A estiagem que ocorreu no Paraná em novembro e dezembro levou a Secretaria da Agricultura a criar uma comissão especial para atuar em três frentes: garantir rapidez nas perícias em áreas afetadas, fornecer boa orientação para o plantio da safrinha e monitorar a crise e a comercialização de grãos. O grupo, que reúne representantes do governo, de bancos e de produtores, teve a primeira reunião ontem em Curitiba e a intenção é manter encontros semanais. Em janeiro foram registradas chuvas em todas as regiões do Estado, mas as perdas já estavam estimadas em R$ 1,5 bilhão. Cerca de 3 milhões de toneladas de produtos como soja, milho e feijão poderão deixar de ser colhidas, ou quase 10% da estimativa inicial de uma safra recorde de 32,2 milhões de toneladas no período 08/09.
Antes da seca havia a estimativa de que a safrinha poderia ser menor que a do ano passado, mas agora existe a expectativa de que, para recuperar parte do prejuízo, os agricultores apostem em um novo plantio, que pode começar mais cedo em propriedades afetadas pela falta de chuvas, caso o zoneamento agrícola permita. "O que foi perdido, está perdido, mas queremos agilizar as perícias para liberar essas áreas para a safrinha", disse o secretário da Agricultura do Paraná, Valter Bianchini.
Segundo ele, outros fatores devem contribuir para que o produtor opte pelo plantio, como a reação das cotações dos grãos e a redução dos custos de produção, motivada pela queda nos preços dos fertilizantes.
O superintendente adjunto da Organização das Cooperativas (Ocepar), Nelson Costa, que participou da reunião, fez um levantamento nas associadas e constatou que, de agosto até agora, o preço da tonelada de adubo caiu cerca de 50% - passou de R$ 1,7 mil a R$ 1,9 mil para R$ 850 a R$ 1,050 mil, de acordo com a fórmula. No caso da uréia, o preço caiu de R$ 1,7 mil para R$ 750 a R$ 850 por tonelada. Costa acrescentou que os fertilizantes respondem por 20% a 30% do custeio agrícola e, na opinião dele, não deve faltar semente.
"A impressão que temos é que a safrinha vai aumentar, sim", disse. O Paraná planta seis milhões de hectares na safra de verão, 1,5 milhão de hectares na safrinha e 1 milhão de hectares na de inverno. "Com preços firmes e custos menores, a tendência é ampliação", prevê Bianchini.
Um novo relatório sobre as perdas com estiagem deve ser divulgado até o fim do mês e não está descartada a possibilidade de que apresente números piores dos que os já conhecidos. Dos 80 mil contratos de custeio da safra de verão feitos entre bancos e produtores, estima-se que 15 mil a 20 mil terão pedido de perícia para recebimento do seguro agrícola. Na safra de verão o Paraná previa colheita de 21,7 milhões de toneladas de grãos, mas o volume agora pode ser inferior a 19 milhões de toneladas. A produção de feijão seria de 610 mil toneladas nessa primeira safra, o relatório divulgado em 19 de dezembro mostra que a previsão foi reduzida em 25,5%, para 454,8 mil toneladas. No caso do milho, a queda está estimada em 20%, de 8,73 milhões de toneladas para 6,98 milhões de toneladas. A soja sofreu um pouco menos e a produção deve cair 8,3%, de 12,23 milhões de toneladas para 11,21 milhões de toneladas.
Veículo: Valor Econômico