Os produtos destinados para a volta às aulas não serão impactados com a queda de demanda provocada pela crise financeira global. Tanto os fabricantes de papéis, quanto os fabricantes de cadernos têm motivos para comemorar. Além do aumento do volume de vendas no período, a nova taxa cambial - com o real desvalorizado - irá beneficiar as exportações dos produtos que vinham perdendo competitividade no mercado internacional.
O fato segue na contramão da situação vivida pelos produtores de celulose - alguns também produtores de papéis -, que ampliaram a produção durante o ano todo e foram um dos setores mais afetados com a queda mundial pelo insumo.
Outro fator que ainda anima os produtores nacionais de papéis é a forte paralisação de linhas de produção de fabricantes europeus e norte-americanos, que seguiu ainda mais forte durante o mês de dezembro, fato que reflete a desaceleração da economia mundial. Essa diminuição da produção internacional, por outro lado, beneficia os produtores de brasileiros de papel, que ganham força no mercado internacional. Empresas como a Suzano e Votorantim Celulose e Papel (VCP) oferecem o papel mas também a celulose, cuja demanda desabou nos últimos meses por conta da crise.
Nesse período, ainda, além dos reflexos conjunturais da economia, a volta às aulas impulsionam ainda mais os negócios. Para a fabricante International Paper (IP), esse período corresponde por 15% das vendas de papel off-set. "Nós temos um movimento importante em janeiro e fevereiro", afirma o diretor comercial da companhia, Nilson Cardoso.
De acordo com o executivo, as vendas de papel com esse destino iniciadas em geral no mês de agosto teve um novo impulso registrado com o Programa Nacional do Livro Didático.
Já para a fabricante Suzano, o volume de vendas destinado ao material escolar corresponde por 10% do volume total das vendas da companhia. O crescimento será de 50% em relação ao volta às aulas deste ano. "Nós mudamos toda a linha e estamos com nova campanha. Nosso grande consumo continua no corporativo", afirma Marco Antonio de Oliveira, gerente comercial de papel da Suzano. Segundo o executivo, a empresa pretende buscar novas estratégias para ampliar a participação de seu papel nesse mercado voltado às escolas.
Oportunidade
Os fabricantes de papel acreditam que a nova cotação do dólar será um adendo para os negócios de um de seus principais clientes: os caderneiros. A nova taxa cambial pode ajudar para que eles consigam se dar bem não só no mercado brasileiro. "Nós teremos alguns efeitos indiretos com a crise. Um deles é que nossos clientes caderneiros se beneficiem com a nova taxa cambial e aumentem suas exportações. Com isso, eles irão comprar mais", afirma o diretor financeiro a International Paper, Pierre Roulet.
A expectativa da fabricante de caderno Faroni é que as exportações passem a representar 20% do faturamento da empresa. Neste ano, a participação do mercado externo ficou em 10%. "Há três anos a gente já chegou a exportar muito mais e a exportação já chegou a representar entre 30% e 35% do faturamento", afirma Marici Faroni, diretora de Marketing da empresa.
O volta às aulas tem um impacto muito grande no desempenho da empresa ao longo do ano. O volume de vendas chega a representar 65% do faturamento anual da Faroni. Para 2009, o crescimento será de cerca de 34% em relação ao período de vendas anterior. "Realmente a gente não pode reclamar. Não sofremos nada com essas notícias de crise financeira", diz a diretora.
De acordo com ela, as exportações da empresa ocorrem entre os meses de fevereiro a junho - período em que as vendas no Brasil estão estagnadas.
"A produção de cadernos nesse período é para exportação. Antes, com o dólar desfavorável, a nossa exportação não foi muita, pela falta de competitividade", afirma Marici.
Enquanto alguns setores estão demitindo e promovendo amplas férias coletivas para ajustar a produção à nova demanda, a Faroni contratou 155 funcionários temporários para viabilizar os três turnos de trabalho.
Já a fabricante Bignardi destina 40% da produção ao mercado externo, vendas concentradas nos meses entre março e junho.
"Devemos pelo menos manter esse nível. Nós já vínhamos com capacidade máxima de disponibilidade", afirma o gerente de Marketing Ivan Bignardi.
Reflexos da crise
Alfried Plöger, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf), explica que o pagamento das papelarias, livrarias e distribuidores são realizados somente em fevereiro e março, após o início das vendas diretas. "A cadeia depende do comportamento do consumidor final para saber se houve retração nas vendas de produtos escolares", analisa.
Dessa forma, somente no mês de fevereiro de 2009, de acordo com a entidade, será possível saber se houve ou não retração do setor, por conta da crise financeira internacional, no consumo de cadernos e produtos editoriais, os principais comercializados pelo setor gráfico no período de volta às aulas.
"Os pedidos pelos canais tradicionais e distribuidores são feitos, em geral, até quatro meses antes de encerramento do ano. Naquela época, não havia ainda efeitos da crise no País", explica o presidente da Abigraf.
Os produtos destinados para a volta às aulas não serão impactados com a queda de demanda da crise global. A nova taxa cambial irá beneficiar as exportações de cadernos e papéis.
Veículo: DCI