Após 42 anos no comando da Grendene, os irmãos gêmeos Alexandre e Pedro Grendene anunciaram ontem que deixaram a presidência e vice-presidência, respectivamente, da fabricante de calçados. Os acionistas, ambos com 63 anos, permanecerão no conselho de administração, ocupando os dois principais cargos.
O novo presidente é o engenheiro Rudimar Dall'Onder, 56 anos, que há três décadas trabalha na Grendene e, até então, era o diretor-operacional da empresa. "Não haverá mudanças. O grupo está muito afinado e o modelo de negócios vem entregando resultados, não vejo razão para mudanças", disse o novo presidente da companhia ao Valor.
O cargo de vice-presidente será ocupado por Gelson Luis Rostirolla, ex-diretor das áreas administrativa, controladoria e financeira. Rostirolla também está na Grendene há 30 anos.
Questionado se o mercado vinha cobrando mudanças na governança da empresa, Dall'Onder informou que se trata de um "processo natural de sucessão". Pelas novas regras que começam a valer em abril de 2014 não será mais possível um executivo ocupar cargos na diretoria executiva e no conselho ao mesmo tempo, como acontecia na Grendene.
Os irmãos Grendene deixam o dia a dia do negócio em um momento em que a fabricante de calçados passa por uma boa fase. A empresa encerrou o primeiro trimestre com um lucro líquido de R$ 102,3 milhões, um crescimento de 24,7% em relação ao mesmo período do ano passado. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 98,1 milhões, alta de 55,3%.
A receita líquida aumentou 22,8% para R$ 485,8 milhões. O resultado é bem superior ao desempenho do setor de calçados, que amargou no ano passado uma queda entre 1% e 2% - neste começo deste ano as estimativas apontam para um crescimento de no máximo 5%. Na Grendene, as vendas em termos de volume tiveram alta de 29% no primeiro trimestre.
"Conseguimos esse resultado graças ao aumento de 'market share'", disse Francisco Schmitt, diretor de relações com investidores da Grendene, que também ganhou novas funções na reestruturação. Schmitt agora acumula as áreas que pertenciam a Rostirolla.
O preço médio dos sapatos da Grendene, entre janeiro e março, caiu 5,6% para R$ 11,48. Mas, segundo Schmitt, não foi essa redução de preços o responsável pelo aumento de "market share". O executivo observou que o valor médios dos calçados caiu porque neste começo de ano o verão foi mais intenso e com isso foram vendidos mais chinelos, cujo preço médio é inferior aos demais tipos de calçados.
"Oferecemos produtos com preços mais competitivos porque hoje temos uma estrutura mais eficiente, com melhor automação de processos, maquinário moderno e sistema logístico eficiente", disse Schmitt.
Outro fator que tem contribuído para o bom desempenho da empresa é que a Grendene tem conseguido trocar rapidamente no varejo os modelos de sapatos que não estão sendo bem aceitos pelos consumidores. "Investimos em design moderno até para concorrer com os chineses. Um calçado chinês leva cerca de 75 dias para chegar no Brasil, tempo suficiente para mudar a moda", disse o executivo.
Do total de 52,6 milhões de pares vendidos pela empresa no primeiro trimestre, 37,5 milhões foram comercializados no mercado interno e os outros 15,1 milhões foram exportados. Lá fora, a estratégia é oferecer produtos com maior valor agregado e design moderno.
Veículo: Valor Econômico