Dúvidas cercam mercado de leite no país

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"O fundo do poço tem porão". É com essa frase que Jorge Rubez, presidente da Leite Brasil (que reúne produtores de leite), revela sua expectativa para o começo deste ano no mercado de leite, segmento que está sob pressão por conta da oferta superior à demanda e sobre o qual também pairam incertezas diante da crise financeira internacional. 

 

Após cinco meses seguidos de queda, conforme levantamento da Scot Consultoria, o preço pago aos produtores em dezembro (referente ao leite entregue em novembro) ficou estável em R$ 0,591 por litro, na média de 17 Estados pesquisados (ver gráfico). O valor é o mesmo de novembro, mas 8,12% inferior ao de dezembro de 2007. 


 
Rubez espera alguma melhora a partir do fim deste mês porque, diz ele, com os atuais preços "os produtores não conseguem produzir" já que os custos são superiores. "Ninguém consegue tirar leite a menos de R$ 0,70", diz. Pelo levantamento da Leite Brasil, a cotação média do leite paga ao produtor em São Paulo em dezembro ficou entre R$ 0,55 e R$ 0,56 por litro. 

 

Cristiane Turco, analista da Scot, avalia que no pagamento de janeiro (leite entregue em dezembro) os preços não devem subir. "Existe oferta de leite e o consumo é fraco nesta época do ano", observa ela. 

 

Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea/USP, afirma que no curtíssimo prazo "não há fôlego" para alta. Em plena safra, diz, vai predominar a estabilidade ou algum reajuste para baixo. Pensando um pouco mais à frente ele não vê, porém, muito espaço para o preço cair. A razão é que o ritmo de crescimento da produção de leite no Brasil vem diminuindo desde o segundo semestre de 2008. 

 

Enquanto no primeiro semestre do ano passado, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) aumentou 23,62% sobre o mesmo período de 2007, entre julho e novembro de 2008 a alta foi de apenas 0,59% ante igual intervalo do ano anterior, segundo Beduschi. De janeiro a novembro de 2008, o índice subiu 12% comparado ao mesmo período de 2007. 

 

A produção nacional de leite, estimada em 27 bilhões de litros em 2008, vinha em alta por conta dos preços valorizados ao produtor - estes, por sua vez, subiram com a demanda aquecida aqui e lá fora. Mas a oferta cresceu demais e, além de derrubar os preços, afetou a rentabilidade dos laticínios. Empresas tiveram de fechar unidades. Uma das primeiras a fazê-lo foi a Parmalat, e na segunda-feira a Perdigão, que fez várias aquisições entre 2007 e 2008, anunciou o fechamento de duas fábricas com o objetivo de racionalizar as operações e reduzir custos. 

 

Preocupado com a oferta excessiva, o governo lançou medidas para apoiar a comercialização de leite. Fará leilões quinzenais, a partir de 13 de janeiro, de Prêmio de Escoamento de Produto (Pep), para escoar a produção de leite. O preço de referência (para efeito de comprovação do escoamento) será de R$ 0,47 por litro de leite nas regiões Sul e Sudeste. No Centro-Oeste, o preço mínimo será R$ 0,45 por litro, exceto Mato Grosso, onde será de R$ 0,41. Para Rubez, os leilões pois permitirão às indústrias fazer capital de giro. 

 

O governo também vai disponibilizar uma Linha Especial de Crédito (Lec) para financiar a estocagem de produtos lácteos pela indústria e garantir melhores preços na comercialização. A Lec terá limite de R$ 15 milhões e poderá ser contratada até junho de 2009. 

 

Como as exportações de lácteos, que também perderam fôlego, respondem por só 3% do total produzido no país, o setor está de olho no mercado interno. A grande dúvida, diz Rubez, é o tamanho do impacto da crise na economia brasileira e, por tabela, no consumo no país. 

 

Veículo: Valor Econômico


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