Segundo a CNI, a confiança dos empresários caiu na passagem de novembro para dezembro, chegando a 36 pontos. Especialista avalia que cenário político incerto desmotiva os industriais.
Os estoques da indústria continuam acima do nível considerado ideal, mesmo com a forte redução da produção este ano, informou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A Sondagem Industrial da CNI mostra que o índice de estoque efetivo-planejado passou de 52 pontos em outubro para 51,4 pontos em novembro. Em igual mês do ano passado era 51,5 pontos. Valores acima dos 50 indicam estoque acima do desejado.
"Todas as empresas estão tentando ajustar a produção este ano. Mas a queda nos estoques só apareceu mesmo em novembro, em setembro os níveis ainda estavam estáveis, acima do considerado ideal", explica o economista da CNI, Marcelo Azevedo.
O índice de estoque efetivo-planejado foi maior nas grandes indústrias (55,6 pontos), do que nas médias (49,7 pontos) e pequenas (44,7 pontos). No mesmo mês do ano passado, esses índices estavam em 53,9, 50,9 e 47,3 pontos, respectivamente.
Azevedo destaca que, nas indústrias de menor porte, o alto custo para manter estoques leva essas empresas a uma gestão mais rígida dos níveis. "Para as pequenas, a manutenção do estoque acima do planejado é fatal, porque elas não têm muito capital de giro. Já nas grandes empresas, que conseguem operar com nível maior de estoque sem tantos impactos para o caixa, é mais comum arriscar. Mas a dificuldade para ajustar os estoques neste ano tem sido um problema comum às indústrias de todos os portes", diz o economista da CNI.
Ele conta que as empresas adotaram estratégias distintas em uma tentativa de adequar os estoques nas fábricas este ano, mas as ações não foram suficientes para reverter o quadro negativo. "Algumas medidas dependem muito das particularidades de cada setor, mas, de maneira geral, houve cortes de turnos, de empregados e redução de horas trabalhadas, derrubando o índice de utilização da capacidade instalada", detalhou Azevedo.
Embora a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) pela indústria no mês de novembro (66%) tenha ficado estável na comparação com o mês de outubro, na comparação com 2014 houve queda de sete pontos percentuais na UCI.
Já a produção industrial em novembro ficou em 40,9 pontos. A CNI ressaltou que, embora historicamente a atividade das indústrias tenha desempenho mais fraco com o fim das encomendas de fim de ano, o resultado no mês é o menor desde o início da série histórica mensal iniciada em 2010. "Significa dizer que a queda foi mais intensa que a usual", lembra a CNI.
Confiança
Sem sinais de melhora na demanda, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) também se manteve em patamar baixo para dezembro.
"O Icei está caindo há bastante tempo. Ele teve uma queda forte no início deste ano e, desde abril, vem se mantendo estável em níveis mais baixos", comenta Azevedo.
De acordo com a CNI, o índice de confiança dos empresários caiu 0,4 ponto na passagem de novembro para dezembro, chegando a 36,0 pontos. Índices abaixo dos 50 pontos sinalizam baixa confiança do setor industrial.
"Para além da questão econômica, outros fatores têm afetado a confiança dos industriais. Hoje, a crise política antecede a crise econômica", observa o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Moacir Oliveira Junior.
Para ele, enquanto não houver uma definição clara do que deve acontecer no cenário político brasileiro, os índices de confiança continuarão baixos. "Quanto mais rápido ficar definido o que acontece na política no ano que vem, mais cedo teremos uma melhora de confiança e investimento", diz ele.
Veículo: Jornal DCI