Os credores da usina sucroalcooleira Campestre, em recuperação judicial desde 2009, devem votar hoje em assembleia se aceitam ou não a proposta de criação de uma empresa para abrigar os ativos da usina, sem as dívidas da recuperação judicial. A pauta da assembleia deriva da proposta de compra dos ativos da Campestre feita pelo grupo paulista Clealco, que ofertou R$ 97,65 milhões pelo negócio.
A proposta do grupo, no entanto, vem sendo considerada insuficiente para quitar os débitos da Campestre, na casa dos R$ 530 milhões. O interesse da Clealco no negócio se explica porque uma de suas unidades - em Clementina (SP) - está localizada a 40 quilômetros da Campestre, cuja sede fica em Penápolis. Isso significará mais sinergia ao grupo, segundo o diretor superintendente da Clealco, José Bassetto Antônio Júnior.
Além do pagamento de R$ 97,650 milhões pelos ativos - em sete parcelas anuais -, o grupo paulista se comprometeu a investir R$ 66 milhões para recuperar a capacidade de moagem da Campestre, que já chegou a processar 2 milhões de toneladas de cana, mas que no último ciclo moeu apenas 1,5 milhão de toneladas. A Clealco também propôs injetar R$ 100 milhões de capital de giro em cinco anos para estabilizar o caixa da usina. Somando-se todos esses recursos, a aposta na Campestre significaria um investimento de R$ 266 milhões pela Clealco.
A proposta do grupo paulista, com três usinas em São Paulo e faturamento de R$ 770 milhões, é agregar os ativos da Campestre (indústria, licenças e contratos com fornecedores de cana) em uma Unidade Produtora Isolada (UPI), sem as dívidas da recuperação judicial, explica o advogado que exerce a função de administrador judicial do processo, Ely de Oliveira Faria. "Se os credores aprovarem a criação da UPI, essa nova empresa vai a leilão e, além da Clealco, podem surgir outros interessados", diz Faria. A assembleia ocorrerá hoje às 10h, em Penápolis.
A Campestre, que tem capacidade para processar até 1,8 milhão de toneladas de cana por safra, está atrasando o pagamento de credores desde o fim do ano passado e de fornecedores de cana, desde dezembro de 2012.
As dificuldades da empresa se agravaram com a liminar que vigora neste ano que proíbe a queima de cana na região. Como a empresa tem mais de 80% de sua cana colhida manualmente, a proibição da queima significa quase dobrar os custos com contratação de mão de obra para cortar a cana crua. O quadro se agrava ainda mais considerando a situação do mercado de açúcar e etanol, com preços deprimidos.
Por conta dessas dificuldades em honrar compromissos, um credor pediu no mês passado a falência da Campestre, ainda não julgada. Segundo Faria, na assembleia de hoje os credores também devem discutir a formatação de um plano de recuperação judicial alternativo para a usina.
Se a criação da UPI Campestre for aprovada, será a segunda usina em recuperação judicial a ir a leilão. Em abril, a Floralco foi adquirida pela GAM Participações por R$ 150 milhões (pagamento em oito anos), mais assunção de dívida trabalhista de R$ 20 milhões e com fornecedores de cana de R$ 16 milhões. A Floralco tem capacidade para moer 2,5 milhões de toneladas de cana, mas processou 900 mil toneladas no ciclo 2012/13.
Veículo: Valor Econômico