Farmácias investem e passam longe da crise

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Diferentemente de segmentos que começaram a pressionar o poder público para não ter queda nos ganhos, como o mercado automotivo e o da construção civil, no setor de drogarias e farmácias, em que as grandes redes não dependem de grandes linhas de crédito para manutenção dos negócios, o cenário é outro. O setor girou R$ 10 bilhões em 2008, um crescimento de 21,32% em relação a 2007. A previsão das entidades que representam esse mercado é que este ano, mesmo com a crise, as empresas do ramo tenham, no faturamento, uma elevação moderada.

 

Mesmo assim, as grandes redes continuaram seus planos de expansão como Drogaria Onofre, que, bastante otimista com o setor, vislumbra alta de até 20% nos negócios para este ano em relação ao ano passado, segundo Carlos Marques, superintendente Comercial da companhia. Na perspectiva de crescimento, a Drogaria Onofre, que, de acordo com o ranking da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), é a cadeia com maior faturamento por metro quadrado do País, vê de forma positiva o cenário para este ano.

 

"A perspectiva do mercado farmacêutico é grande pois estamos falando de produtos de uso essencial que, apesar da crise, não podem ser banidos do dia-a-dia dos consumidores. A Drogaria Onofre faturou R$ 700 milhões ano passado, 20% a mais que em 2007, e estamos com previsão de crescer mais 20% em 2009", destaca Marques, ao DCI.

 

Segundo o executivo, uma das diferenças que o setor deve apresentar em 2009 é cada vez mais a aposta no segmento de cosméticos e beleza, já que o mercado brasileiro de cosméticos, que cresceu 10,4% em 2008, movimenta hoje R$ 24,54 milhões, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). "Além disso, o Brasil é o segundo maior mercado de produtos de beleza do mundo, perdendo apenas para os EUA."

 

O executivo da Onofre destaca outro nicho de consumo - os solteiros - que impulsiona as compras e se fortalece como novo nicho de mercado, por isso a empresa deve focar suas ações de marketing nisto. "Quase a metade dos solteiros tem o hábito de trocar o supermercado pela farmácia na hora de comprar itens de higiene, cuidados pessoais e até gêneros alimentícios, segundo pesquisa do Instituto Nielsen. São 2,2 milhões de lares com apenas um morador, e, destes 1, 1 milhão tem esse costume. É extremamente pertinente explorar esse mercado."

 

Do lado das entidades do setor, Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma, diz que a previsão é de manutenção dos patamares de crescimento para este ano. "Somos o último setor a entrar na crise e o primeiro a sair dela, pois vendemos produtos de primeira necessidade. Ninguém deixa de comprar produtos de higiene, beleza e medicamentos."

 

Faturamento

 

Mena Barreto cita que, do faturamento das 24 redes associadas à Abrafarma [de R$ 10 bilhões em 2008], os medicamentos representaram R$ 7,3 bilhões, ou seja, 73,53% da receita. A venda de não-medicamentos obteve aumento de 24,64%, representando 26,47% do total das vendas nas redes e drogarias. O bom desempenho foi puxado pela alta do índice de comercialização de genéricos - 26,31% a mais do que no mesmo período do ano anterior.

 

A tendência do setor é de crescimento moderado. "Não fazemos previsões de cifras ou porcentagem. Deve ser um bom ano, pois as redes grandes não têm problema de crédito." Para o presidente da Abrafarma, o que pode acontecer é que as pequenas redes tenham algum problema de crédito. "A operação de grandes redes de farmácia é bem diferente da de uma pequena, por causa da estrutura. Não vejo aquisições neste setor, a exceção foi a Drogasil, que adquiriu 30 lojas em Brasília. O normal é o crescimento orgânico." Ele explica que o programa Farmácia Popular - no qual o governo subsidia 90% do preço do medicamento e 10% são pagos pelo cliente - ajuda a aumentar a receita das farmácias, pois "o cliente que faz o tratamento adquire outros produtos por causa do subsidio - um paciente hipertenso usa outras drogas". Em 2008, as vendas desse perfil chegaram a R$ 166,8 milhões. "Mais de 371 milhões de atendimentos foram registrados no ano, com 996 milhões de unidades vendidas para 24 estados."

 

Outro cenário que ele analisa é o da venda de não-medicamentos. Estes itens representam cerca de 25% do faturamento. "Nos últimos oito anos, as redes trabalham com tratamento anti-idade, cosméticos e tratamentos para pele, e isto impulsiona vendas. Estes tipo de serviço migrou de grandes magazines, como era a Mesbla, dentre outras redes que não oferecem mais o serviço."

 

Cautela

 

Mais cauteloso, Pedro Zidoi, da Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico (ABCFarma), acredita que o varejo de medicamentos não alcançará os 9% vistos ano passado. "A previsão é que poderá haver redução no volume de vendas em dinheiro, pois a população em geral tem aumentado suas compras de medicamentos genéricos - preços de 35% a 50% menores que o dos produtos de referência."

 

Zidoi destaca que, anualmente, no primeiro dia do mês de abril, o setor industrial obtém reajuste no preço dos medicamentos, que é repassado para o consumidor final. "No ano passado o reajuste médio foi de 3,18%. Alguns produtos tiveram reajuste de 2,52% e outros até 4,61%." Para o presidente da ABCFarma, mesmo aumentando as vendas de medicamentos genéricos, "não haverá aumento nem no volume total das vendas em reais, nem no preço dos medicamentos de valor acima do estipulado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, a CMED", órgão que acompanha mês a mês a precificação dos medicamentos.

 

Pedro Zidoi salienta que a CMED determina que a margem operacional ao comércio de medicamentos no comércio varejista seja de 28 a 33%, dependendo do enquadramento, como, por exemplo, o produto estar na lista positiva, negativa ou neutra.

 

Veículo: DCI


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