Indústria pode lucrar US$ 34 bi com substituição de importações

Leia em 4min 10s

Perda de valor do real em relação ao dólar deve levar produto nacional a tomar 20% do mercado de importados

 

A forte valorização de 46% do dólar nos últimos três meses deverá desencadear uma onda de substituição de importações por produtos nacionais. Economistas e representantes do setor produtivo apontam uma redução entre 10% e 20% do volume de importações com o novo patamar do câmbio, acima de R$ 2. Isso significaria um ganho de até US$ 34 bilhões por ano para a indústria brasileira, conforme cálculos feitos com base nos últimos números da balança comercial.

 

Entre os produtos que mais deverão ser beneficiados estão insumos como papel, aço, tecidos, máquinas e equipamentos, pequenos eletrodomésticos, alimentos e brinquedos. “Em alguns casos a substituição de importação tende a ser imediata, como é o caso de alimentos e bebidas”, avalia o diretor do departamento de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz.

 

No setor têxtil, a substituição de importação tem sido vista como uma grande oportunidade para retomar o mercado perdido para os chineses nos últimos anos. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) estima que o setor vai crescer mais que o Produto Interno Bruto (PIB) em 2009, especialmente por causa da demanda maior das confecções pelo tecido de fabricação nacional.

 

“Qualquer fatia de mercado que a indústria recupere representa um volume de produção grande e muita gente empregada”, argumenta o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário (SindiVestuário), Ronald Masijah. As empresas brasileiras têm 94% do mercado nacional e produzem 6,4 bilhões de peças de roupas por ano.

 

Como o setor têxtil, a indústria de máquinas e equipamentos festeja a possibilidade de reconquista do mercado perdido para os importados. Segundo o vice-presidente da Abimaq, José Velloso Cardoso, com a desvalorização do dólar frente ao real, a indústria local perdeu competitividade e o País passou a importar até produtos com similar nacional. “Agora, com a mudança no câmbio, a importação deixa de valer a pena”.

 

MONTADORAS

 

Nos últimos anos, uma parte da indústria brasileira passou a funcionar como montadora. Empresas importavam componentes e montavam no País, critica o professor da Unicamp Júlio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda.

 

Mesmo em setores nos quais o Brasil tem maior tradição, como o de equipamentos para hidrelétricas, os produtos estrangeiros ganharam espaço. “Com a queda do dólar, estava mais barato comprar algumas peças no exterior e montar aqui”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica, Humberto Barbato.

 

Na indústria de brinquedos Estrela, a reação à alta da moeda americana foi transferir parte de sua produção para a China. “Só tomamos essa decisão pelo efeito câmbio”, afirma o presidente da companhia, Carlos Tilkian. Em 2008, os produtos fabricados no país asiático chegaram a responder por 40% do faturamento da companhia. Segundo Tilkian, esse porcentual pode cair para até 25% em 2009. “Devemos ter mais produção de brinquedos no Brasil.”

 

A Diagnósticos da América (Dasa) também planeja comprar no País reagentes para uso em exames e equipamentos de raio-x. O presidente da companhia, Marcelo Noll Barboza, diz que avalia algumas possibilidades no mercado interno. “Em dois meses, estaremos negociando com os fornecedores”.

 

Segundo Almeida, a indústria nacional pode reverter o processo de aumento das importação. “Nossa indústria é muito competitiva e a substituição de importação pode chegar a 20%”, calcula. A projeção do presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto do Castro, é um pouco mais modesta. Ele estima que a recuperação do espaço ocupado pelos importados fique ao redor de 10%.

 

Os especialistas destacam que essas estimativas levam em consideração a manutenção da cotação do dólar no nível atual. “A substituição só vai ocorrer se a moeda americana permanecer em patamar elevado por algum tempo”, diz Almeida.

 

Outro fator que vai determinar o grau de substituição das importações será o comportamento da economia interna. “Agora há uma paralisia. O efeito desejado deve ocorrer no segundo semestre, quando o câmbio vai nos ajudar para valer”, estima Alessandro Pascolato, presidente da tecelagem Santa Constancia, que abastece confecções em todo o País.

 

O ritmo das substituições também será determinado pelo grau de resistência dos concorrentes estrangeiros, especialmente os chineses. “Não pensem que eles vão assistir à substituição de importação sem fazer nada”, diz o professor da Unicamp.

 

NÚMEROS

46%
foi a valorização da moeda americana em relação ao real, o que torna a indústria mais competitiva frente aos importados

40%
é quanto os artigos fabricados na China representam no faturamento da fábrica de brinquedos Estrela, a maior do Brasil

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


Veja também

Mil itens mais baratos

A Asda, segunda maior rede de supermercados britânica controlada pelo Wal-Mart, reduziu o preço de pelo men...

Veja mais
Varejo e fábricas reduzirão margem para manter consumo

Varejo, fabricantes de equipamentos e consultorias reconhecem que 2009 será um ano desafiador para o comér...

Veja mais
Setor de calçados receberá socorro

Fabricantes devem ser os próximos na lista de ajuda que o governo federal deve anunciar para driblar a crise ...

Veja mais
Klabin busca inovações para conquistar mercados

A Klabin têm planos ambiciosos em relação ao mercado externo em 2009. Mesmo com a crise, a empresa q...

Veja mais
Vendas devem melhorar, afirma estudo

Cada vez que o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, aumenta os juros em um ponto ...

Veja mais
A pêra, entre o doce e o salgado

Passar nas gôndolas hortifrutigranjeiras dos mercados e não reparar nas grandes pêras williams, chama...

Veja mais
APP pretende fortalecer presença no Brasil em 2009

A Asia Pulp & Paper (APP) pretende ampliar a presença no Brasil em 2009. Ao longo deste ano, a empresa chines...

Veja mais
Dobra investimento em mídia alternativa

Quem nunca reparou nos aparelhos televisores, normalmente de tela LCD, que ficam dispostos em meio às gôndu...

Veja mais
Venda de roupa cresce e anima empresários

Para o presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário (Sindivestuário), Ronald Masijah, o mome...

Veja mais