Superestocado, comércio apela para as liquidações do Natal

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A velha regra de antecipar as compras de Natal para escapar de aumentos de preços e da falta de produtos em dezembro não vale este ano. Superestocado, de janeiro a novembro, o comércio viveu uma liquidação sem fim e embaralhou o calendário de promoções do varejo.

Neste mês não está sendo diferente. Da pequena loja de shopping ao grande magazine, todos fazem promoções seguidas de promoções. Se, no passado, o Natal em períodos de recessão era conhecido como o da lembrancinha, a marca da festa deste ano é a liquidação. Isso pode dar uma ajuda nas compras daquele consumidor que tem algum dinheiro no bolso e continua empregado. Mas para o comércio em geral as liquidações não devem ser suficientes para impulsionar os negócios.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) acaba de cortar, pela segunda vez seguida, a projeção para o Natal. Nas contas da entidade, a queda no faturamento na data, descontada a inflação do período, será de 5,2%. Se a projeção se confirmar, será o primeiro Natal com vendas menores em relação às do ano anterior. Isso nunca tinha acontecido desde o início do levantamento, em 2004. O cálculo não inclui materiais de construção e veículos.

“Apelar para liquidação é a única coisa que o varejista pode fazer hoje”, diz Fábio Bentes, economista da CNC e responsável pelas projeções. Mesmo assim, ele observa que o efeito tem se mostrado limitado. Neste mês, 30,7% dos empresários do comércio informaram a CNC que acumulavam estoques acima do adequado. É uma marca recorde e que ficou estabilizada em relação a novembro, apesar de já ter ocorrido a Black Friday. “Os estoques não saíram do lugar mesmo com a megaliquidação”, observa

Nos bens duráveis, que são itens mais caros e comprados a prazo, como TVs, geladeiras, a fatia de empresários com encalhe que era 35,6% em novembro subiu para 35,9% este mês. Segundo Bentes, o aumento reflete o avanço dos juros cobrados do consumidor que atingiram 64,8% ao ano em outubro, o maior nível da série que começou em 2011, aponta a pesquisa do Banco Central.

O peso dos estoques acumulados que alimenta as liquidações e promoções afetou neste ano o humor até dos empresários que normalmente se destacam pelo otimismo: os lojistas de shopping. Neste ano, Alshop, que reúne 40 mil empresários desistiu de estimar o quanto poderá vender no Natal. “Neste ano não estamos projetando”, afirma o diretor de relações institucionais da entidade, Luís Augusto Ildefonso da Silva. Em conversas informais, ele conta que varejistas chegam a afirmar que se repetirem o Natal de 2014 ou tiverem uma queda de 2% a 3% no faturamento, já ficarão felizes. “É a primeira vez que fazer menos é bom.”

O desafio dos lojistas de intensificar as promoções e liquidações às vésperas da principal data do comércio é transformar o grande fluxo de visitantes em vendas. “O fluxo de pessoas está muito bom nos shoppings, mas a venda não”, diz o diretor da Alshop.

Confusão. “Hoje está difícil dizer quando é ou quando não é promoção”, observa o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Fábio Pina. Na sua avaliação, como o ano inteiro foi de liquidação, o cenário de preços ficou embaralhado e a percepção de quando a liquidação é real também.

Ele lembra que os lojistas, para desovar estoques, cortam preço, mas isso tem limite, que é os aumentos de custos, como energia elétrica, uma despesa compulsória. De toda forma, Pina diz que muitos estão fazendo liquidação antes do Natal para atenuar a queda de 5% a 7% esperada pela Fecomércio para as vendas em São Paulo.

Mas o efeito da crise, segundo ele, não se esgota no Natal. “Janeiro deve ser assustador para o varejo”, prevê Pina. Ele acredita que as promoções e liquidações devem ser mais fortes no início de 2016, com descontos maiores para atrair o consumidor que tem boa parte do orçamento comprometido com o pagamento de impostos (IPVA, IPTU, por exemplo).

Mais prazo. Esta semana duas grandes redes varejistas, a Casas Bahia e a CVC, anunciaram prazos mais longos de parcelamento. As empresas não declaram os motivos da estratégia. Mas, num momento em que o consumo está em marcha lenta, essa é mais uma forma de impulsionar as vendas, além de fazer liquidações.Optar pelo prazo longo pode ser uma alternativa arriscada para o consumidor com o desemprego em alta e maior risco de inadimplência.

A Casas Bahia, bandeira da Via Varejo, alongou de 10 para 14 vezes o parcelamento máximo de pagamento sem acréscimo no cartão próprio. Isso significa que quem compra hoje com esse prazo mais longo termina de pagar o produto só no Carnaval de 2017.

A empresa informa que é uma “oferta pontual da bandeira”. No entanto, o alongamento do prazo foi anunciado em comercial de TV no horário nobre.

A CVC também começou a parcelar em até 12 vezes sem acréscimo as viagens no cartão próprio em parceria com o Bradesco. O cartão próprio começou a operar de forma gradual no início do ano. Antes o prazo máximo de pagamento era de até 10 vezes, sem acréscimo no boleto e nos demais cartões de crédito. Apesar do prazo mais longo, a empresa informa que 75% dos clientes optam pelo parcelamento em até 10 vezes.

 



Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo


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