Soja exportada por contêineres tem redução de custos e de tempo

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Na primeira semana do mês, o Estado retomou a exportação de grãos por contêineres, consolidando o envio de cerca de 1,3 mil toneladas de soja, distribuídas em 56 contêineres. Em comparação com a capacidade de um graneleiro, que consegue levar em uma só viagem 60 mil toneladas, o potencial do contêiner parece perder expressão no mercado externo, mas essa concepção vai se dissipando diante dos argumentos favoráveis à modalidade.

Primeiramente, a opção por exportar em volumes menores já representa um bom negócio para pequenos exportadores e importadores. Somando-se a isso o custo reduzido do frete marítimo, mais a agilidade no envio, uma nova perspectiva se desenha: a da exportação sob medida, que atende ao mercado, alcança novos elos da cadeia e contorna deficiências estruturais, agilizando o escoamento da produção.

O navio graneleiro, no entanto, não perde importância. Rodrigo Dall Orsoletta, gerente comercial do Terminal de Contêineres (Tecon) Rio Grande, esclarece que, em maior escala, a exportação por contêiner é inviável. “Para exportar 20 mil toneladas de grãos (o equivalente a um terço da capacidade de um graneleiro) são necessários 910 contêineres”, esclarece. Sem conflitar com as grandes exportações, o contêiner tornou-se uma opção viável, também, para contornar gargalos logísticos que atrasam e dificultam embarques. “Este ano, com uma safra recorde, os navios graneleiros não dão conta de toda produção. Existe uma oferta de produto maior do que a de navios”, afirma Dall Orsoletta.

“Nossos armazéns estão cheios de soja, o grão toma conta dos portos e o contêiner é um caminho para escoar parte dessa produção”, sustenta o consultor de agronegócios João Carlos Kopp. Além de remeter parte da safra, o contêiner ganha dos graneleiros em agilidade.

Um dos argumentos mais fortes é a possibilidade de carregamento da carga em dias chuvosos, o que não ocorre com  os navios. “A gente opera 24 horas por dia, sete dias por semana, faça chuva ou faça sol e, só por questão de segurança, evitamos fazer o procedimento quando há ocorrência de ventos muito fortes, o que ocorre eventualmente”, diz Dall Orsoletta. “Tempo de espera no porto custa diária. Hoje, a espera para um navio de soja é de 40 dias, enquanto uma carga de contêiner vem em uma semana”, compara Kopp.

Célere no embarque, a modalidade, por não depender da estrutura de grandes portos, também atinge mercados importadores que não têm condições de receber grandes embarcações. É o caso de portos com menor infraestrutura em países asiáticos e africanos. O uso do contêiner também colabora para exportação estratégica. Enquanto um navio graneleiro atraca apenas no porto de destino, a remessa de contêineres pode ser despachada para várias localidades em uma mesma viagem, inclusive com a possibilidade de que o navio ancore em um porto e redistribua a carga de contêineres para outras embarcações com destinos variados.

É mais uma vantagem que, no cômputo final, revela redução de custos. O saldo é beneficiado, também, com redução de despesas relativas ao tempo de espera nos portos (de origem e de destino), graças ao embarque mais rápido, e com o preço da operação, reduzido por conta da reutilização de contêineres que são trazidos por importadores e que retornariam vazios aos seus locais de origem. “O armador tem vários contêineres vazios em Rio Grande e, para não ter o custo de levá-los vazios, ele quer utilizar esse contêiner para exportar a soja”, acrescenta Dall Orsoletta.

O gerente comercial do Tecon explica que as tarifas variam conforme a localidade, mas que é possível estimar as vantagens financeiras da operação. “Se comparar o preço de um contêiner para mandar uma carga de 22 toneladas em relação à mesma quantidade por granel, a economia é de cerca de US$ 200”. De acordo com Kopp, o frete marítimo também já é diferenciado. Para enviar uma tonelada de grãos por contêiner, o valor é de US$ 37, contra uma variação entre US$ 40 e US$ 60 para envio da mesma quantidade a granel.

