A China planeja abrir uma nova frente de investimentos no agronegócio brasileiro, agora com aportes no lado de fora da porteira. Os investimentos que o país deve promover já a partir do próximo ano devem ultrapassar os R$ 15 bilhões só em Mato Grosso (MT), que serão destinados principalmente para a construção de ferrovias e estruturas de armazenamento. A verba sairá do China Development Bank (CDB), maior banco de investimentos do mundo, análogo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e será destinado para ao menos dez projetos no estado. Uma missão do banco estatal chinês esteve no Brasil neste mês para levantar áreas de investimento para o país.
Desse montante, ao menos R$ 10 bilhões devem ser investidos nas ferrovias que o estado planeja construir para ligar Cuiabá (MT) a Santarém (PA) e a Rondonópolis (MT). As autoridades chinesas também assinalaram que podem investir na Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), que ligará Campinorte até Lucas do Rio Verde e começará a ser construída pela Valec em dezembro. Os mais de três mil quilômetros destes três trechos ferroviários permitirão um aumento de até 50% no volume de grãos que o estado consegue escoar por ano. Atualmente, Mato Grosso coloca nos vagões 12 milhões de toneladas ao ano, e já em 2015, com as novas ferrovias em atividade, o escoamento poderá alcançar até 18 milhões de toneladas por ano.
De acordo com o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estado produziu 44,4 milhões de toneladas na safra 2012/2013. Como ao menos 50% de sua produção é exportada para a China, 22,2 milhões de toneladas deve ser a demanda por exportação ao país asiático.
Segundo o secretário extraordinário de acompanhamento da logística intermodal de transportes de MT, Francisco Vuolo, o estado também contará com o Centro Intermodal de Rondonópolis (CIR), que deve ser inaugurado em julho, para aumentar o escoamento da produção. Segundo o secretário, o terminal "aguarda apenas a licença operacional do Ibama para poder iniciar operação".
Já os trechos ferroviários até Cuiabá já estão sendo estudados e deverão ser licitados no ano que vem, indicou Vuolo. Além de aumentarem a capacidade de escoamento, as duas vias abrem a possibilidade de reduzir os volumes para Santos e levar os grãos para os portos de Santarém ou Miritituba, ambos no Pará.
Armazenamento
Dentre os investimentos que os chineses pretendem fazer, os que estão mais próximos de se concretizar são na área de armazenamento. Durante a visita ao Mato Grosso, as autoridades chinesas demonstraram interesse em construir estruturas de armazenagem de grãos ao longo das rodovias BR 163 e BR 158, utilizadas largamente para o escoamento da produção local. Segundo o secretário mato-grossense, eles pretendem instalar armazéns com capacidade de até 100 mil toneladas cada.
O estado possui atualmente um déficit de armazenagem de 17,3 milhões de toneladas, quase 39% de toda a produção do estado nesta safra. Segundo Vuolo, o estado precisa de aportes de R$ 5 bilhões para zerar o déficit de armazenagem. "Não vão investir tudo isso, mas se eles atenderem 40% disso, já seriam R$ 2 bilhões", afirmou o secretário ao DCI.
Os investimentos também incluirão o estabelecimento de fazendas modelo, com estruturas próprias de armazenagem, indústria de ração e refinarias de óleo de soja.
Há ainda planos de investimento em uma siderúrgica. A verba para os investimentos sairia do banco de desenvolvimento chinês e a execução se daria em parcerias entre empresas chinesas e brasileiras na forma de consórcio, Sociedade de Propósito Específico (SPE) ou ainda com abertura de sociedades anônimas no Brasil.
Veículo: DCI