Fabricantes devem ser os próximos na lista de ajuda que o governo federal deve anunciar para driblar a crise
O governo estuda detalhadamente, há cerca de três meses, vários setores da economia com o objetivo de montar um plano de ação para conter o impacto da crise financeira no Brasil. Foi a partir desses estudos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu incentivar a construção civil - preocupado com a queda no nível de emprego - e agora avalia a possibilidade de ajudar o setor de calçados, que sofreu sérios prejuízos quando o câmbio estava baixo, mas já começa a se recuperar com a alta do dólar.
Embora Lula tenha anunciado que apresentará medidas de incentivo ao crescimento até o fim deste mês, ainda não há consenso entre integrantes da equipe econômica sobre o que fazer. O desafio é manter o consumo, impedir o desemprego generalizado e criar condições para as empresas investirem. A ordem do presidente é desonerar investimentos e liberar linhas de crédito, mas o Planalto tem observado com cautela o custo-benefício de cada medida.
Um ministro disse ao Estado que o nó está justamente aí. Em outras palavras: o governo não pode abrir mão de receita sem ter certeza de que o setor a ser beneficiado é gerador de empregos, tem mercado para seus produtos e vai garantir a produção.
Na avaliação de Lula, que tem coordenado as reuniões sobre o assunto, as medidas tomadas até agora - como a isenção de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros populares e a correção da tabela do Imposto de Renda - já surtiram bons efeitos. Para o governo, a mexida na tabela do IR põe mais dinheiro no mercado e beneficia a classe média.
A meta do presidente, agora, é blindar os setores mais estratégicos, na tentativa de impedir quebradeira. Lula insiste, em todos os pronunciamentos, que a recessão não chegará ao Brasil.
Não é um discurso apenas para público externo: nas reuniões reservadas com auxiliares ele também repete o mesmo argumento e diz que o crescimento do País foi construído em bases sólidas.
Apesar de o Orçamento Geral da União indicar uma previsão de expansão do PIB de 3,5%, Lula está otimista: acha que o País crescerá na casa de 4,5% no ano. “A crise coincide com nosso melhor momento”, disse ele, no último dia 22, durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV. “É uma pena, mas, como estamos bem, a situação é menos complicada. (...) Enquanto a maioria dos países ricos está em recessão, o Brasil vai continuar crescendo. É verdade que, com o vento a favor, poderíamos ir mais longe. Mas, mesmo com o vento contra, podemos e vamos seguir progredindo.”
Veículo: O Estado de S.Paulo