Feira de supermercado volta a exigir atenção para economizar no valor final

Leia em 6min 20s

            Com o IPCA em dois dígitos em 2015 e acumulando alta de 2,18% nos dois primeiros meses de 2016, consumidor deve ficar atento.

Um dos calos no sapato do Governo Federal nos últimos dois anos, principalmente em 2015, quando escapou e quase ultrapassou em dobro o teto da meta estipulada pelo Ministério da Fazenda, a inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), voltou a mostrar as garras e assustar os trabalhadores, não importa o nível. Se você ainda não percebeu, basta ir ao supermercado e comparar os gastos neste período.

Em 2015, quando a economia brasileira começou literalmente a patinar, depois de um 2014 sinalizando o que viria pela frente, a inflação oficial fechou o ano em 10,67%, resultando em 4,16 pontos percentuais acima do teto da meta inflacionária fixada pelo Banco Central (BC), inicialmente em 6,5%. A economia brasileira sentiu o baque e, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de 2015 foi a maior desde 2002, quando atingiu 12,53%.

Se antes de 2014 (quando o IPCA fechou o ano em 6,41%, ficando abaixo do centro da meta fixada pelo BC, também de 6,5%, e a inflação já havia sido a mais alta desde 2011) o poder de compra estava maior, com o salário-mínimo valorizado e o dragão da inflação ainda controlado, o cenário mudou radicalmente e quem pagou (e está pagando) a conta foi o consumidor. Quando se trata dos produtos de alimentação, a mudança drástica foi imediata: o IPCA, composto também por outros itens, como energia e combustíveis, fez o brasileiro pagar mais caro e levar para casa menos produtos. No mínimo, ele passou a ser cauteloso na hora da feira, seja ela semanal, quinzenal ou mensal. Com o dragão do índice mais voraz, a estratégia é pesquisar.

É prudente destacar, no entanto, que há diferença na análise prática dos gastos, levando-se em conta, também, outro termômetro da difícil situação financeira: a medição da cesta básica realizada mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) que, entre outros fatores, avalia o custo necessário para o cidadão adquirir os produtos básicos de subsistência, como pão, leite, açúcar, carne, legumes e limpeza, entre outros. Querendo ou não, o impacto do IPCA atingiu praticamente todas as classes econômicas.

A médica Karla Santana Chaves, 36, é uma dos milhões de brasileiros que sentiram a pancada no orçamento. Segundo ela, a feira de supermercado é feita a cada 15 dias, com frutas e legumes sendo adquiridos semanalmente, uma vez que é mãe de um filho de cinco anos. No último ano, Karla conta que gastava, em média, R$ 300 a cada quinzena, fora as frutas e verduras. Isso equivalia a um valor médio dentre R$ 1,2 mil e R$ 1,5 mil, dependendo da quantidade de semanas no mês. A fome do dragão do IPCA fez com que ela gastasse mais.

“Sempre acompanho os preços dos produtos nos supermercados e no último ano foi visível o aumento dos preços. Hoje, eu estou gastando, por baixo, uns R$ 500 a cada 15 dias na feira, fora as frutas e verduras, uma média de R$ 50 por semana. Carne e produtos de limpeza foram os itens que mais notei elevação de preço”, disse Karla. A dica, em sua avaliação é simples. “Pesquisar preços, testar outras marcas de produtos e diminuir ou substituir alguns itens pode gerar alguma economia no valor final da conta. Em casa, passamos a comer mais frango que carne”, destacou.

Impacto em todas as classes
É possível que, analisando friamente a feira mensal de Karla Chaves, você hesite em relação ao padrão profissional. Seria mesmo possível uma médica com 36 anos e apenas um filho para cuidar “radicalizar” nos gastos no supermercado? A resposta é sim. Com o dragão do IPCA cuspindo mais fogo, subentenda-se elevação de preços, não há alternativa. Para especialistas, isso independe da classe social e dos rendimentos mensais dos trabalhadores.

A carne, que Karla Chaves passou a consumidor menos, foi um dos produtos que mais aumentou de preço entre os anos de 2014 e início de 2016, na avaliação do Dieese. Entre fatores externos, como estiagens, elevação de combustíveis, energia e volatividade no mercado internacional das commodities (o açúcar é uma delas e está presente na cesta básica), o produto, um dos mais consumidos pelos brasileiros, registrou oscilações positivas e negativas nestes anos.

