Desde 2010, o volume produzido caiu pela metade e mais de 70% das fábricas pararam de operar.
O forte aumento do custo da energia está eliminando a produção brasileira de alumínio primário. Desde 2010, o volume produzido no País caiu pela metade e mais de 70% das fábricas pararam de operar. Com isso, o Brasil deixou de ser um exportador e vem ampliando as importações do insumo.
Para se ter uma ideia do quadro atual, há cinco anos, no período entre janeiro e novembro, a produção de alumínio primário totalizava 1,409 milhão de toneladas. Já no acumulado dos 11 primeiros meses de 2015, o volume produzido atingiu apenas 708,5 mil toneladas, conforme dados da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Na comparação com a produção registrada no acumulado até novembro do ano passado (891,1 mil toneladas) houve uma retração de 20,5%.
De acordo com o presidente-executivo da associação, Milton Rego, a redução se deve, basicamente, ao preço da energia elétrica. “Todos os setores eletrointensivos têm se ressentido pelo fato de que desde 2002 o Brasil vem aumentando sistematicamente o custo da energia para o setor industrial”, afirma.
“Como uma parte importante do custo produtivo é a energia, fica mais vantajoso você importar do que produzir aqui”, acrescenta. Diante deste quadro, das sete plantas que estavam ativas no Brasil há cinco anos, apenas duas continuam em operação.
Em Minas, duas foram fechadas por conta da crise enfrentada pelo segmento. Em junho deste ano, a norte-americana Alcoa anunciou a decisão de paralisar as atividades de sua unidade de alumínio primário em Poços de Caldas (Sul do Estado), com capacidade de 96 mil toneladas anuais. No ano passado, a Novelis fechou sua fábrica em Ouro Preto (região Central). A unidade tinha capacidade para produzir 18 mil toneladas de alumínio.
Cadeia – Na avaliação de Milton Rego, com a inviabilização da produção, o Brasil perde a oportunidade de integrar toda a cadeia, que vai da extração da bauxita até a produção de diversos produtos de alumínio, como latas, embalagens e autopeças.
“O Brasil tem uma das melhores bauxitas do planeta”, afirma. O insumo mineral é utilizado na produção de alumina, matéria-prima para o alumínio primário que, por sua vez, é transformado em uma série de produtos. Sem a produção no Brasil, o alumínio primário é substituído pelo produto importado e pelo reciclado “Como é uma commodity, cujo o preço de referência é o da Bolsa de Londres, não faz muita diferença comprar aqui ou importar”, explica.
De acordo com o presidente da entidade, desde o ano passado o Brasil deixou de ser um exportador de alumínio primário para ser um importador. Entre 2010 e 2015, levando-se em consideração o acumulado deste ano até setembro, as compras externas do insumo aumentaram 490%, passando de apenas 43,7 mil toneladas para 258,1 mil toneladas. As exportações, por sua vez, caíram 47,6% na mesma base de comparação. E passaram de 448,2 mil toneladas para 234,5 mil toneladas.
A reciclagem é também uma alternativa utilizada no Brasil e que ainda tem espaço para crescer. De acordo com Milton Rego, atualmente, 30% do material são reciclados no País, índice abaixo da média de alguns mercados, como a Europa, que já alcança 50%. “O Brasil é o campeão mundial em reciclagem de latinhas, mas recicla muito pouco as outras embalagens”, afirma. Além disso, ele destaca que sucata industrial é relativamente bem utilizada no Brasil. Na avaliação do presidente da entidade, para ampliar estes índices são necessárias políticas públicas.
Consumo – Apesar da crise enfrentada pela indústria de alumínio primário, o consumo de alumínio no País vem crescendo nos últimos anos, segundo Milton Rego. Isso se deve à ampliação na aplicação do material em diversos setores.
Neste ano, a Abal estima que o consumo de alumínio no Brasil deverá ficar entre 1,3 milhão de toneladas e 1,4 milhão de toneladas. O resultado pode representar queda de até 10,3% na comparação com 2014, quando somou 1,45 milhão de toneladas.
O desempenho negativo é resultado da recessão econômica no País. Milton Rego afirma que resultado poderia ser pior, mas a maior aplicação do alumínio no Brasil mitigou os efeitos da crise.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG