Crise faz produtor de algodão reduzir área e vender ativos

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Desde 1975 em Mato Grosso, o paulistano Sérgio Nogueira decidiu vender parte de sua fazenda de nove mil hectares, às margens da BR-163, em Nova Mutum. Não foram ofertas generosas ou boas oportunidades de investimento que seduziram o engenheiro eletrônico. Como boa parte dos produtores de algodão do país, Nogueira teve que se desfazer de 2,5 mil hectares de sua propriedade para cobrir parte das dívidas provocadas pela forte depressão nos preços e na demanda pela fibra no mundo. "Não deu mais para sobreviver sem vender ativos", constata. "E dívida de algodão, só se paga com algodão". Nesta safra, o produtor já havia reduzido a área plantada, de 5,7 mil para 1,6 mil hectares. Na fila, estão agora a beneficiadora de algodão, a fábrica de óleo e uma unidade de produção de biodiesel. 

 

A situação de Nogueira reflete um pouco as condições gerais dos médios produtores. Com preços bem abaixo do mínimo garantido pelo governo, o algodão tem sido o produto agrícola mais afetado pela crise global. Contra o segmento pesam a falta de liquidez, a explosão nos custos de produção, estoques mundiais em alta e a brusca freada de 10% na demanda global pela fibra. "Estamos enfrentando uma situação muito difícil. Há fábricas fechando na China e na Índia, vários produtores saíram da atividade e os preços estão em queda em plena entressafra", resume o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. 

 

A redução na área plantada chegou a 26%, ou 223 mil hectares, segundo estimativas da Conab. A Abrapa contesta ao afirmar que levantamentos de suas afiliadas estaduais mostram uma redução de 28% nas lavouras - uma diferença de 12,1 mil hectares para menos. "Dá para produzir sem uma produtividade tão alta, mas precisamos do apoio do governo nesta hora difícil", afirma Cunha, produtor da fibra em Turvelândia (GO). 

 

Os produtores querem a garantia do Ministério da Agricultura na destinação de R$ 800 milhões para a realização de leilões de contratos de opção de venda (Prop) e prêmios de escoamento da produção (PEP). Com isso, alega, seria possível driblar os preços baixos, que beiram hoje R$ 32 por arroba na Bolsa de Nova York. O preço mínimo está fixado em R$ 44,60. Alguns produtores que, em 2007, fecharam contratos para entrega futura em 2009, ainda têm uma margem um pouco maior, algo como R$ 42,50, diz Cunha. "Mas muita gente teve que recomprar parte desses contratos para evitar perdas ainda maiores", diz o presidente da Abrapa. Segundo ele, cerca de 50 mil toneladas foram recompradas pelos produtores. 

 

Outro aspecto da crise que preocupa é a concentração da produção nas mãos de grandes empresas e produtores. A Abrapa aponta que há oito grupos com lavouras acima de 25 mil hectares, a maioria em Mato Grosso. "Nos preocupa essa concentração, porque temos visto produtores médios deixando a atividade", diz Cunha. No oeste da Bahia, por exemplo, 15 produtores foram levados a vender cerca de 20 mil hectares a dois grandes grupos da região. 

 

Veículo: Valor Econômico


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