Supermercados acirram disputa pelo interior

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Crise foi uma palavra que parece não constar no dicionário das redes supermercadistas regionais, de menor porte, no ano passado. Ao contrário, elas seguem na contramão da economia, e não pretendem reduzir investimentos este ano, prevendo um forte enfrentamento com as grandes redes, que devem correr para expandir sua atuação no interior do País, com as grandes cidades com certa saturação. O setor supermercadista teve desempenho recorde em 2008, e faturou perto de R$ 150 bilhões - uma alta real de 8,98% ante 2007. Para 2009, a previsão é desse choque impetuoso entre as redes menores e as grandes, que também garantem não reduzir os aportes de expansão, estimados em R$ 5 bilhões pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras).

 

Atingir os mercados regionais para ganhar mais participação de mercado (market share) está nos planos dos players Wal-Mart, Grupo Pão de Açúcar, Carrefour e, para não perder espaço neste grande tabuleiro, redes menores como Supermercados Comper, Villareal Supermercados e Covabra Supermercados continuarão seus planos de expansão, em sua maioria com capital próprio.

 

Há quase 40 anos varejo, o Grupo Pereira, dono da catarinense Comper, pretende atingir este ano receita de R$ 1,7 bilhão, número 30% maior ao do ano passado, cujo crescimento nas vendas atingiu 12%. "Temos metas arrojadas para este ano mesmo sabendo que o primeiro semestre será um pouco mais complicado. Apesar da onda de pessimismo que abate o mercado, continuaremos a expandir. A esperança é que a economia se recupere no próximo semestre", aponta o diretor de Marketing, João Pereira.

 

A meta é inaugurar três lojas da bandeira até junho, sendo que a primeira em Águas Claras (DF). Atualmente são 28 lojas distribuídas por Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e no Distrito Federal. As novas unidades do Comper poderão operar com a seção de eletroeletrônicos "Eletro City", uma parceria estabelecida há um ano com a rede mato-grossense City Lar, uma das maiores varejistas de "eletromóveis" do centro-norte do País.

 

De acordo com Pereira é possível que mais unidades do Comper sejam abertas em localidades que a companhia não atua, mas isto é mantido em segredo pelo empresário, assim como o valor a ser investido nessas lojas e em outros cinco pontos-de-venda do Comprefort, modelo de atacado cash & carry (atacarejo) do grupo.

 

Deslocamento

 

Para o presidente da Abras, Sussumu Honda, as grandes redes vão acentuar seu deslocamento rumo às regiões interioranas este ano, em especial no Centro-Oeste, onde chegaram recentemente o Wal-Mart e o Grupo Pão de Açúcar. "Este movimento ocorrerá mesmo com a previsão de desaceleração de crescimento de 2,5% do setor para este ano", acredita o executivo da entidade.

 

"Deveremos seguir o rastro do Produto Interno Bruto (PIB). Este não é um mau resultado [2,5%], pois nos dois últimos anos nossa base de crescimento foi bastante forte, sendo que apenas em 2003 e 2006 houve retração de 4,5% e 1,66%, respectivamente nas vendas do setor", diz Honda.

 

Cautela

 

Mesmo tendo atingido o resultado esperado em 2008, de R$ 350 milhões, valor 15% maior que em 2007, o paulista Grupo Comercial Zaragoza resolveu manter a sua meta de 15% de crescimento no conceito mesmas lojas este ano. A companhia, que também opera duas bandeiras, o Villareal Supermercados e o Spani Atacadista, aplicará R$ 37,5 milhões em expansão, oriundos de caixa próprio.

 

Segundo Flávio Almeida, diretor Comercial do Grupo Zaragoza, a empresa fez o orçamento apenas para o primeiro semestre do ano, em que será inaugurada mais uma unidade do Villareal em Taubaté (SP). Em dezembro, foi aberta um loja em Jacareí (SP) que consumiu a quantia de R$ 6 milhões. "A intenção é maturar as operações para fortalecer a rede e ganhar mais mercado, isso justifica nosso conservadorismo", diz Almeida.

 

A rede iniciou 2009 com a estratégia de atrair mais clientes que utilizam a modalidade de pagamento a prazo para realizar suas compras, tanto que lançou há algumas semanas seu cartão próprio (private label) em parceria com a MasterCard. O diretor Comercial do Zaragoza não espera que a crise financeira impacte os negócios, pois a rede trabalha prioritariamente com produtos básicos, não dependentes de linhas de crédito para o consumidor, como acontece no segmento de bens duráveis.

 

Outra rede média que avança no interior paulista é a Covabra, que opera dez lojas em sete cidades. Segundo o diretor Adilson dos Santos, a estimativa é que o ano passado tenha encerrado com faturamento de R$ 272 milhões, e para o ano em curso, prevê um aumento de 20% no faturamento nominal, sendo que, em Capivari, onde recentemente foi reinaugurada uma loja, a expectativa é ainda maior. "Após a modernização da loja percebemos que as vendas cresceram em 15%. Se continuarmos nesse ritmo, certamente em 2009 a loja crescerá 5% a mais do que as outras."

 

Líder

 

A varejista francesa Carrefour avalia que os resultados no Brasil foram acima do esperado e está otimista para 2009. Ano passado, a expansão foi concentrada nas bandeiras Atacadão, DIA, postos de combustível e Drograria Carrefour. A companhia afirma que "o Brasil continua como um dos países prioritários para o Grupo, o que impulsiona a aumentar a participação de mercado e consolidar a posição de líder no varejo. A previsão de investimento é de R$ 1 bilhão para 2009 e mais R$ 1 bilhão para 2010."

 

Veículo: DCI


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