Para especialistas, os problemas estão ligados à insuficiência de investimentos no setor em todo o Brasil
Com previsão de receber empreendimentos de grande porte nos próximos anos - sobretudo após o início das operações da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) - o Ceará tem como um dos principais obstáculos para o desenvolvimento aguardado da economia entraves logísticos que hoje afetam todo o Nordeste. Das malhas rodoviárias em más condições às ferrovias insuficientes, ainda são muitos os elementos que precisam ser aprimorados, em toda a Região, para atrair a quantidade esperada de empresas.
Segundo o coordenador geral de planejamento da Secretaria de Política Nacional do Ministério dos Transportes, Luiz Carlos Rodrigues Ribeiro, os problemas ligados à logística e a insuficiência de investimentos no setor, em todo o Brasil, não geraram apenas ônus para o setor produtivo no passado, mas também causam prejuízos à atuação do poder público, a exemplo de gastos adicionais em intervenções e obras que não são concretizadas conforme o planejado. Na manhã de ontem, Ribeiro participou do "Café com Logística", organizado pelo Grupo de Estudos e Logísticas (GEL). O evento aconteceu no Marina Park Hotel e contou com palestras voltadas para o setor. O coordenador destacou que "há deficiências a serem superadas, em todo o País, nas vias rodoviária, ferroviária e hidroviária, como o estado precário de estradas, a cobertura insuficiente das linhas de trem e restrições no acesso terrestre aos portos brasileiros".
Nordeste
No Nordeste, indicou, um dos principais gargalos é o trecho rodoviário localizado entre as cidades baianas de Cachoeira e São Félix, onde as operações de transporte lentas representam um custo elevado às companhias. "E isso desestimula muito as empresas", frisou, citando os empreendimentos ligados ao setor petroquímico no estado nordestino.
Ribeiro ressaltou a elaboração do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), por parte do governo federal. O documento tem o como objetivo dar suporte ao planejamento de intervenções públicas e privadas na infraestrutura e na organização do setor. De acordo com ele, uma das propostas do PNLT é abordar a questão da logística pensando não apenas em formas de viabilizar o transporte, mas também de promover o desenvolvimento regional e reduzir as desigualdades no País.
Muitas vezes, comentou, alguns projetos são elaborados - ou deixados de lado - levando-se em conta apenas sua viabilidade econômica, sem que seja priorizado o crescimento da área contemplada. Ele citou a ferrovia Transnordestina como um exemplo de projeto essencial para o desenvolvimento regional.
Além de Luiz Carlos Ribeiro, também se apresentou, no evento, o diretor comercial de frota pesada da empresa de transporte JSL, José Geraldo Santana Franco Júnior. Ele destacou que, nos últimos anos, o Nordeste foi a região brasileira que apresentou maior crescimento proporcional do Produto Interno Bruto, tendo atraído uma série de empreendimentos. "E essas empresas estão encontrando deficiências na mão de obra e na infraestrutura como um todo", disse.
Para o coordenador geral do GEL, Rodrigo Ximenes, a deficiência na mão de obra no Estado, hoje, atinge quase todos os segmentos, "desde motoristas a gestores de armazém, operadores de empilhadeira e gestores de distribuição", ilustrou.
EPL afirma que faltam investidores para o setor
Brasília. Depois do fracasso de concessões importantes na área de logística, o presidente demissionário da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, jogou a culpa pelo insucesso dos leilões na própria iniciativa privada. Segundo ele, os empreendedores brasileiros não têm a capacidade necessária para assumir o extenso programa de infraestrutura que o governo tenta licitar.
"Estamos tentando contratar R$ 40 bilhões por ano em investimentos de infraestrutura em logística, mas percebemos que não temos investidores suficientes. Fizemos projetos atrativos, mas não temos empreendedores capazes de abarcar tudo isso. Ficamos muito tempo sem investir e não criamos essa capacidade empreendedora", alegou ele ontem , durante videoconferência "Rumos da Indústria" realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O governo vem enfrentando uma série de dificuldades para conseguir leiloar concessões de logística, como o Trem de Alta Velocidade (TAV) - que foi adiado por pelo menos um ano - e a BR-262 - cujo leilão deu "vazio". Figueiredo reforçou que o Brasil continua interessante para os investidores e argumentou que os projetos apresentados têm sim atratividade.
"Nossos gargalos representam oportunidades de investimento. Nenhum outro País tem essa capacidade de crescimento se forem resolvidos os problemas de logística. A questão que a gente enfrenta é que temos que passar o patamar de investimentos em logística de R$ 15 bilhões por ano para R$ 100 bilhões", completou. Ainda assim, o presidente da EPL reconheceu que é importante melhorar a preparação dos projetos de infraestrutura. "O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) mudou a relação do governo com infraestrutura desde 2007, mas precisamos melhorar a preparação dessas ações para que elas possam ser contratadas com eficiência".
Hidrovias
Figueiredo reconheceu que as hidrovias brasileiras nunca terão a mesma importância das ferrovias e rodovias no País, mas afirmou que o governo pretende atrair a iniciativa privada também para este modal.
Veículo: Diário do Nordeste