Estímulo ao cultivo de uvas no Paraná

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A região metropolitana de Curitiba já foi uma grande produtora de uvas, até que os parreirais foram dizimados pela "pérola-negra", uma cochonilha subterrânea (tipo de inseto), há 30 anos. Mas agora o governo do Paraná está estimulando a volta do cultivo em pequenas propriedades e também a produção de vinhos, sucos e geléias. Os produtores que quiserem ter vinhas contam com assistência tecnológica, e as empresas e cooperativas que atuam no ramo têm incentivos fiscais para investir em infra-estrutura de recebimento e processamento da fruta.

 

Os resultados vão demorar alguns anos para aparecer, mas a intenção é diminuir a dependência das empresas do Paraná das uvas do Rio Grande do Sul, melhorar a renda do produtor local com a diversificação no campo e gerar empregos. Em 2006 foi criado o "Projeto de consolidação da uva rústica como negócio da agricultura familiar no Paraná", que inclui parcerias com prefeituras, Emater, Embrapa, Iapar, Fundação Terra e a Secretaria da Agricultura do Estado. A meta até 2011 é que a vitivinicultura ocupe 4,7 mil hectares no Paraná e 5 mil produtores recebam assessoria técnica - desses, 3,8 mil já produzem uva e 1,2 mil também devem entrar no segmento. 

 

Com bom acompanhamento, a produtividade pode passar de 10 mil para 20 mil quilos por hectare. "Queremos dar autonomia para as cantinas locais", explica o engenheiro agrônomo João Carlos Zandoná, coordenador de fruticultura do Emater-PR. O projeto contempla a cadeia completa, por isso foi criada pelo governo uma escola de vinho, em Colombo, vizinho de Curitiba, que vai começar a funcionar em fevereiro. Municípios do interior também serão beneficiados pelo projeto. Zandoná conta que 15 mil ramos porta-enxertos tolerantes a pragas já foram usados e outros 60 mil estão previstos para os próximos meses. 

 

O incentivo do Estado despertou o interesse da Vinícola Campo Largo, uma das maiores fabricantes de vinho de mesa do país, que envasa anualmente 20 milhões de litros da bebida. O presidente da empresa, Giorgeo Zanlorenzi, lembra que sua família produziu uva na vizinhança da fábrica, localizada em Campo Largo, na região metropolitana da capital. A partir dos anos 80, passou a comprar a fruta da serra gaúcha, onde faz o processamento e, depois, transporta a bebida até a sede, onde ela é envasada e distribuída. 

 

Como no ano passado os produtores de vinho e derivados ganharam isenção de ICMS dos produtos feitos com uvas cultivadas no Estado, a Campo Largo decidiu fomentar o cultivo. Até agora fez parceria com quatro agricultores que vão produzir em nove hectares, e esse número vai aumentar. A meta é chegar em oito anos a 200 hectares num raio de 200 quilômetros da fábrica. 

 

Em 2010 deve começar a produção local de suco, que representa 2% das receitas da empresa, volume que Zanlorenzi planeja elevar para 8% em três anos. Com o benefício fiscal e economia em logística, o empresário estima que o custo de produção será 9% menor no Paraná. Por isso, em oito anos ele quer ter 30% da produção de suco e vinho de mesa no Paraná - o restante continuará vindo de São Marcos (RS). 

 

Vinho de mesa, o mais consumido no país, é aquele feito com uvas americanas ou híbridas. Mas Zanlorenzi fará experiências no Paraná também com uvas especiais, européias, usadas em vinhos finos. Nos dois casos, os produtores entram com a terra e a Campo Largo fornece mudas e insumos e garante a compra. A prefeitura local encontra os parceiros e dá assistência técnica. O aporte inicial de Zanlorenzi no projeto é de R$ 4,5 milhões - 10% para a produção e o resto para montar uma fábrica de sucos, que será inaugurada em fevereiro, mas ainda com fruta gaúcha. A unidade tem capacidade para fazer 350 mil litros de suco. 

 

Um dos primeiros produtores a aderir à idéia foi Valdir Gogola, que cultiva maçã, ameixa e pêssego em 6,5 hectares em Campo Largo e que, em setembro, destinou 2 hectares para uva. "Quis diversificar, para correr menor riscos", explicou. Por enquanto as plantas estão pequenas. A primeira safra é esperada para daqui a três anos. "Buscamos produtores interessados em crescer na atividade", disse Selma Aparecida dos Santos, agrônoma da prefeitura encarregada de mostrar as vantagens de fazer do município um novo pólo de vitivinicultura. 

 

Veículo: Valor Econômico


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