O recomeço da Marisol

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Após uma longa reestruturação que deixou a receita estagnada, empresa quer voltar a crescer

 

Aos 33 anos, Giuliano Donini, está em uma posição que muitos executivos de mais idade almejam: na presidência de uma empresa em movimento. “Em movimento”, como diz o próprio Donini, porque a meta atual da Marisol não é apenas a expansão, e sim consolidar a mudança de um modelo industrial para um modelo que se divide entre produção, varejo e gestão de marcas.

 

Giuliano assumiu a presidência da Marisol, em substituição a seu pai, Vicente Donini, em março - um ano depois do planejamento sucessório feito pelo grupo. “Esperei um ano a mais para assumir a presidência para que a reestruturação da empresa estivesse mais adiantada”, explica. Ele sentou-se na cadeira da presidência com um objetivo bem definido: fazer a Marisol voltar a crescer.

 

De 2005 a 2007, em meio a uma grande reestruturação que incluiu fechamento de fábricas e extinção de marcas pouco rentáveis, a Marisol ficou praticamente parada. A receita estacionou na casa dos R$ 420 milhões. Agora, segundo Giuliano, chegou a hora da expansão. Para 2008, a previsão da empresa já era crescer cerca de 10%. “Nossa meta é chegar a 2011 com um faturamento de R$ 1 bilhão.” O objetivo do executivo também é transformar o grupo em um dos mais lucrativos do setor. “Em média, a lucratividade do setor é de 4%. Os bons conseguem 7%, 8%. Nós queremos chegar a 10%.”

 

Para atingir todas essas metas, uma das hipóteses estudadas pela empresa é a aquisição de novas marcas. “Não descarto a hipótese de adquirir mais marcas, especialmente no segmento luxo”, diz o jovem presidente. “Nos últimos meses, apareceram muitas ofertas.” No entanto, ele não revela nomes e diz que só comprará marcas que tenham relação com o novo formato de negócios do grupo: com grande potencial de crescer no varejo.

 

A nova estrutura da Marisol divide as marcas da empresa em três grupos: consumo (que reúne as marcas populares Marisol, Pakalolo e a rede de lojas de produtos para bebê Blue Pink, recém-adquirida), premium (as marcas de produtos infantis Lilica Ripilica e Tigor T. Tigre) e luxo (biquínis Rosa Chá).

 

O grupo tem ainda sob seu guarda-chuva a rede One Store, uma estratégia de negócios na qual pequenos lojistas multimarcas fazem mudança visual nos pontos-de-venda e ganham orientação da empresa até para atividades cotidianas, como controle de estoque. Em troca, metade da loja vende produtos da Marisol. Atualmente, a rede já conta com 80 lojas.

 

O consultor de negócios de moda Edson D’Agnano acredita que Giuliano Donini assumiu uma Marisol muito mais competitiva. “Esse um ano de atraso, que pareceu um passo para trás, os possibilitará dar dois passos para a frente”, afirma. “O grande desafio dele é entender o mercado de consumo, e saber lidar com monomarcas, multimarcas, cliente final e concorrência.”

 

Atualmente, cerca de 15% do faturamento da Marisol vem do varejo. A meta da empresa é chegar a 50% em 5 anos. “Esse é um movimento comum a várias empresas do ramo, que nasceram como malharias e hoje seguem um caminho parecido com o da espanhola Zara”, diz o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. “É o caso da Marisol, da Hering, da Dudalina. E, além da expansão do varejo, a outra possibilidade de ganho está na criação e gestão de marcas.”

 

Segundo Giuliano, a crise financeira global, até agora, pouco afetou os negócios. “Tivemos mais problemas com as chuvas em Santa Catarina do que com a crise. Sem a enchente, nosso crescimento em 2008 seria de 12%”, afirma. A Marisol tem 2,5 mil funcionários nas fábricas catarinenses, que paralisaram parte das atividades no início de dezembro.

 

No Ceará, há mais unidades que reúnem 2,7 mil funcionários. No total, os produtos e lojas Marisol estão presentes em 3,3 mil cidades brasileiras. “Em um País de 5,5 mil municípios, acho um bom número”, diz o executivo. Mas a ideia, afirma, é expandir esse alcance.

 

NOVOS RUMOS

 

Mudança: A Marisol, que até a década de 90 era basicamente uma fabricante de roupas, tem hoje uma presença forte no varejo e na gestão de marcas

 

Guarda-chuva: Após a reestruturação, as áreas de atuação foram divididas em três - consumo (Marisol, Pakalolo e Blue Pink), premium (Lilica Ripilica e Tigor T. Tigre) e luxo (Rosa Chá)

 

Lojas: Atualmente, cerca de 15% da receita da Marisol vem do varejo, mas a meta é chegar a 50% em cinco anos

 

Crescimento: Empresa prevê ter fechado 2008 com receita de R$ 460 milhões, e meta é chegar a R$ 1 bilhão em 2011

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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