De acordo com o Dieese, em 2014 a carne acumulou uma alta anual de 20,04%, com o quilo custando, em média, R$ 19,94 em dezembro daquele ano. Em 2015, o percentual de aumento foi menor, de 13,20% no acumulado do ano. Mas o preço subiu e o valor do quilo saltou para R$ 22,11 em dezembro. Este ano, nos dois primeiros meses, a variação está estável e o preço do quilo variou entre R$ 22,67, em janeiro, e R$ 22,61, em fevereiro.

“O consumidor com rendimentos mais baixos tem recorrido também à pesquisa de preço e cautela na hora da feira, ainda mais aquele cuja faixa salarial é entre um e três salários-mínimos. Na cesta básica, não há muita opção para trocar de marca, mas no geral é possível perceber uma troca de marcas de produtos e redução no consumo de alguns itens. No caso da carne, o consumidor pode substituir por frango ou peixe. No feijão, isso não ocorre tanto, pois o trabalhador come o produto mesmo ele apresentando variações elevadas”, explicou Milena Prado, técnica do Dieese em Pernambuco. O feijão, inclusive, foi dos produtos que disparou na escalada de preços: variou entre R$ 5,38 (quilo) em janeiro de 2013 e R$ 6,17 em fevereiro deste ano, com um pico de R$ 7,50 em junho de 2013.

Confira algumas dicas de especialistas para tentar equilibrar os gastos no supermercado:

Lista: organize o rol, seja objetivo, leve uma comparação de preços, faça suas compras e vá embora. Quer passear? Escolha o shopping, cinema ou outro lugar mais animado

Qualidade: às vezes, o barato sai caro. Fique atento a informativos nas empresas varejistas, debates nas redes sociais e sites de reclamações. Pode ajudá-lo na hora de pagar a conta

Preços: que tal levar uma calculadora na hora das compras? Basta acessar no celular e fazer as contas. Regra de três ajuda a conferir se os valores estão bons

Caixa: confira cada valor de produto no monitor. Muitas vezes os preços estão alterados em relação aos que você viu nas prateleiras. Isso vale para produtos que são pesados também. Conferir não custa nada

Top: tenha acautela ao comprar os produtos mais vendidos e compare. Em muitos casos, há valores mais elevados embutidos entre outras mercadorias, o que confunde o consumidor

Adicional: evite levar para casa produtos que combinam nas refeições, tipo queijo de coalho e goiabada. Muitas vezes você já tem o insumo no armário e não se dá conta. Veja a validade também

Atacadão e Atacarejos: é uma boa alternativa para famílias numerosas pelos custos menores envolvidos nas compras em quantidade maior. No entanto, faça os cálculos e avalie até que ponto vale recorrer a esses estabelecimentos

Vencimento: priorize os produtos com prazo de validade maior se for levar uma quantidade mais elevada. As redes varejistas gostam de expor produtos perto do vencimento na frente das prateleiras

Ofertas: aproveite se concluir que os valores estão bons, mesmo que alguns não estejam presentes na sua lista. Lembre-se apenas de conferir se não há em casa.

 



Veículo: Jornal Diário de Pernambuco


Veja também

Confiança do industrial voltará em dois anos

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimou nesta quinta-feira (17) que o industrial vai pre...

Veja mais
Industrial mineiro está menos pessimista

                    ...

Veja mais
Supermercados reduzem encomendas de ovos de Páscoa

O menor otimismo com relação às vendas fez os supermercados brasileiros reduzirem as encomendas de ...

Veja mais
Agravamento da crise política e econômica preocupa a CNI

Em nota divulgada ontem, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, ...

Veja mais
Índice de Confiança do Empresário Industrial sobe 0,3 ponto em março, diz CNI

Embora ainda permaneça em um patamar muito deprimido, o Índice de Confiança do Empresariado Industr...

Veja mais
Transações na internet devem movimentar até R$ 62,4 bilhões

Mesmo com o contínuo avanço do volume de internautas no País, que hoje soma 119 milhões de p...

Veja mais
Comerciantes buscam estratégias para garantir vendas na páscoa

  Ovos de chocolate e peixe estão sendo parcelados em até seis vezes. No entanto, economistas alertam...

Veja mais
Preços globais de alimentos devem cair ainda mais, prevê FAO

Os preços globais de alimentos deverão cair mais neste ano, após já terem caído para ...

Veja mais
Supermercados parcelam bacalhau e ovo de Páscoa

Ovo de chocolate, bacalhau, azeite e outros produtos da cesta de Páscoa podem ser pagos em até dez vezes, ...

Veja mais