O segmento de logística, por ser diretamente ligado a melhorias de infraestrutura necessárias para o país, está no radar de alguns analistas pelo potencial de valorização no médio e longo prazos. "O setor tem muito a crescer e a ganhar, dadas as intenções do governo de realizar investimentos nessa área", diz Mario Bernardes Junior, analista do BB Investimentos. Segundo ele, o BB tem uma visão positiva sobre o setor para os próximos três anos, dada a iminência de investimentos, a alta demanda e a expectativa de crescimento econômico.
Mitsuko Kaduoka, diretora de análise de investimentos da BI&T Indusval e Partners Corretora, concorda. "De uma forma geral, não se pode dizer que os múltiplos das companhias abertas de logística estão baixos. Entretanto, percebo que no médio prazo eles tendem a cair. O motivo é o fato de essas empresas passarem a gerar resultados mais robustos do que estão gerando hoje", diz ela. Mitsuko argumenta que a situação crítica enfrentada, por exemplo, por empresários do agronegócio, com dificuldade para escoar a sua produção, não deve persistir. "Não deveria, pelo menos. Do contrário, o país vai parar", diz Mitsuko.
O analista Gabriel De Gaetano, da Fator Corretora, diz que a situação da logística não tem como piorar. Ele lembra que, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, já é uma das piores do mundo. No ranking de eficiência e qualidade portuária do Fórum, o Brasil ocupa a 135ª posição entre 144 países.
Para Gaetano, a possibilidade de os portos passarem a atuar todos os dias e durante as 24 horas é um sinal muito positivo. A medida entrou em pauta na semana passada, quando foi incluída no debate da Medida Provisória (MP) 595. No fim de semana passado, foi feita uma primeira experiência, com o Porto 24 Horas. O projeto foi implantado em três terminais públicos: Santos (SP), Rio de Janeiro e Vitória (ES). Pela proposta, as empresas e órgãos públicos que prestam serviço, como Receita Federal e Ministério da Agricultura, também passam a funcionar todos os dias.
O expediente maior permitirá reduzir o gargalo do escoamento das exportações, visível nas filas de caminhões nas rodovias que levam aos portos, e também contribuiria para aumentar o fluxo e a receita de operadoras portuárias como a Log-In, a Santos Brasil e a Wilson Sons, na visão da Fator. "Antigamente, as embarcações que chegassem na sexta-feira após as 18h tinham de esperar o término do fim de semana para desembarcar as cargas que trazia e embarcar as novas. Desta forma, a restrição de horários gerava receita aos terminais, pela armazenagem durante o fim de semana, mas reduzia o giro uma vez que dificultava a entrada de novas cargas", diz Gaetano.
Ele acredita que a expansão do horário de funcionamento tenha um impacto ainda mais positivo para a Santos Brasil, porque o Terminal de Contêineres do Porto de Santos, o maior da América Latina, "sofre mais com filas devido à alta demanda em virtude de sua localização e por conta da limitação das vias de acesso".
Gaetano também afirma que a medida tende a beneficiar a Log-In. A companhia tem entre as principais atividades o transporte intermodal de contêineres e a navegação costeira, a chamada cabotagem. Com a ampliação do horário de funcionamento, a Log-In poderá ter um aumento em seus negócios. "A medida terá reflexo também nos negócios de 'feeder' [serviço marítimo de distribuição das cargas e de abastecimento dos principais portos] e operações de cabotagem, viabilizando maior rentabilidade de seus ativos, como as embarcações, por meio da diluição de custos fixos", diz Gaetano.
Entre as ações preferidas do setor pelo analista da Fator, a principal é a Wilson Sons. A recomendação é de compra. "A empresa é muito diversificada. Atua em sete negócios diferentes, alguns deles com alto potencial de crescimento neste ano", afirma Gaetano. Um deles é o terminal de Salvador, ampliado no ano passado.
A segunda ação preferida é a da Santos Brasil. O analista rejeita a ideia de que a companhia vive uma situação delicada diante da concorrência dos novos terminais BTP (Brasil Terminal Portuário) e da Embraport. "A Santos Brasil é a minha segunda recomendação de compra. Vejo que o papel está sendo precificado com uma queda pesada da receita em 2013, em razão da BTP e Embraport. Mas não acredito que isso vá acontecer, por alguns fatores. Um deles é o fato de existir uma demanda reprimida muito grande nessa região", diz Gaetano. No guia de ações da corretora do HSBC, os papéis da Santos Brasil estão entre os que apresentam potencial de valorização ao longo deste ano, se levado em conta o preço-alvo de consenso do mercado no dia 22 de abril.
Outras operadoras logísticas também merecem a avaliação do investidor. Uma empresa que está no radar do BB Investimentos é a JSL (Júlio Simões Logística). "É uma das companhias do setor de logística e transporte mais diversificada e que mais cresceu. Nos últimos três anos, a receita líquida consolidada subiu 26% ao ano, em média", escreve Bernardes. Para o analista, um dos principais riscos para a empresa, assim como para todo o setor de logística, é a deterioração do cenário econômico.
Veículo: Valor Econômico