A BRF, empresa brasileira do setor de alimentos, captou cerca de US$ 750 milhões ontem por meio de duas emissões de títulos de dívida no exterior - uma denominada em dólares e a outra, em reais. Nas duas tranches, pagou o menor custo da história entre as companhias brasileiras para emissões equivalentes, destaca Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI, que coordenou a operação ao lado de BB Securities, Itaú BBA, Morgan Stanley e Santander.
Na emissão em dólares, com prazo de dez anos, a BRF levantou US$ 500 milhões, com demanda que superou os US$ 4 bilhões. O spread ficou em 220 pontos-base acima dos títulos do Tesouro americano -- o equivalente a um retorno ao investidor de 4,135% ao ano -, prêmio inferior aos 237,5 pontos indicativos na oferta e abaixo também do pago pela Petrobras em emissão equivalente fechada no início desta semana.
Apesar de ser melhor classificada do que a BRF, a operação de dez anos da Petrobras saiu com um spread de 260 pontos, o correspondente a um retorno de 4,522% ao ano. "A BRF pagou prêmio menor, de emissor classificado com um ou dois degraus acima de seu rating atual (em 'BBB-')", diz Miranda. A emissão da Petrobras foi avaliada em "BBB" pela S&P. "Só a Cielo e o Tesouro Nacional tinham conseguido pagar rendimentos menores", afirma outro executivo que acompanhou a operação.
A BRF conseguiu ainda, na tranche em dólares, pagar um retorno abaixo do pago no mercado secundário. Em geral, explica Miranda, as empresas pagam prêmios para novas emissões. Segundo ele, levando em conta o preço no secundário, a oferta deveria pagar um prêmio de 225 pontos.
Já com a oferta em reais, que tem prazo de cinco anos, a BRF levantou R$ 500 milhões, depois de atrair demanda de quase R$ 1 bilhão. O retorno ao investidor ficou em 7,75% ao ano, em linha com o estimado. O custo, diz Miranda, é também o mais baixo pago por uma empresa não financeira numa emissão em reais. Neste ano, Cosan e Odebrecht captaram em reais por cinco anos, pagando, respectivamente, 8,8% numa reabertura de emissão e 8,375% ao ano.
Para Leopoldo Saboya, vice-presidente de finanças, administração e relações com investidores da BRF, o baixo custo pago pela companhia deve-se não só à solidez financeira, mas também ao fato de ser um papel raro no mercado. "A BRF não é um emissor frequente", diz. Ele lembra ainda que há poucas opções do setor de alimentos. No secundário, acrescenta, o investidor não tem garantia de volume nem de preço.
Saboya conta que a BRF vai usar US$ 500 milhões para quitar empréstimos bancários e recomprar parte de uma emissão que vence em 2017. "A operação tinha como objetivo preponderante a troca de dívida, não temos necessidade de captar para investir", diz. Ainda assim, conta o executivo, a empresa não quis abrir mão do custo baixo e captou mais R$ 500 milhões na tranche em reais para o caixa.
A última emissão de bônus da BRF ocorreu em junho do ano passado. Foram duas tranches com vencimento em 2022. Na primeira, levantou US$ 500 milhões pagando rendimento de 6% ao ano. Na reabertura, duas semanas depois, captou outros US$ 250 milhões, a 5,5% ao ano.
Veículo: Valor Econômico