Dilma anuncia medidas de apoio ao café

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O governo vai oferecer aos produtores a opção de vender até 3 milhões de sacas de café para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) por um preço 30% maior do que o praticado no mercado em uma operação que pode custar até R$ 1 bilhão.

O objetivo é dar sustentação aos preços da commodity, que sofreram forte queda no último ano devido ao excesso de produção.

O anúncio foi feito ontem pela presidente Dilma Rousseff, em Varginha, sul de Minas Gerais (uma das regiões produtoras de café mais importantes do país), após quase dois meses de pressão do setor produtivo sobre o Ministério da Agricultura e resistências da Fazenda.

"Sei perfeitamente a importância da cafeicultura para a economia do nosso país. E tenho recebido, através do ministro [da Agricultura] Antonio Andrade, os pleitos dos cafeicultores", disse Dilma.

De acordo com a presidente, o governo oferecerá contratos de opção de venda ao preço de R$ 343 por saca (a Conab não confirmou o valor) para entrega e pagamento em março de 2014. No mercado, o produto é atualmente negociado na faixa de R$ 270.

A expectativa do governo é que o anúncio seja suficiente para recuperar os preços no mercado, de modo que não seja obrigado a executar os contratos de opção para todo o volume proposto.

O Executivo terá de publicar uma Medida Provisória (MP) para viabilizar a operação, uma vez que o valor oferecido aos produtores excede os R$ 307 previstos pela Política de Garantia de Preços Mínimos.

Além da opção de venda, Dilma também anunciou que o governo vai oferecer crédito para financiar a estocagem do café. "Os agricultores que estão começando a colher não precisam comercializar imediatamente a sua produção. Vamos dispor recursos para manter os seus produtos estocados na expectativa de elevação de preço da saca no mercado nos próximos meses".

À tarde, em Brasília, após reunião extraordinária do Conselho Deliberativo da Política do Café (CDPC), o Banco do Brasil definiu que vai disponibilizar mais R$ 1,6 bilhão em crédito para o setor cafeeiro. Do montante, R$ 1 bilhão deverão ser destinados a financiar operações de estocagem, custeio e comercialização. Os outros R$ 600 milhões serão oferecidos para financiar a compra do grão pelas indústrias de torrefação.

Embora pleiteassem um preço maior pelo café, de R$ 360 por saca, os cafeicultores elogiaram a medida. Para o presidente da cooperativa de produtores de Varginha, Osvaldo Paiva, o anúncio ajudará a resolver os problemas do setor. "Vamos ter uma mudança no mercado". Já o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Silas Brasileiro, afirmou que as medidas anunciadas são "altamente positivas".

Brasileiro destacou que o total de recursos disponibilizados para financiar a cafeicultura pelas fontes oficiais pode chegar a R$ 5,8 bilhões em 2013/14. "São os maiores recursos de toda a história da cafeicultura nacional", afirmou ele.

Em nota, a Comissão de Café da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) informou que os contratos de opção dão uma alternativa de comercialização ao produtor rural.

O mercado reagiu positivamente ao anúncio de que o governo pretende intervir no mercado. Ontem, na bolsa de Nova York, os contratos de café para entrega em dezembro fecharam em alta de quase 2,6%.

Contudo, há no mercado dúvidas de que a medida tenha efeito duradouro diante do tamanho do problema. Só em 2013 (um ano de baixa produtividade no ciclo bianual dos cafezais), o Brasil deve colher 48,5 milhões de sacas.



O'Coffee expande o plantio de grãos de qualidade superior


Persistente e aguda, a tendência de queda dos preços do café nos mercados internacional e doméstico não intimidou a O'Coffee, controlada pela família Quércia. Com seis fazendas em Pedregulho, na região da Alta Mogiana, tradicional polo paulista de produção de grãos de qualidade superior, a empresa enxerga no médio e longo prazos boas perspectivas e, independentemente da conjuntura adversa, inclusive no mercado "gourmet", planeja dobrar sua área de cultivo em 2017.

O projeto de passar de 1 mil para 2 mil hectares não é o único que resistiu ao tombo das cotações de café, inclusive os de qualidade. A O'Coffee também quer aumentar o número de cafeterias no país e abrir lojas no exterior. Os investimentos agrícolas fazem parte de um pacote de R$ 40 milhões que começou a ser gasto em 2012 e deverá irrigar os negócios até 2032. A empresa é o carro-chefe da divisão agropecuária do grupo Sol Panamby, que também cria gado nelore, ovinos e cães e planta cana, eucalipto, soja, sorgo, milho e banana. Dos recursos a serem investidos, parte é própria e outra vem de financiamentos como o Finame, do BNDES.

