Comércio antecipa venda de produtos natalinos e surpreende consumidores, enquanto a indústria vê no dólar em alta e em programa do governo motivos para ficar otimista
A dentista Ana Beatriz Mesquita comemora o fato de antecipar compras
Já é Natal no comércio de Belo Horizonte. Papai Noel chegou antecipado às prateleiras e gôndolas, assusta alguns consumidores e alegra outros. A estratégia dos lojistas de produtos natalinos é começar a desovar mais cedo o estoque, que este ano está entre 12% e 20% maior do que em 2012. A indústria nacional, que vem sendo sacrificada pela baixa produção desde o início do ano, se apoia na alta do dólar e no programa Minha Casa Melhor para alavancar as vendas.
A mudança no câmbio favoreceu setores como os de confecção e brinquedos, que nos últimos anos vêm amargando a concorrência de chineses. “O preço da mercadoria importada subiu e a nossa está mais competitiva. A alta do dólar favoreceu a gente. O ambiente de negócio está melhor e estamos mais otimistas do que no ano passado. As consultas para exportação voltaram a acontecer”, comemora Michel Aburachid, presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário de Minas Gerais (Sindivest-MG). A expectativa do sindicato é de crescimento 4% no Natal deste ano, na comparação com 2012.
No setor de brinquedos, o otimismo é maior. A indústria lançou 400 produtos para o Natal e espera crescimento de 14% nas vendas na data. “Neste ano conseguimos tomar 5% do mercado dos chineses. Vamos fechar 2013 com 55% do mercado”, diz Synésio Batista da Costa, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).
Em outros setores, como o de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, as vendas foram beneficiadas com o programa do governo federal Minha Casa Melhor. “O programa vai ajudar a ter vendas melhores, principalmente de fogões, lavadoras, refrigeradores e televisores”, afirma Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros). A expectativa da entidade é de empatar as vendas no Natal deste ano, na comparação com 2012. Segundo Kiçula, os consumidores têm preferido televisores de tela maior (40 polegadas), de olho na Copa do Mundo.
No segmento de bolsas e calçados, as vendas estão mais tímidas. “Os negócios caíram de 10% a 12% em relação ao ano passado. O nosso custo de mão de obra é alto. O produto não tem muita tecnologia a ser empregada. E não há como trocar o funcionário por máquina. Se aumentamos o preço, não temos a mesma demanda de antes”, diz Rogério Lima, presidente do Sindicato das Bolsas do Estado de Minas Gerais (Sindibolsas-MG).
Em compras ontem, a aposentada Andrea Oliveira ficou surpresa ao encontrar enfeites de Natal na padaria Trigopane, no Bairro Sion. “Já é Natal?!?! O fim de ano chegou!”, exclamou assustada. “Fiquei surpreendida com os produtos expostos com tanta antecedência”, diz. Já a dentista Ana Beatriz Mesquita de Lima comemorou: “O meu Natal começa mais cedo mesmo, em agosto. Tenho que comprar cerca de 35 presentes. Já adquiri alguns”, diz.
A loja de decoração Casa Futuro, que tem unidades em Lourdes e no BH Shopping, começou a colocar enfeites natalinos desde o fim de semana. Neste ano a empresa comprou 12% a mais do que em 2012, informa a proprietária, Cláudia Travesso. “Eu negocio direto na China. Em outubro já vou comprar o Natal do próximo ano”, afirma. A padaria Trigopane comprou 20% a mais de produtos natalinos neste ano, na comparação com 2012. “No ano passado ficamos zerados, por isso aumentei o estoque neste ano”, diz Igor Silva, gerente de marketing.
Barbas de molho O comércio de Belo Horizonte registra crescimento acumulado de 3,58% neste ano, na comparação com 2012, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH). A expectativa da entidade é de ter crescimento menor no Natal deste ano. “O Natal é a data mais importante para o comércio, mas estamos com inflação e taxa de juros alta, o que compromete as vendas”, diz Iracy Pimenta, economista da CDL-BH.
Lincol Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), ressalta também que o segundo semestre deve ser de números difíceis para a indústria em geral. “O varejo trabalha com expectativa um pouco maior no Natal, mas isso não se traduz em encomendas”, diz.
Veículo: Estado de Minas