Jogo global de produção de alimentos

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O jogo global da produção de alimentos terá apenas quatro protagonistas nos próximos anos: Estados Unidos e Brasil, pelo lado da oferta, e China e Índia, pela demanda. E o Brasil reúne condições de conquistar vantagens até mesmo em relação aos produtores americanos e ampliar sua participação em mercados em que já é líder ou um dos líderes, como soja e carnes. A conclusão é de um estudo feito pela consultoria MB Associados.

O levantamento mostra o esgotamento da capacidade de produção na Europa, limitação de oferta em países como Austrália, Canadá e Argentina, e uma mudança no foco produtivo da China que, apesar de grande produtora, está passando por uma alteração de seu perfil econômico e tende a aumentar ainda mais suas importações de alimentos - em especial de soja.

A vantagem que o Brasil pode levar em relação aos Estados Unidos é a capacidade de melhorar seu desempenho pelo emprego da tecnologia em uma escala muito maior que os concorrentes do Norte. "A produtividade da soja no Brasil vai continuar a crescer, dando ao país uma participação maior na produção mundial", prevê José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, ao apresentar o estudo durante o seminário Caminhos da Soja no Brasil, promovido pelo Valor no dia 11, em São Paulo.

Levando em conta a nova variedade de soja lançada pela Monsanto no país, a "Intacta", Mendonça de Barros mostrou como o emprego de variedades melhoradas do grão podem proporcionar ganhos expressivos na produtividade e que se distribuem por toda a cadeia produtiva e também pelo restante da sociedade. Especificamente no caso da nova variedade, os ganhos projetados pela MB seriam de 5,84 sacas de soja por hectare, o que representa perto de 10% da produtividade média brasileira.

Isso traria um aumento da produção em quase 5 milhões de toneladas por safra sem aumento da área plantada, e uma renda extra de R$ 292 por hectare para o produtor. O estudo também mostra ganhos na geração de emprego (310 mil novos postos de trabalho), de renda para o trabalhador rural (R$ 4,1 bilhões) e na arrecadação federal, devido ao aumento da produção (R$ 951 milhões). Os números que embasaram o estudo advêm do plantio experimental da variedade realizado na última safra por mil produtores brasileiros.

O desafio brasileiro é produzir 6 mil toneladas de soja por hectare com baixo custo, disse Rodrigo Santos, presidente da Monsanto do Brasil na abertura do evento. Segundo ele, o emprego massivo de tecnologia e a evolução do setor permitem prever que tal marca será alcançada no futuro. Hoje o Mato Grosso, principal produtor nacional da oleaginosa, tem produtividade média de 3,3 mil toneladas por hectare. Santos lembrou que "há 40 anos", quando começaram os primeiros plantios do grão no Rio Grande do Sul, a produtividade era de pouco mais de 1,1 mil toneladas por hectare.

O desafio, segundo o presidente da Monsanto, ganha importância não só para agregar renda ao produtor, mas também porque naquela época, com 3 bilhões de pessoas, o planeta possuía 0,5 hectare cultivado por habitante. Hoje tem apenas 0,2 e em 2050, quando a população poderá alcançar 9 bilhões de pessoas, terá menos ainda.

Mendonça de Barros afirmou não temer um aumento da produção - e da concorrência - de outros países produtores. Segundo ele, o crescimento desses países pode ocorrer, mas parte dele será absorvida internamente. O Brasil é um dos poucos países em condições de ampliar as exportações significativamente sem riscos para o abastecimento interno.

Durante o seminário, três ex-ministros da Agricultura lembraram a trajetória da soja no país. Alyson Paulinelli, que ocupou o cargo entre 1974 e 1979, citou a importância da ocupação do cerrado para produção de alimentos na período em que a população urbana crescia após o surto de industrialização do governo Juscelino Kubitschek (1956-61).

Fernando Turra, titular do cargo de 1998 a 1999, mencionou o crescimento que a soja proporcionou às exportações agrícolas, impulsionando a maior parte do superávit comercial do país nos últimos anos e respondendo pelo expressivo aumento na produção de carnes (1.363% em 50 anos), mas destacou os problemas que impedem que o Brasil tenha desempenho ainda melhor, como a logística estrangulada, com filas de caminhões nos portos de Paranaguá (PR) e Santos (SP), os problemas de infraestrutura, que colocam o país no 107º no ranking mundial desse quesito ou a falta de mão de obra especializada (56º lugar em um ranking de 65 países elaborado pela OCDE).

Marcus Vinicius Pratini de Moraes, no cargo entre 1999 e 2002, citou os problemas com a logística e a falta de marketing e de agregação de valor das exportações brasileiras. Para ele, o país precisa exportar menos farelo de soja e mais carne processada, produzida a partir do consumo de farelo de soja, a chamada transformação da proteína vegetal em proteína animal, produto mais nobre, mais caro e capaz de gerar empregos e agregar mais renda para o país e para o produtor.



Veículo: Valor Econômico


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