A mexicana Mabe planejou seus investimentos no Brasil levando em conta uma decisão tributária do governo federal. Foi então que a vida de seu presidente se transformou em calvário
O executivo mexicano Patricio Mendizábal, presidente da operação brasileira da fabricante de eletrodomésticos Mabe, dona das marcas GE e Dako, vive um desafio inédito em sua carreira. Desde o mês passado, Mendizábal se vê vagando pelos labirintos da burocracia do governo federal na tentativa de salvar um investimento de 20 milhões de reais feito pela Mabe no Brasil. O motivo de sua peregrinação está ligado a um produto estratégico para a empresa no mercado brasileiro: uma máquina de lavar com capacidade de 15,1 quilos. Bastou uma canetada em Brasília para que o produto tivesse sua alíquota de imposto sobre produtos industrializados (IPI) aumentada de 0% para 20%. De um dia para outro, a máquina da Mabe subiu de custo — e de preço — e perdeu seu poder de competição no mercado.
Após a decisão, Mendizábal iniciou uma cruzada com a esperança de reverter a situação. O executivo tentou discutir o assunto com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, mas só conseguiu uma audiência para setembro. Da mesma forma, procurou a Receita Federal, mas também ainda não foi recebido. Quase em desespero, Mendizábal embarcou na comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a última viagem à Argentina, realizada no início de agosto. Ele queria interpelar pessoalmente o presidente, mas, em meio a um grupo de mais de 300 empresários e executivos que compunham a comitiva brasileira, não conseguiu chegar nem perto de Lula. “Fomos injustiçados por essa mudança de regras no meio do jogo”, diz Mendizábal. “Assim é difícil competir.”
O jogo a que Mendizábal se refere é dos mais disputados. Neste ano, a venda de máquinas de lavar deve movimentar quase 3 bilhões de reais no país. Serão cerca de 7 000 máquinas vendidas por dia, 25% mais do que no ano passado. Hoje, o mercado está dividido, basicamente, entre três grandes fabricantes. A líder, com boa margem, é a americana Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, que tem 54% de participação e quase meio século de presença no país. A segunda colocada é a sueca Electrolux, com 82 anos e participação de 33%. A terceira é a mexicana Mabe, que chegou ao Brasil há apenas cinco anos e responde por 9% das vendas de máquinas de lavar. Na posição de novatos e desafiantes, os executivos da Mabe decidiram que o melhor caminho para crescer seria investir na produção de máquinas de lavar com capacidade para grandes quantidades de roupa — um produto que os concorrentes não fabricavam e que gozava de alíquota zero de IPI. A estratégia deu certo num primeiro momento. Em três meses, a participação de mercado da mexicana dobrou. Mas acabou destroçada pela mudança de regras no imposto. Em menos de dois anos, a Receita Federal alterou por duas vezes a taxação dos produtos fabricados pela Mabe.
Veículo: Revista Exame