Com preço baixo, demanda por produtos lácteos tende a crescer com a redução do poder aquisitivo.
A queda no poder aquisitivo prevista para este ano, tanto no mercado doméstico como no internacional, pode provocar um aumento no consumo de leite em 2009. A substituição de produtos com maior valor agregado para outros mais baratos, comum em períodos de crise, pode beneficiar os fabricantes da proteína de origem animal mais consumida mundialmente. Mesmo no caso de industrializados de leite, que têm um valor agregado mais alto, os fabricantes não esperam queda no consumo por conta da crise financeira.
A Perdigão, que tem cerca de 30% de seu faturamento proveniente de lácteos, prevê um aumento de aproximadamente 7% no volume de vendas do segmento no mercado interno. Somente a área de refrigerados da Perdigão, como iogurtes e bebidas lácteas, deve avançar 10% em 2009. A avaliação da empresa é de que o segmento de lácteos perderá performance apenas em caso de redução expressiva do nível de emprego no país.
O comportamento do preço da principal matéria-prima, ao lado do aumento do volume de vendas, deve contribuir para a recuperação das margens. Em 2008, os custos de captação do leite seguiram a alta de 2007. Até setembro, os preços pagos pela Perdigão ao produtor acumularam uma alta de 16,7%, em relação ao mesmo período de 2007. Já os preços médios de venda praticados pela companhia caíram 16,2%, na mesma base de comparação.
Especificamente no terceiro trimestre, a oferta de leite cresceu acima de 20%, enquanto a demanda manteve-se estável. Esse comportamento resultou em excesso de produto no mercado interno, provocando uma queda nos preços da ordem de 30% em relação ao segundo trimestre, de acordo com informações do último relatório de administração da Perdigão.
Após a crise de 2006, quando os preços ao produtor atingiram o pior nível de todos os tempos (R$ 0,567 o litro, em média), o mercado de leite apresentou forte recuperação em 2007. A melhora na remuneração agitou o setor, que vivenciou um movimento de fusões e aquisições e o fortalecimento de algumas companhias.
Este cenário incentivou os produtores a investirem mais na alimentação dos animais, o que resulta em aumento de produtividade. Em dezembro, as estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para o acumulado em 2008 apontavam para uma produção de 28,9 bilhões de litros, ante 26,9 bilhões de litros de leite em 2007.
Pico - Assim, no ano passado, houve um aumento de oferta que não foi acompanhado, na mesma proporção, por uma alta na produção. Resultado: os preços começaram a cair à medida que a safra de leite atingiu o seu pico, o que normalmente ocorre em setembro. De acordo com informações da Scot Consultoria, em novembro o preço médio ao produtor ficou em R$ 0,59 o litro. Em junho, o litro atingiu o pico de R$ 0,76.
A retração nos preços chegou a 22% no segundo semestre. E esse movimento já foi suficiente para que a média de 2008 ficasse abaixo da verificada no ano anterior. Segundo a Scot, até novembro o preço médio ao produtor estava em R$ 0,707 o litro, ante a média de R$ 0,718/litro de 2007.
Para 2009, as perspectivas para o preço do leite ainda são nebulosas, segundo a analista Cristiane Turco, da Scot Consultoria. Segundo ela, o comportamento da oferta dependerá dos investimentos dos produtores no campo, movimento difícil de prever neste momento. Ela destaca que, diferentemente do que ocorre na pecuária de corte, que obedece a um ciclo de produção, a oferta de leite é mais difícil de estimar porque depende muito da maneira como os animais são alimentados.
Caso seja mantida, a trajetória de baixa dos preços ao produtor pode contribuir para a recuperação das margens das empresas do setor. Em relatório, a Fator Corretora lembra que historicamente o setor opera com margem Ebitda (fluxo de caixa) próxima a 8%, mas chegou a operar perto de zero em alguns meses de 2008. A casa prevê recomposição gradual das margens da atividade de lácteos nos próximos dois anos.
Veículo: Diário do Comércio - MG