Abelhas brasileiras têm sangue africano, são resistentes e estão passando por seleção para garantir produtividade
As abelhas ‘africanizadas’, resultado do cruzamento da abelha Europa com a africana deram origem a um inseto forte, responsável pelo sucesso da própolis brasileira no mercado internacional, já que o produto é literalmente verde. Isso porque as abelhas ‘africanizadas’ (A. mellifera L) conseguem desempenhar sua função de coletar a resina com grande desempenho e resistência. “Diferentemente de insetos da América do Norte ou Europa, as abelhas brasileiras são resistentes e não precisam tomar antibióticos, o que valoriza o produto nacional”, diz Cézar Ramos Júnior, sócio da empresa Natucentro, que beneficia e exporta a própolis.
Segundo Cézar, um desafio da produção, além da produtividade é elevar cada vez mais a qualidade do produto brasileiro. Para isso, além das técnicas de manejo, os apiários do Alto do Rio São Francisco estão investindo no melhoramento genético, avaliando a resistência e a capacidade produtiva dos insetos.
Outro ponto muito importante é a substituição das abelhas rainhas, técnica de manejo essencial para garantir o desempenho da colmeia. Cézar Ramos explica que o ideal é que as rainhas sejam substituídas a cada ano, mas no Brasil, isso ainda não ocorre porque os apicultores não dominam a técnica. “Por isso vamos em uma missão até a China, para aprender com eles como se faz esse manejo”, diz Ramos. Para se ter ideia, no Brasil a operação que envolve a transferência de uma larva para uma célula especial, para que ela se transforme em um abelha rainha, responsável pela postura de ovos, é de 35%. Na China, 90% das operações são bem-sucedidas. Outro dado intrigante é o que mede o tempo. Enquanto no Brasil gasta-se em média um minuto por larva transferida, na China 100 larvas são transferidas em apenas dois minutos.
Para o sócio da Natucentro, o mercado está aberto para os apiários. Ele lembra que no Brasil, há cerca de 10 anos, consumia-se cerca de 200 quilos de geleia real por mês. Hoje, o percentual saltou para duas toneladas mensais. “No Brasil, 99% da geleia consumida no mercado interno é importada.”
Própolis verde
A presença de minerais no solo, em especial o minério de ferro, aliada à altitude, faz com que Minas Gerais seja o único estado no mundo a produzir a própolis verde, uma resina retirada da colmeia e há muito tempo utilizada no combate a inflamações. Ao todo, 102 municípios, localizados em faixa que vai do Triângulo, passando pelo Centro-Sul, até a divisa com o Espírito Santo, são potenciais produtores da resina. Nesses locais, o pulgão convive com o alecrim-do-campo e o ataca. Para se defender, a planta produz uma resina verde coletada pelas abelhas e levada para a colmeia, para mais tarde ser recolhida pelos apicultores.
Veículo: Estado de Minas