Temor de retração maior no preço e queda nas exportações provocam apreensão .
O setor de lácteos começa 2009 apreensivo com a queda nas exportações apontada pela Secretaria de Comércio Exterior no balanço de novembro - o mais recente - e teme queda ainda maior no preço do leite, que está excedente no mercado há meio ano.
Só no segundo semestre de 2008, o preço do litro de leite pago ao produtor caiu 22% em relação ao mesmo período de 2007, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP).
A média nacional, que hoje é de R$ 0,59 por litro - no início de 2008 era de R$ 0,70 -, pode baixar mais se as exportações seguirem caindo, segundo o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida, Laércio Barbosa.
O presidente da Câmara Setorial do Leite da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Eduardo Dessimoni, prevê que os preços baixos e a alta nos insumos provocarão queda na produção no primeiro semestre. "Com menor estoque, o preço deve subir novamente", alertou. O revés no setor veio na seqüência de uma onda positiva iniciada em 2007, que encerrou com preços altos e aumento da produção. A boa fase acabou na metade de 2008, quando sobrou leite no mercado.
Descompasso - Houve um descompasso entre a produção e as demandas interna e externa do produto, segundo o pesquisador do Cepea Gustavo Beduschi. "No primeiro semestre (de 2008), a produção cresceu 24% em relação a 2007. Isso é muita coisa, a indústria não conseguiu escoar, os preços do atacado caíram e fizeram o valor pago ao produtor despencar", explicou.
Para socorrer o setor, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) começou a realizar, na última terça-feira, leilões quinzenais para escoar a produção de regiões deficitárias. No primeiro leilão, foram ofertados à indústria de beneficiamento de leite 200 milhões de litros produzidos no Sudeste, Sul e Centro-Oeste do país.
Escoamento - No primeiro leilão de Prêmio de Escoamento de Produto (PEP) de leite,, foram vendidas 38 mil toneladas do produto. O leilão faz parte de um conjunto de medidas do Mapa para apoiar a comercialização do leite com o objetivo de reduzir o excedente do produto no mercado, permitir o escoamento da produção para regiões deficitárias e melhorar os preços para os produtores.
Na região Sudeste, foram leiloadas 21 mil toneladas, na Sul foram 13 mil e na Centro-Oeste, quatro mil toneladas do produto foram vendidas. O valor da subvenção foi de R$ 2,65 milhões. "Vamos prosseguir com os leilões, em programação quinzenal, para apoiar a comercialização de 1 milhão de toneladas (de leite)", adiantou o secretário de Política Agrícola do Mapa, Edílson Guimarães. O secretário lembrou que esta é a primeira experiência de apoio à comercialização do leite utilizando o PEP.
Nesse primeiro leilão, o valor máximo do prêmio foi de R$ 70 por mil litros e o preço mínimo de referência para efeito de comprovação é de R$ 0,47 por litro nas regiões Sul e Sudeste. Na região Centro-Oeste, o preço mínimo é R$ 0,45 por litro, exceto no estado de Mato Grosso, em que a referência é fixada em R$ 0,41.
Crédito - A indústria ainda terá disponíveis R$ 15 milhões, via linha especial de crédito, para que continue comprando dos produtores nos próximos meses.
Para Paulo Carletti, especialista do setor no Rabobank, instituição com foco no agronegócio, no primeiro semestre o mercado do leite deve sofrer medidas paliativas, como leilões do governo e a diminuição do processamento na indústria para balancear a demanda.
No segundo semestre, as previsões internacionais apontam para recuperação do setor. O presidente do Conseleite (associação de produtores e da indústria de laticínios do Paraná), Ronei Volpi, disse que há falta de confiança no setor e que os produtores estão revendo investimentos de 2009. (FP)
Veículo: Diário do Comércio - MG