Marcelo Ouriques, superintendente do Corredor Rio Grande do Sul da Brado Logística, que já operacionaliza transportes para embarques em contêineres no Mato Grosso e no Paraná - e que incluiu a modalidade no portfólio de serviços ofertados no Estado desde o início do mês -, estima uma redução de custo total de 20% a 25%. A Brado prioriza o modal ferroviário no transporte entre a origem do produto e o porto do Rio Grande, e esse diferencial também entra no saldo final. “Esse é um custo menor do que se a operação fosse feita pela rede rodoviária e por navio graneleiro”, destaca Ouriques. A empresa fez um embarque de 300 toneladas de grãos por contêineres na primeira semana de maio pelo porto do Rio Grande.


Modalidade dá garantia de qualidade ao grão entregue

Além de ampliar as perspectivas de exportação, a Multirural Cereais enxerga no contêiner uma possibilidade de agregar valor ao produto exportado. A garantia de remessa de grãos exclusiva – sem que sejam levados em conjunto com os dos demais exportadores – é uma segurança de que o importador receberá a encomenda com a qualidade contratada. “Nós fechamos contrato em que nos comprometemos a entregar uma soja com qualidade superior, com maior teor de extração de óleo – certificamos o envio de grãos com percentual de extração de 18,5%, enquanto o recomendado é 17,5% - e precisamos da certeza de que é isso que vai chegar para o nosso comprador”, revela João Carlos Kopp, consultor contratado pela empresa. Kopp explica que todas as remessas são embaladas com liner bag (proteção que envolve a carga, evitando contato com o contêiner). “Isso faz com que o produto mantenha as características e não sofra oscilação térmica”, detalha.

“O produto que vai chegar às mãos dos chineses (principais importadores de soja), em comparação com o produto a granel, é diferenciado”, justifica Juarez Palharino, gerente comercial de grãos da Multirural. “A cada exportação, esse produto vai ser mais valorizado”, acrescenta. Na primeira semana de maio, a empresa exportou 1,3 mil toneladas de soja por contêineres pelo porto do Rio Grande. “O contêiner é uma alternativa para buscar mercados menores e obter renda recorrente”, salienta Kopp. “O contêiner foge às sazonalidades da safra e permite a exportação em qualquer período do ano. Além do mais, a estrutura vazia – que chega ao porto trazendo produtos importados – é prejuízo para todos, desde o armador ao dono do navio. Usá-la para remeter a safra é um bom negócio, nesse sentido”, acrescenta.

A previsão da empresa para a modalidade é positiva e a tendência é que o contêiner fique consolidado como alternativa também para exportação de outros grãos. “Já estamos com procura para mais exportações. A partir de outubro e novembro vamos trabalhar com trigo e a partir de janeiro e fevereiro, vamos exportar milho”, acrescenta o gerente comercial.

Aderindo à modalidade, a Multirural vê a oportunidade de ganho e de consolidação no mercado exportador. “É um mecanismo que vai nos dar mais margem do que estamos tendo hoje. Não é um número muito expressivo, mas deixa a empresa ligada ao mundo da exportação. Com isso, você amplia a visibilidade e acaba sendo visto no mercado interno e no mercado externo”, diz Palharino.

A Marasca Comércio de Cereais Ltda. também identifica nos contêineres a possibilidade de agregar valor ao negócio. O diretor da empresa, Vitor Marasca Junior, afirma que, apesar disso, é preciso ponderar as vantagens, que podem mudar sazonalmente. “Estamos abertos a fazer negócios, dando na conta que é viável, nós aceitamos”. As duas empresas avaliaram o cenário, considerando o valor do frete marítimo, que, no momento, favorece o contêiner, e a demanda exterior antes de fazer a opção. A Marasca, assim como a Multirural, também está vendendo soja para a Ásia. No início do mês, a empresa exportou 11 contêineres, com quase 300 toneladas de soja.


Setor tem perspectivas de crescer

Em pleno período de exportação da safra da soja, que atingiu recorde no Estado computando mais de 12 milhões de toneladas, o grão figura como principal produto de exportação por contêineres, mas as perspectivas sinalizam para a adoção da modalidade para escoamento de outras commodities. “A gente trabalha muito com a safra. Nosso interesse é oferecer logística para outros produtos – farelo de soja, milho. Qualquer produto agrícola tem condição de aproveitar esses benefícios”, garante o gerente comercial do Tecon Rio Grande, Rodrigo Dall Orsoletta. Ele exemplifica que o arroz é um dos produtos mais remetidos pelo terminal, que opera na logística para o produto há pelo menos cinco anos.

