Será o fim das bisnagas?

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Vigilância Sanitária quer que molhos em bares e restaurantes sejam servidos somente em sachê

BLUMENAU - Entornando a bisnaga repleta de maionese verde no canto do sanduíche, a consultora de vendas Jéssica Spier, 21 anos, sentencia:

– Só concordo com o sachê se a maionese continuar desse jeitinho, com o mesmo sabor.

O temor de Jéssica é porque recipiente do molho tradicional de Blumenau está ameaçado. A bisnaga com maionese verde (e também de outros ketchup e mostardas escura e amarela) pode sair das mesas dos estabelecimentos da cidade. Mas a maionese caseira fica. Pelo menos esta é a intenção do projeto que a Vigilância Sanitária de Blumenau elabora. O texto, que passa por ajustes, tem intenção de tornar obrigatório o uso de sachês lacrados.

– A intenção não é acabar com este tipo de molho, somente oferecê-lo com condições alimentícias seguras – pondera o diretor de Vigilância em Saúde, Eduardo Weise.

Coordenador de fiscalização da Vigilância Sanitária, Paulo Mülhmann diz que a intenção é obrigar os donos de estabelecimentos a oferecer porções individuais, que eliminaria riscos de o molho estragar por falta de refrigeração e ser contaminado por micro-organismos. A Vigilância não informou números de infecções alimentares na cidade.

Doutor em Saúde da Família, Alessandro Scholze cita que alimentos contaminados podem causar doenças no trato digestivo e que não há ambiente asséptico por completo:

– Sempre vai haver alguma contaminação. A exposição prolongada do alimento à temperatura ambiente permite a reprodução de micro-organismos e aumenta a contaminação – explica Scholze, professor de Medicina da Universidade do Vale do Itajaí (Univali).

Proposta foi feita ainda em 2006

A eliminação da bisnaga é anunciada desde 2006, quando o vice-prefeito – na época vereador – Jovino Cardoso (DEM) apresentou projeto de lei para tirar os tubos flexíveis. A proposta não foi adiante. Na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCJ), vereadores decidiram que era inconstitucional.

Não há data para que o texto seja concluído. Antes, a proposta deverá ser avaliada por comerciantes do ramo alimentício e também pelo Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Blumenau e Região (Sihorbs). Só então será encaminhada à Procuradoria Geral do Município, que definirá como o texto entrará em vigor com peso de lei.

Faltam agentes para fiscalizar

Bento Linhares, do Blu Lanches, concorda com o fim das bisnagas e acredita nos benefícios das fiscalizações frequentes da Vigilância Sanitária. Entretanto, afirma que faltam profissionais para vistoriar toda a cidade. O gerente da Vigilância Sanitária de Blumenau, Marcos Carvalho, admite que precisaria de, pelo menos, o dobro de profissionais do setor, que hoje são 16.

– Quem ajuda a fiscalizar é a própria população. Esperamos que os consumidores cobrem pelos sachês – prevê.

As embalagens individuais fechadas com um nó, usadas por diversas lanchonetes da cidade, não são as ideais, segundo a Vigilância. Presidente do Sihorbs, Richard Steinhausen observa que, além da fiscalização, é preciso observar outros fatores, como a capacidade e o tempo necessário para estabelecimentos implantarem a exigência:

– Talvez o setor que fiscaliza pudesse pedir aos comerciantes que colocassem uma identificação nos frascos com data de fabricação e mantivessem o produto em um local refrigerado.

Máquinas eliminariam riscos de contaminação


Administradores de lanchonetes da cidade afirmam que se adaptarão assim que a lei do fim das bisnagas entrar em vigor. Jalmei Garcia, do Madrugadão Lanches, busca alternativas desde 2006, quando o assunto pautou a Câmara.

A solução vislumbrada foi industrializar o processo para continuar produzindo os 600 quilos de maionese consumidos por semana nas duas lanchonetes que gerencia. O preço elevado freia o investimento: segundo Garcia, uma máquina que faz desde a mistura da maionese aos sachês custa R$ 120 mil:

– Para produzir o que necessitamos, o equipamento levaria só algumas horas. Como o custo da máquina é alto, talvez uma opção seria comercializar ou dividir o uso com outras lanchonetes.

Para contrapor o investimento, o administrador fala que economizaria mão-de-obra que todos os dias esvazia, higieniza e repõe o molho nas bisnagas. Proprietário do Rancho do Pastel, Jean Carlos Oliani acredita que não teria problema para se adaptar à nova regra e manter a maionese que produz todos os dias. Bento Irineu Linhares, sócio do Blu Lanches, também concorda com a adaptação. Ambos aguardam as definições da lei para planejar uma solução.



Veículo: Jornal de Santa Catarina


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