Escolher uma carreira aos 17 anos, cursar a faculdade desejada e, depois, estrear naquela que será a sua carreira pelo resto da vida. Há alguns anos, esse era o sonho de muitos. Hoje, tal história soa, no mínimo, improvável. Cada vez mais as pessoas precisam desenvolver habilidades interdisciplinares para enfrentar uma realidade de mercado que exige inovações constantes e, claro, mudanças no rumo profissional. Mas se ter um diploma não é mais garantia de profissão estável, o conhecimento acumulado nos anos de graduação podem ser fundamentais em outras áreas de atuação, mesmo que elas estejam aparentemente distantes da formação acadêmica.
Esse é o caso do subscritor de vida da Swiss Re Hamurabi Santiago, de 31 anos. Em 2001, quando se formou em medicina, ele começou a trabalhar com atendimento clínico de emergência. Até que em dezembro de 2007 soube que a Swiss Re estava à procura de um médico para sua equipe. Santiago enviou seu currículo e em março do ano seguinte começou na função. O médico trabalhou por sete anos em emergências e saúde pública antes de vislumbrar uma o novo caminho para sua carreira. "Eu estava desgastado por causa de todos os plantões que precisava fazer. Não tinha pretensão de trabalhar numa área financeira. Foi uma médica amiga que soube que a Swiss Re abriria uma posição no Brasil e me avisou. Só então procurei saber como funcionava esse mercado", conta.
Esse tipo de situação exige, muitas vezes, uma adaptação complicada. Santiago conta que ainda hoje se encontra em processo de capacitação. Para se ter uma idéia, seu treinamento inicial durou quatro meses. Primeiramente, passou um mês em Bogotá aprendendo sobre as relações entre as questões médicas e a subscrição de vida. Nos três meses seguintes, o treinamento prosseguiu em Zurique, no escritório central da Swiss Re.
Santiago é apenas um dos protagonistas do processo de adaptação que os profissionais precisam enfrentar hoje. A cada dia, novos mercados se abrem, fenômeno que demanda mais versatilidade dos profissionais. O setor de resseguros, no qual a Swiss Re atua, é um exemplo. Até 2007, apenas o Instituto de Resseguros do Brasil (IRB, hoje IRB-Brasil Re) podia atuar no ramo no País. Porém, a Lei Complementar 126, de 15 de janeiro de 2007 e a Resolução 168 da Susep (Superintendência de Seguros Privados), de 17 de dezembro de 2007, promoveram a abertura do mercado de resseguro e, consequentemente, maior competitividade entre as empresas do ramo.
De acordo com Santiago, a Swiss Re fazia resseguros para a IRB e, a partir da abertura do mercado, precisou contratar pessoas que tanto fossem especializadas no setor quanto pudessem se desenvolver nele. "No caso de vida, eles precisavam de um médico para fazer isso", observa, explicando sua chegada à empresa. "O que eu faço é quantificar o risco de morrer. Avalio se esse risco é normal ou se há agravamento, isto é, se a pessoa tem uma maior risco de morrer, adquirir uma doença ou ser vítima de invalidez", esclarece. "A minha função está ligada à aceitação. Preciso verificar se o risco é normal ou se a taxa precisa ser aumentada", adiciona.
Santiago observa que a medicina abre diversas opções de carreira. "A minha especialização é em saúde pública, na qual se lida com dados de epidemiologia de uma região e o que pode ser feito para diminuir esse acontecimento. Apesar de clinicar, se eu seguisse a clínica pública, faria análise de dados também", destaca, apontando as similaridades entre sua formação e o trabalho que desenvolve hoje.
Remuneração e férias
Claro que um dos atrativos que levaram Santiago mudar de área de atuação foi a remuneração. Ele não revela valores, apenas afirma que "a relação entre carga horário e valor recebido é muito maior atualmente". Mas além de ganhos mais polpudos, a possibilidade de descanso também seduziu o médico. "Eu estava sem férias há quatro anos. Isso foi algo que pesou na minha decisão", revela. Segundo ele, para ter um consultório próprio, o médico precisar ser muito conhecido e cobrar caro, o que é difícil para os jovens. Caso contrário, precisa fazer muitos plantões. "Já tive época de dar três plantões de 24h por semana", lembra. E além de uma salário maior e uma vida menos estressante, a própria novidade que a vaga na Swiss Re representava foi outro atrativo. "Gosto muito de novos conhecimentos. E a possibilidade de descobrir e fazer algo diferente foi muito excitante", completa.
Veículo: Gazeta Mercantil