Safra anima economia, mas risco de seca inspira busca de nova vocação
Capaz de movimentar dezenas de bilhões de reais na indústria e nos serviços e com generosas linhas de crédito à disposição, a soja se tornou o personagem central da economia gaúcha. Neste ano, vem sendo o alimento da recuperação do Estado, depois de um 2012 em que fez o Produto Interno Bruto (PIB) murchar 1,8%.
Entre a cruz e a espada – o receio de ser novamente abalado por uma seca e a tendência de continuar surfando na onda mundial da soja –, o Estado se mostra disposto a aumentar a aposta no grão dourado. Em 2013, 67% de toda a área de plantio foi semeada com soja, de olho no gigantesco apetite asiático. No próximo ano, o cultivo deve chegar a 70% dos terrenos disponíveis.
– A soja movimenta uma ampla cadeia de fornecedores antes do plantio, desde a extração mineral para fazer o aço de plantadeiras até a compra de fertilizantes, e após a colheita, com fretes, armazenagem e compra de produtos para a próxima lavoura. Então, os altos e baixos afetam boa parte da economia – explica o economista da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Antônio da Luz.
Cálculos de Luz, feitos com exclusividade para ZH, mostram que os negócios com o grão devem acrescentar R$ 38 bilhões ao PIB do Rio Grande do Sul EM 2013. Mesmo quem vive de números não gosta de arriscar na projeção do valor do PIB deste ano, mas com base no de 2012 – encolhido pela quebra da safra –, a participação da soja na geração de riqueza seria de 12,8%.
Em torno da semente, florescem algumas das indústrias que mais se destacam no RS, como as de máquinas e implementos agrícolas, caminhões e estruturas metálicas. O comércio de cidades próximas a regiões agrícolas será combustível para que o varejo gaúcho cresça 8% acima da inflação neste ano, conforme a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado (FCDL).
– No Interior, o dinheiro já começa a circular antes da venda do grão: sabendo que a safra será boa, o agricultor compra equipamentos para a colheita, renova eletrodomésticos e coloca as contas em dia – afirma Vitor Koch, presidente da FCDL.
o peso do grão nos negócios crescerá com expansão de lavouras à metade sul
A soja também traz dólares ao Estado como poucos outros setores. Nos primeiros oito meses do ano, respondeu por 60% do aumento das exportações gaúchas em relação ao mesmo período do ano passado, calcula a Federação das Indústrias do Estado (Fiergs). Conforme a Fundação de Economia e Estatística (FEE), o Rio Grande do Sul deverá crescer o dobro do país neste ano, em razão das lavouras.
Se por um lado está claro como o bom humor de São Pedro traz benefícios a toda a economia, por outro, são conhecidos os efeitos nefastos de estiagens, como em 2012: junto com a quebra do grão, esfarelam-se os negócios de parte da indústria e do comércio.
– Devido ao avanço das lavouras na Metade Sul, a importância da soja será ainda maior em cinco ou 10 anos. Mas é preciso levar em conta o risco dessa expansão, pois a cultura exige alta concentração de chuva, e se isso não ocorre, o impacto é grande – afirma Alexandre Englert Barbosa, economista-chefe do Banco Sicredi.
Os especialistas concordam que o Estado não pode abrir mão dessa vocação, uma vez que a demanda internacional continuará alta por pelo menos mais uma década. No Rio Grande do Sul, há mais potencial para ampliar a área plantada do que nos Estados Unidos e na Argentina. Com a perspectiva de quebra da safra nos EUA, o papel do Brasil no mercado é cada vez mais relevante.
– É preciso estimular outros setores, como indústria de software e de implementos agrícolas, a desenvolverem mais inovações para o campo, tornando o Rio Grande do Sul um exportador também de tecnologia de ponta no agronegócio – afirma Luz.
Veículo: Zero Hora - RS