As 50 empresas do bem

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Para se tornarem protagonistas em um mundo no qual desenvolvimento rima com sustentabilidade, as empresas estão apostando cada vez mais em formas inovadoras de desenvolver produtos e de se relacionar com a sociedade e o meio ambiente

Por Coordenado por Rosenildo Gomes FERREIRA

Talvez o quesito que melhor represente as contradições do Brasil seja a competitividade. Não faltam pesquisas globais que apontem avanços e também dificuldades na área. É a teoria do “Copo Meio Cheio, Meio Vazio” em seu estado mais bruto. A primeira parte desse axioma já foi detectada em importantes e abrangentes estudos internacionais, como a versão 2012 do Relatório Global, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial. Nele, o Brasil desponta, pela primeira vez, no seleto grupo das 50 nações mais competitivas do planeta, ocupando a 48ª colocação, à frente de outros integrantes do Brics, como a África do Sul (52ª), a Índia (59ª) e a Rússia (66ª).

Apesar disso, é evidente que existe muito trabalho para os integrantes da academia e os gestores das empresas públicas e privadas, além dos dirigentes dos governos federal e estaduais. Isso porque a crônica empresarial mostra que somente os países que investiram de forma contínua em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) se tornaram protagonistas quando o assunto é inovação, um dos principais pilares da competitividade. Nas páginas a seguir , a DINHEIRO traz 50 iniciativas que estão dando sua contribuição nessa vertente. Seja no desenvolvimento de produtos inovadores, seja na adoção de tecnologias verdes, que possibilitem reduzir seu custo operacional e também em sua relação com a comunidade.
 
É bom deixar claro que não se trata de um ranking ou de um prêmio, mas sim de um levantamento que procura lançar luzes sobre iniciativas capazes de servir de inspiração para empreendedores e executivos. Um dos exemplos vem da dona de uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo. A Itaipu Binacional se juntou à pequena ACS, de São José dos Campos (SP), para desenvolver um avião elétrico. Por sua vez, a americana Mars, fabricante de chocolates, se engajou na luta pela recuperação das lavouras de cacau na Bahia, tendo como foco o respeito ao meio ambiente e a inclusão social. Há também exemplos bem-sucedidos na área da educação, uma atribuição típica do Estado que conta com o auxílio importante da iniciativa privada.


Faber-Castell
 
O grupo alemão Faber-Castell é referência quando o assunto é preservação ambiental pelo projeto florestal lançado há 25 anos no Brasil. Cobrindo uma área total de cerca de dez mil hectares, as plantações próprias de pínus são uma fonte de matéria-prima para a fabricação de EcoLápis e EcoGiz de cera e foram certificadas como “ambientalmente adequadas, socialmente benéficas e economicamente viáveis” pela ONG americana Forest Stewardship Council (FSC). Esse know-how está agora sendo exportado.
 
Em 2011, a empresa iniciou um novo projeto, em parceria com organizações não governamentais da Colômbia. “Nossa ideia é incentivar pequenos fazendeiros e agricultores do País a produzirem a matéria-prima que precisamos”, afirma Carlos Zuccolo, diretor de marketing da Faber-Castell. Segundo ele, os participantes receberão as mudas a serem plantadas, educação ambiental e apoio tecnológico para o desenvolvimento da área. Em contrapartida, a empresa se compromete, no futuro, a adquirir a produção. “É o primeiro projeto do tipo para a Faber-Castell e um dos pioneiros no mundo”, diz Zuccolo.


Unilever
 
A subsidiária brasileira da Unilever estabeleceu o ano de 2015 para extinguir o processo de envio de resíduos de suas fábricas a aterros sanitários, como parte de um esforço global da companhia anglo-holandesa. Das nove unidades no País, quatro já alcançaram 100% do objetivo antes do tempo: Vinhedo, Goiânia, Pouso Alegre e Indaiatuba. A gestão dos resíduos segue o famoso “Quatro Rs”: reduzir, reutilizar, reciclar e recuperar. Na planta de Vinhedo, por exemplo, é feito o envio de caixas retornáveis ao fornecedor para o transporte de insumos, como frascos e tampas.
 
“Isso reduz o descarte de papel e papelão”, afirma Ligia Camargo, gerente de sustentabilidade da Unilever. Há, também, o reprocessamento de resíduo de óleo de cozinha, usado para fabricação de ração animal. “É aplicável, inclusive, para os resíduos que os funcionários trazem de casa”, afirma Ligia. Em 2012, a Unilever investiu mais de R$ 64 milhões em práticas e projetos de proteção, gestão e redução de impacto ambiental. Desses, aproximadamente R$ 12,7 milhões foram destinados ao tratamento e à disposição de resíduos. Globalmente, a meta da Unilever é dobrar de tamanho até 2020, ao mesmo tempo que trabalha para reduzir pela metade o impacto ambiental de seus produtos.


Pão de Açúcar
 
O Grupo Pão de Açúcar mantém um dos mais longevos programas de reciclagem do Brasil, que a cada ano traz novidades. Uma delas é o Alô Recicle, destinado a recolher celulares, acessórios e baterias que contêm materiais nocivos ao meio ambiente, cuja coleta aumentou 300% em relação ao ano anterior. Cerca de 280 lojas Pão de Açúcar e Extra participam da ação.
 
