iguatemi, que abrirá dois empreendimentos neste ano. A empresa anunciou dias atrás a entrada no segmento de outlets. Na Aliansce, o plano é repetir a dose de 2012, com mais três aberturas de shoppings e seis ampliações de áreas em 2013 - ela é a empresa com o projeto mais agressivo no ano. A Multiplan deve inaugurar um empreendimento e ampliar outros dois. Maior empresa do setor, a BRMalls planeja uma abertura e quatro expansões (que equivalem à criação de dois shoppings).
Apesar dessa movimentação, analistas reforçam que as empresas do setor têm registrado perda de valor de mercado em 2013. A recente queda na cotação de ações das cinco companhias abertas refletiu a expectativa de alta da taxa de juros em 2013 e da subida da inflação - pontos que começam a afetar os resultados de redes varejistas. No acumulado de 2013, houve queda média de 10% no valor de mercado de BRMalls, Multiplan, Iguatemi, Aliansce e Sonae Sierra - somados o valor de mercado de todas chegou ontem a cerca de R$ 28 bilhões. Relatório de analistas do Banco Espírito Santo reforça que a oscilação na cotação é pontual e reflete basicamente a alta dos juros.
Veículo: Valor Econômico