É esperado que, com a crise no mercado de crédito e o aumento no número de redes com dificuldades financeiras, o movimento de aquisições no varejo se intensifique em 2009. "O varejo deve ser um dos setores de destaques no mercado de fusões e aquisições neste ano", diz Carlos Miranda, sócio da firma de consultoria da Ernest & Young.
Miranda diz que os grandes grupos devem aproveitar para expandir-se territorialmente, com a aquisição de redes em regiões onde ainda não tenham uma grande presença, como interior de Minas e São Paulo, além das regiões Sul e Nordeste.
Varejistas familiares, em fase de sucessão, e com forte participação de mercado numa determinada localidade encaixam-se no perfil das empresas candidatas à venda. Nesta lista, entrariam todas as cadeias de supermercado com faturamento em torno de R$ 500 milhões a R$ 1,5 bilhão. No ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), existem 16, passando pelo Bretas, de Minas Gerais, o Angeloni, de Santa Catarina, o Zona Sul, do Rio, e o Sonda, de São Paulo. Em outros segmentos, como varejo de eletrônicos e vestuário, fontes do setor avaliam que os alvos mais cobiçados seriam redes como a Salfer, de Santa Catarina, a Insinuante, da Bahia, e a Leader, do Rio. Procuradas pelo Valor, representantes dessas empresas negam qualquer negociação ou o interesse dos controladores em se desfazer dos seus negócios.
Nos últimos dois anos, as grandes varejistas tiveram de disputar as aquisições no Brasil com as administradoras de fundos de investimento, que fizeram grandes captações e ainda continuam com bolsos cheios. Agora, porém, os "investidores estratégicos" (as empresas que atuam no setor) devem levar uma maior vantagem nas negociações, avalia Miranda. A principal porta de saída dos fundos - a venda de ações das companhias na bolsa de valores - deve manter-se fechada por alguns anos.
"Ficou mais difícil para os fundos encontrar negócios que se enquadrem em todos os seus pré-requisitos", afirma o consultor da Ernest & Young.
Os "compradores estratégicos" normalmente podem pagar um preço mais elevado do que os fundos de private equity nas aquisições. No caso das grandes varejistas, elas conseguem obter ganhos de sinergia ao incorporar as unidades compradas a uma ampla rede de lojas já existente, enquanto os fundos precisam, via de regra, construir um novo negócio e traçar um acelerado plano de expansão. Os estratégicos também não precisam se preocupar com a venda futura das companhias que estão adquirindo.
As perspectivas são de um ano complicado para o crédito e de desaceleração das vendas no varejo. Mas, segundo Marcelo Cherto, consultor do setor de franquias, a situação do mercado brasileiro não deve ser tão dramática como a dos Estados Unidos, onde várias varejistas estão quebrando. No Brasil, os indicadores de consumo, embora tenham piorado em dezembro, ainda dão sinais de vida e é esperado que os problemas fiquem mais concentrados nas redes de menor de porte. "As financeiras que atuam em parceria com as varejistas estão sendo muito mais rigorosas na aprovação do crédito", diz Cherto.
Segundo a Federação do Comércio do Estado de São Paulo, apesar das liquidações, os consumidores estão com menor acesso ao crédito. O número de pessoas endividadas caiu de 53% em janeiro de 2008 para 43% neste mês. (CF)
Veículo: Valor Econômico