Além do Alô Recicle, existem programas específicos para coleta de papel, plástico, metal, vidro, óleo de cozinha, medicamentos, baterias e até mesmo embalagens de produtos recém-adquiridos. É o caso do Caixa Verde. A iniciativa possibilita a um cliente que não quiser levar a embalagem da pasta de dentes para casa, por exemplo, descartá-la no próprio supermercado. “Todas as lojas que possuem espaço físico adequado para a instalação do equipamento de reciclagem já aderiram ao programa”, diz José Roberto Tambasco, presidente de varejo alimentar do Grupo Pão de Açúcar.


JBS
 
De tempos em tempos, produtores agrícolas e empresas do setor de alimentos são alvo de ataques de ambientalistas e de ONGs dedicadas à proteção do meio ambiente. Em muitos casos, principalmente na Amazônia, com razão. O avanço descontrolado das pastagens ajudou a destruir uma área de floresta maior do que a ocupada pela cidade do Rio de Janeiro em 2012, segundo o Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD). Nos últimos anos, no entanto, esse cenário de degradação da Amazônia tem começado a ganhar novos contornos e protagonistas. Muitos que eram vistos como vilões se tornaram aliados na luta contra o desmatamento.
 
É o caso do frigorífico JBS. Com investimento de mais de R$ 1 milhão por ano, a empresa mantém um sistema de monitoramento de seus mais de 30 mil fornecedores em território amazônico desde 2009. Diariamente, cruzando dados de empresas denunciadas por desmatar, por ocupar áreas indígenas ou por utilizar mão de obra escrava, o JBS controla a origem de cada quilo de carne que leva ao consumidor. Além disso, com o auxílio de satélites, todas as propriedades são mapeadas para garantir que áreas de preservação não virem pasto. “As informações geográficas de nossos fornecedores são colhidas por um sistema altamente sofisticado e robusto”, afirma o diretor de sustentabilidade da empresa, Márcio Nappo. “Se o satélite identificar alguma alteração na fazenda, o programa bloqueia automaticamente os contratos e as compras são suspensas.”


Coca-Cola
 
O Instituto Coca-Cola tem um indicador de eficácia que poucas instituições de ensino do mundo podem ostentar. Os estudantes que passam por seus cursos têm um índice de 90% de aprovação em vagas de emprego a que se candidatam. Isso diz muito sobre a falta de mão de obra com alguma qualificação no Brasil. E diz mais ainda sobre o sucesso do trabalho que o instituto começou a realizar, a partir de 2009, por meio do projeto Coletivo Coca-Cola.
 
“A escola pública é frágil no Brasil”, afirma Daniela Redondo, gestora de programas sociais do Instituto Coca-Cola. A iniciativa nasceu do interesse da Coca-Cola em promover o aumento de renda em locais pobres e acabou se transformando numa ação para ministrar aulas em pequenas ONGs. Os cursos começaram voltados para noções de varejo. Depois foram criados programas de logística, realização de eventos e empreendedorismo. Até o momento, o instituto já formou 36 mil pessoas.


BRF
 
Uma ONG que investe em ONGs. É assim que pode ser definido o Programa Inspira, do Instituto BRF, em parceria com a Ficas, que já treinou mais de 300 organizações em 19 Estados brasileiros e em Moçambique. O objetivo da iniciativa é capacitar pequenas organizações não governamentais, com um orçamento anual de no máximo R$ 1 milhão. Na primeira fase, foram selecionadas 58 ONGs de 30 cidades dos Estados de Mato Grosso, Goiás, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pernambuco – todas elas próximas das fábricas da BRF, uma das maiores fabricantes de alimentos do País. A capacitação tem duração de 16 meses, com 80 horas de aulas presenciais e 20 horas de acompanhamento virtual. As ONGs receberão ainda R$ 40 mil para investirem em projetos. “Os recursos servem para que elas implementem o que aprenderam em aula”, diz Luciana Lanzoni, diretora-executiva do Instituto BRF. Neste ano, o Programa Inspira está investindo R$ 2,8 milhões.


Colgate-Palmolive
 
A fabricante de produtos de higiene pessoal Colgate-Palmolive usou sua experiência no setor de saúde bucal no Complexo do Alemão, conjunto de favelas do Rio de Janeiro. Em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a empresa mobilizou 15 profissionais para atender 1,5 mil pessoas da comunidade. O chamado “escovódromo” foi aberto para atender a comunidade. A ação deve voltar a acontecer, neste ano, em dois períodos diferentes.
 
Foi realizado também um treinamento específico para os agentes de saúde, para que estejam aptos a dar orientações sobre os cuidados e melhores hábitos. O trabalho será reforçado em 2013 na região da capital fluminense e se disseminará pelo País. “Em uma parceria com o Ministério da Saúde, faremos trabalho focado em duas regiões de alto índice de vulnerabilidade social, como o Vale do Jequitinhonha (MG) e o Sertão do Cariri (PB)”, diz Patricia Bella Costa, diretora da Colgate-Palmolive.



Veículo: Revista Istoé Dinheiro


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