Na região de Pedregulho, diferentemente da vizinha Ribeirão Preto, os cafezais ainda resistem ao avanço da cana-de-açúcar. Tanto que os bons resultados no plantio impulsionaram o lançamento da marca O'Coffee, há dois anos, o que alavancou a cafeicultura da família Quercia. A fazenda sede, a Nossa Senhora Aparecida, é da família desde meados do século passado, quando Octavio Quercia, neto do imigrante italiano Giuseppe e pai de Orestes Quercia, voltou a produzir café. Depois que o ex-governador morreu, em dezembro de 2010, sua esposa Alaide e seu filhos assumiram os negócios.

Nos 1 mil hectares cultivados atualmente com café - 690 irrigados por gotejamento - para uma produção entre 30 mil e 35 mil sacas por ano. O plano é incorporar os 1 mil hectares atualmente ocupados com cana para a produção de café em 2017, afirma Edgard Bressani, superintendente da divisão agropecuária do grupo Sol Panamby. Um dos trunfos da empresa é ter reduzido o custo de produção de entre R$ 350 a R$ 400 (antes da marca O'Coffee) para os atuais R$ 200 a R$ 230 por saca, o que permite sua "sobrevivência em qualquer momento do setor", afirma.

O uso de ferramentas como agricultura de precisão e fertirrigação, por exemplo, permite economia de mão de obra, tratores e óleo diesel e também um uso mais racional de fertilizantes e defensivos. Cerca de 60% da colheita é mecanizada e o restante é feito manualmente. São produzidos 20 tipos de café a partir de diferentes variedades e sistemas de produção. São produtos naturais, despolpados e descascados, além de blends customizados e microlotes. Toda a produção é certificada.

Nesta temporada 2013/14, que foi prejudicada por chuvas de granizo, a colheita deverá alcançar 29 mil sacas, abaixo das 33 mil sacas produzidas em 2012/13. A partir da prevista expansão de área, a produção poderá chegar a 80 mil sacas. A torrefação também poderá ser ampliada com a aquisição de matéria-prima de outros produtores.

Diante da frustração desta safra, a receita da empresa tende a ser R$ 1,5 milhão menor que a de 2012 (a empresa não divulga o faturamento total), mas as margens de lucro deverão ser mantidas, conforme Bressani. Os produtos exportados pela O'Coffee são vendidos por um valor cerca de 50% maior que os tradicionais. E um microlote exportado pode chegar a custar de R$ 1.200 a R$ 1.300 a saca de 60 quilos.

Aproximadamente 80% da produção é exportada, principalmente na forma de grão verde. Há planos de aumentar o embarque do produto torrado e moído, mas, por enquanto, apenas a Alemanha compra o grão industrializado da O'Coffee. A companhia também trabalha com áreas de cultivo exclusivas para três clientes de Estados Unidos, Grécia e Lituânia. Bressani aposta que o consumo de cafés especiais vai crescer tanto nos países emergentes quanto nos tradicionais nos próximos anos. Parte da produção que fica no mercado interno serve à torrefação das três marcas da O'Coffee (Octavio Café, Dallis Coffee e Dom Café) e o restante é vendido a outras empresas.

Por ser uma das empresas com as fazendas de café mais modernas do país, a O'Coffee também recebe estrangeiros e brasileiros interessados em conhecer o mundo do grão. Em programas de imersão, o público se hospeda na fazenda e recebe informações sobre produção, colheita e torrefação. Aulas com baristas também fazem parte do programa.

Além da expansão do cultivo do grão, a perspectiva é que novas lojas da Octavio Café sejam abertas no próximo ano. A loja "conceito", na capital paulista, foi inaugurada no fim de 2007 e é considerada a maior da América Latina, com cerca de 2 mil xícaras consumidas por dia. Investidores brasileiros e estrangeiros estão de olho na abertura de lojas com a marca, de acordo com Luciana Moreno e Martins, gerente da loja. Segundo ela, lá fora há investidores interessados em Milão, Dubai, Nova York e na Bolívia.

O plano de expansão começou em abril deste ano e inclui projetos de lojas próprias e franquias. Inicialmente, a expectativa é ter mais três lojas no país já a partir de 2014, conta Luciana. Atualmente, existem cerca de 40 lojas no país comercializando a marca, a maior parte no Estado de São Paulo.



Veículo: Valor Econômico


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