A intenção era que a operacionalização da soja fosse continuada desde 2008, quando o frete marítimo mais caro inviabilizou a remessa por contêineres. Com a redução tarifária, a comercialização passa a ser vantajosa também para produtos que, nos próximos meses, ganham expressividade no mercado. A Marasca prevê exportar neste ano 12 mil toneladas de grãos por contêineres, entre soja, milho e, possivelmente, trigo. A Multirural também tem previsão de agregar à modalidade a exportação de milho e de trigo, que deve chegar ao mercado africano, e de alcançar uma exportação mensal, por contêineres, de 10 mil toneladas de grãos.

A previsão de crescimento das exportações sinaliza positivamente para a cadeia que atende à modalidade. A Vanzin Serviços Aduaneiros é uma das prestadoras do serviço que trabalha com os exportadores. “De 2008 até agora, temos feito alguma coisa com arroz, em volume maior, e farelo, milho e outros produtos, em volumes menores”, detalha o diretor da empresa, Leonardo Vanzin. Incumbida do recebimento da carga, encaminhada pelos exportadores por via rodoviária, a Vanzin estima aumento de 500% na procura pelo serviço, que envolve o trabalho de descarregamento do produto, estufagem (carregamento) do grão e desembaraço aduaneiro. No ano passado, foram despachados 150 contêineres pela Vanzin e a perspectiva é chegar a 750 até o final de 2013.

Já a Brado Logística, que atua no transporte dos grãos do exportador até o porto do Rio Grande, prevê carregar 500 contêineres por mês (equivalente a mais de 10 mil toneladas de grãos). A Brado mantém um terminal em Cruz Alta, que recebe a produção de todo Estado (preferencialmente por linha férrea) e a remete para o porto do Rio Grande. “Cruz Alta é uma região estratégica, se necessário, a ponta rodoviária acaba sendo curta e o maior trajeto acaba sendo feito por trem, que é a opção mais viável”, revela Marcelo Ouriques, superintendente do Corredor Rio Grande do Sul da Brado.

Considerando a safra deste ano, o contêiner, mesmo com potencial de carga reduzido diante dos navios graneleiros, desponta como um braço a mais para alcançar o mercado externo, levando uma quantia menor da produção, mas escapando de alguns gargalos logísticos. “Os Estados Unidos vão precisar importar em torno de 9 milhões de toneladas de soja e o principal exportador vai ser o Brasil, mas eles têm a preocupação com os atrasos nos portos, que já resultaram no cancelamento de dois pedidos do mercado chinês”, destaca o consultor João Carlos Kopp.

Para ele, o contêiner é uma solução possível para o problema, mas é limitado. “Esse é um mercado que precisa se desenvolver e muito, mas a indústria de grãos e cereais tem que adotar esse tipo de exportação para criar demanda para os serviços e promover a sua melhoria”, avalia. O Tecon realizou estudo de viabilidade para a modalidade e identificou que os Estados Unidos usam esse caminho há 10 anos. A oportunidade tem estimulado o Tecon a promover melhorias, visando a essa demanda do mercado brasileiro. “A gente vem fazendo investimento frequentes em infraestrutura e equipamentos, o que permite melhor atendimento e eficiência para os exportadores e importadores”, assegura Dall Orsoletta.

Benefícios

    Frete marítimo reduzido
    Possibilidade de exportação periódica
    Atendimento a demandas menores
    Agrega pequenos e médios exportadores
    Embarque ágil, mesmo com chuva
    Alcance a portos de origem e destino com menor infraestrutura
    Exportação durante o ano todo
    Atendimento mais rápido às demandas de mercado
    Garantia de envio exclusivo do produto
    Preservação da qualidade dos grãos
    Estratégia logística no envio
    Oportunidade de ganho recorrente
    Não compete com as grandes exportações
    Menor tempo de espera nos portos
    Reaproveitamento de contêineres que retornariam vazios
    Atendimento a pequenas demandas do mercado externo



Veículo: Jornal do Comércio - RS


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