Entre, encontre o produto e finalize a compra. Ser o mais simples e atraente possível é premissa básica de qualquer site de comércio eletrônico, tudo para que o usuário tenha uma boa experiência de compra e, claro, retorne à loja virtual. Para quem está de frente ao computador, fica difícil imaginar a complexidade tecnológica que entra em ação no momento em que se clica sobre uma imagem na tela do PC. A Casas Bahia - que estreou sua loja virtual ontem - resolveu levar essa complexidade a um grau mais crítico e passou a usar ferramentas que, em dado momento, envolve até uma neurocientista.
Com a preocupação de garantir a segurança das operações, a Casas Bahia adotou um software que, a partir dos dados passados pelo consumidor, faz uma radiografia das informações e, em tempo real, apresenta o grau de risco daquela operação. O sistema criado pela brasileira Clear Sale - empresa que também fornece programas para as rede de varejo Ponto Frio, Insinuante e Extra - apresenta uma pontuação de zero a cem, onde zero remete à menor propensão a risco e cem, à maior. Para chegar ao índice de risco, diz Renato Gonzaga, diretor comercial da Clear Sale, o sistema combina 233 variáveis.
No site da Casas Bahia, grande parte das transações tende a ser liberada automaticamente por esse sistema, mas em casos de dúvida sobre o perfil do consumidor, entra em cena um time de consultores. Ao todo são 50 profissionais treinados para identificar tentativas de golpe. "Essas pessoas são capacitadas por uma neurocientista, uma pessoa que estuda o comportamento humano e que aprimora a sensibilidade dos analistas para encontrar", comenta Gonzaga.
Para checar se uma operação é ou não fraudulenta, o analista entra em contato com o consumidor. Durante a confirmação dos dados, são avaliados itens como o tom da voz do usuário e o ritmo de sua respiração. A checagem, diz Gonzaga, pode inclui ainda algumas pegadinhas, como perguntar ao consumidor qual é o seu signo. "Se ele parar muito tempo para pensar, isso já é mais um fator a ser considerado."
Preparada para receber até 10 mil acessos simultâneos em um único segundo, a loja virtual da Casas Bahia recebeu investimentos de R$ 3,7 milhões. Além da Clear Sale, o projeto envolveu a participação da Energy, agência que desenhou o site; da Aunica, que implementou sistemas de monitoramento e métricas de navegação; e da IBM, que entrou com a prestação de serviços de integração e seus mainframes, computadores de grande porte que hospeda o site.
Segundo Frederico Wanderley, diretor de TI da Casas Bahia, o projeto é resultado de três anos de trabalho. Para suportar o tráfego do site, diz Wanderley, a Casas Bahia dobrou a capacidade de seu link de internet, de 100 Megabytes, para 200 Megabytes.
Além dos sistemas adquiridos com fornecedores, a rede de varejo colocou 80 desenvolvedores de software para criar a programação de seu site, toda ela baseada no sistema operacional Linux, que tem o seu código aberto.
Para garantir que nada saia do ar, explica Wanderley, a infra-estrutura de TI da Casas Bahia está dividida em duas salas-cofres, ambas instaladas em São Caetano do Sul. "Pode haver um desastre aqui, as salas estão preparadas para aguentar uma temperatura de até 6 mil graus, sem danificar nada."
As novidades tecnológicas, no entanto, não se restringiram às atividades do chamado "backoffice", ou seja, tudo aquilo que o cliente não enxerga. Hoje, ao lado de 100 produtos, o usuário pode acessar um vídeo hospedado no site YouTube, onde garotos-propaganda da Casas Bahia ensinam mais sobre seus recursos. "Fizemos algumas pesquisas e concluímos que era preciso trazer esse aspecto de colaboração para o site", diz Fernando Taralli, presidente da Energy. "A ideia é ampliar o número de vídeos."
Um recurso de chat suportado por 100 atendentes também está disponível para que o consumidor possa tirar dúvidas. Se for o caso, o usuário pode até permitir que o atendente apareça em sua tela com um segundo "mouse", para que naveguem juntos, em tempo real.
Veículo: Valor Econômico