Programa 'Minha Casa' ajuda o varejo

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Num ano em que o varejo amarga um fraco desempenho, reflexo da queda no ritmo de consumo da população, o programa do governo federal "Minha Casa Melhor" tem funcionado como um estímulo adicional de vendas para redes que atuam em cidades beneficiadas pelo "Minha Casa, Minha Vida". Dependendo da rede, as vendas feitas dentro do programa variam de 1% a 8% do faturamento - as taxas mais altas são verificadas em lojistas de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, dois dos Estados onde o número de casas entregues é expressivo.

Apenas famílias beneficiadas pelo projeto de habitação popular podem solicitar a emissão dos cartões da Caixa Econômica Federal. Há um esforço da indústria em tentar produzir mercadorias que possam ser vendidas nas faixas de preço do programa. E existe ainda um movimento para aumentar o teto do valor financiado de alguns produtos, apurou o Valor.

O Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV) confirmou que irá solicitar ao governo federal uma revisão no preço máximo para a venda dos móveis. Pelo definido até o momento, podem ser financiados itens como sofás de até R$ 375 e conjunto de mesa e cadeiras por até R$ 300, valores considerados baixos para que se consiga vender produtos com qualidade mínima, dizem varejistas.

Para adequar os preços à atual tabela do programa, a fabricante de dormitórios paranaense Santos Andirá teve que negociar com fornecedores e lojistas para diminuir custos. A redução chegou a cerca de 10% em dois modelos de guarda-roupas (um de casal e outro de solteiro) graças à aquisição de volumes mais expressivos de matérias-primas como painéis, tintas, vernizes e acessórios, e também graças à venda de lotes maiores para os magazines, explicou a gerente de marketing da empresa, Cristiane Fernandes. Segundo ela, as primeiras entregas foram feitas na segunda quinzena de agosto e ainda não é possível avaliar a fatia dos produtos no faturamento.

Balanço preliminar da Caixa mostra que foram vendidos R$ 612 milhões em produtos eletrônicos, eletrodomésticos e móveis em quase três meses, desde o lançamento do projeto no dia 12 de junho até a última quinta-feira. O valor do crédito contratado (soma total, incluindo o valor não gasto em compras ainda) soma R$ 1,186 bilhão. São 238 mil contratos de cartões emitidos - média de 2,8 mil cartões ao dia no país.

Esse montante de quase R$ 1,2 bilhão equivale a menos de 1% do faturamento previsto para o setor de eletrodomésticos, eletroeletrônicos e móveis em 2013. Esse valor deve atingir R$ 125 bilhões neste ano, segundo pesquisa da FecomercioSP, disse Altamiro Carvalho, assessor econômico da federação. "Entre todas as iniciativas do governo, de desonerações às ações com bancos para reduzir juros, calculamos que esta deverá ter o menor impacto no consumo. Isso porque ela é limitada à posse do imóvel do 'Minha Casa, Minha Vida', que não passa de 1,3 milhão de casas", disse ele.

Se todas as famílias, considerando o número de 1,3 milhão de casas, usarem a soma total liberada de crédito por cartão (R$ 5 mil), serão gastos R$ 6,5 bilhões, 5% do faturamento total do setor. Se alcançar essa marca, equivale, por exemplo, à venda do varejo no Dia dos Pais, data de relativa baixa importância para o comércio.

A expectativa, na análise de Ubirajara Pasquotto, diretor geral da Cybelar, é que o "Minha Casa Melhor" movimente cerca de 2% do valor vendido pelo setor de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis. Com forte atuação no interior de São Paulo, a Cybelar registra vendas relacionadas ao Minha Casa Melhor um pouco abaixo de 1% de seu faturamento. Na Eletro Shopping, rede pernambucana com 145 lojas no Nordeste, essa taxa atinge 4% e na Cybelar. "Existe uma demanda em crescimento, mas ela varia de cidade para cidade, e há municípios que atuamos e que não foram beneficiados pelo programa habitacional", disse Pasquotto, da Cybelar.

Duas redes informam uma taxa do faturamento considerável, em relação ao total faturado: Máquina de Vendas, com forte atuação em Minas Gerais, segundo Estado com maior número de moradias do "Minha Casa, Minha Vida", e a rede gaúcha Manlec. Segundo Ricardo Nunes, presidente da Máquina de Vendas, de 7% a 8% do faturamento hoje é obtido por meio da venda de itens do programa. "Passou a entrar na loja um consumidor que estava completamente fora do mercado, das classes de menor poder de renda. É uma venda que tem ajudado muito", disse ele.

Na Manlec, com 46 lojas no Rio Grande do Sul, o programa representa 6% das vendas. Conforme o vice-presidente da empresa, Atílio Manzoli Júnior, a iniciativa do governo compensou os efeitos negativos da desaceleração da economia e das manifestações populares e sindicais registradas nos últimos meses. "Fechamos o acumulado de janeiro a agosto com vendas semelhantes às do mesmo período de 2012, já descontada a inflação", disse o empresário.

Anunciata Luiza Romera, presidente da rede Romera, com 205 lojas de varejo eletrônico no país, diz que unidades localizadas perto de cidades atendidas pelo programa "Minha Casa, Minha Vida" têm registrado desempenho de vendas acima da média.



Veículo: Valor Econômico


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