Duráveis afetam resultado do varejo

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As vendas no varejo foram bastante castigadas pelo impacto da crise global sobre a economia brasileira no fim do ano passado, principalmente nos segmentos de bens duráveis, com destaque para móveis, eletrodomésticos e veículos. Todos eles são muito dependentes do crédito. Em dezembro, o comércio varejista ampliado (que inclui carros, motos e autopeças e material de construção) recuou 1% em relação a novembro, na série livre de influências sazonais. No quarto trimestre, houve queda de 8,7% sobre o trimestre anterior. As vendas no varejo ampliado terminaram 2008 com alta de 9,9%, abaixo dos 13,6% de 2007. 

 

O desempenho foi melhor no setores mais influenciados pelo mercado de trabalho. Em dezembro, as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo ficaram estáveis em relação a novembro. Mesmo assim, não passaram ilesos, como mostra a comparação com dezembro de 2007: as vendas cresceram 3,5%, abaixo dos 6% de novembro e dos 7,3% de outubro. 

 

Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, os números divulgados pelo IBGE confirmaram o mau momento dos setores de bens duráveis, mas o problema não se restringe a eles. Além da desaceleração do ritmo de expansão de bens não-duráveis, como alimentos, ela chama a atenção para o grupo formado por tecidos, vestuário e calçados, que em dezembro viu as vendas caírem 6,3% sobre o mesmo mês de 2007. "Isso mostra que os bens de salários também começam a ser afetados pela crise." 

 

Mas o pior resultado ocorreu de fato nos segmentos de bens duráveis, mais dependentes do crédito, como lembra Reinaldo Pereira, economista da coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. Em dezembro, as vendas de móveis e eletrodomésticos caíram 3,7% em relação a novembro, na série livre de influências sazonais. Na comparação com dezembro de 2007 houve alta de 4,5%, o mesmo percentual observado em novembro, ambos bem abaixo dos 15,7% de outubro. "São bens de maior valor, cuja venda depende das condições de crédito, que pioraram significativamente no fim do ano passado, e da confiança do consumidor, também afetada pela crise", diz a economista Mariana Oliveira, da Tendências Consultoria Integrada. 

 

As vendas de veículos e motos, partes e peças foram fortemente atingidas. Caíram 4,5% em relação a dezembro de 2007, elevando a queda no quarto trimestre para 10,8%. Na comparação com novembro, na série com ajuste sazonal, mostraram alguma reação, ao subir 3,5%, mas o resultado ocorreu depois das quedas de 7,1% em novembro e 18,8% em outubro. "A indústria automobilística vinha muito forte e teria, em algum momento, que desacelerar. Mas, com a crise, o tombo foi muito mais profundo" , diz Pereira. 

 

Um grupo que teve um desempenho surpreendente foi o de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação. Em dezembro, as vendas subiram 11,9% em relação a novembro e 35,6% sobre dezembro de 2007. Para Thaís, o resultado pode ter ocorrido por causa da conjunção de promoções com substituição de outras compras - como de carro, por exemplo - por equipamentos de informática. Além disso, parte dos consumidores pode ter antecipado as aquisições por conta da perspectiva de que os preços poderiam subir depois, devido à desvalorização do câmbio, diz ela. 

 

Os analistas acreditam numa recuperação no começo de 2009 em relação ao fim do ano passado, mas em grande parte porque a base de comparação é muito fraca, como diz Thaís. Ela vê com cautela a alta de 7,4% no número de licenciamentos de automóveis e comerciais leves na primeira quinzena deste mês sobre o mesmo período de 2008. A questão, segundo Thaís, é que o Carnaval no ano passado ocorreu na primeira metade de fevereiro, o que jogou para baixo o número desse mês de 2008. 

 

O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, é mais otimista, acreditando que os números do licenciamento mostram, sim, uma recuperação consistente. Segundo ele, os dados dessazonalizados indicam que a média diária de emplacamentos na primeira quinzena de fevereiro foi de 11,1 mil carros, mais que os 10,1 mil observados em fevereiro de 2008, e próximo dos 11,6 mil de outubro. "Toda dessazonalização é imperfeita, mas ela tira grande parte do efeito do Carnaval", afirma Borges, para quem os números mostram que há uma retomada do crédito - grande parte das vendas é feita por meio de financiamentos - e uma melhora da confiança do consumidor. Borges projeta um crescimento de 5,8% para as vendas do comércio varejista restrito em 2009, apostando que uma recuperação mais firme vai ocorrer neste ano. Mais cautelosa, Mariana aposta em alta de 3,1%, bem abaixo dos 9,1% observados em 2008. 

 

Uma análise regional mostra que, no quarto trimestre, as vendas nas regiões Nordeste e Sudeste foram menos afetadas que nas outras três. De outubro a dezembro, o comércio varejista restrito no Nordeste cresceu 5,1% sobre o mesmo período do ano anterior, mais que o 0,2% do Norte e os 3,9% do Sul e do Centro-Oeste. Mariana observa que, no Nordeste, a renda é bastante ligada a programas governamentais, como o Bolsa Família, e a aposentadorias. São rendimentos que não são suspensos com a crise. Isso ajudaria a entender a alta em dezembro, na Bahia, de 6,3% das vendas do grupo de hiper, supermercados e produtos alimentícios. 

 

No Sudeste, o comércio varejista restrito subiu 7,2% no quarto trimestre. São Paulo foi um dos destaques - em dezembro, a venda no Estado de hiper, supermercados e produtos alimentícios subiu 6,3%. Para Thaís, o fato de a massa salarial ter crescido muito em São Paulo em 2008 pode ajudar a explicar o resultado, a despeito de o impacto da crise ser mais imediato no Sudeste.

 

Veículo: Valor Econômico


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