A combinação entre a retomada das exportações de celulose, a quase inexistência de linhas de crédito para as operações de pré-embarque da celulose e a falta de apoio nos seguros de crédito para exportação criou um problema para as empresas do setor, que se viram obrigadas a realizar o financiamento com recursos próprios para manter as vendas. Segundo dados da Tendências Consultoria, no primeiro bimestre do ano os embarques de celulose aumentaram 14,8% sobre o mesmo período de 2008, ao preço de referência para a Europa de US$ 545, cerca de 33% menos que no ano passado. Essa situação obrigou a um aporte de recursos próprios mais elevados.
Em função desse crescimento, o mercado foi surpreendido pelo anúncio do adiamento da expansão da Veracel na Bahia, feito ontem. De acordo com o comunicado da Aracruz e da Stora Enso, controladoras da companhia, o investimento em compra de terras, formação de florestas e estudo de viabilidade foram cancelados em função do que classificou "situação atual do mercado". Procuradas pela reportagem do DCI as empresas não se manifestaram a respeito. Essa não é a primeira vez que o projeto de expansão é adiado pelas empresas.
Para reverter essa situação a Associação Brasileira da Indústria de Celulose e Papel (Bracelpa) apresentou ao governo federal propostas para que o poder público ajude o setor com o objetivo de melhorar essas condições. Segundo a presidente da entidade, Elizabeth de Carvalhaes, isso ajudaria o Brasil a manter seu nível de exportações que está em cerca de US$ 500 milhões mensais, média obtida em 2008.
"Essas companhias passaram a assumir o risco da operação que vai desde a inadimplência a até mesmo a perda do produto devido a algum acidente. Isso faz com que o fluxo de caixa das empresas seja muito pressionado, o que pode interferir nos investimentos", explicou Elizabeth. "Por isso, precisamos dessas linhas de crédito", completou ela.
Para o especialista no setor de papel e celulose da Tendências, Bruno Rezende essa iniciativa do setor está sendo uma prática de outros segmentos da economia que atuam com commodities. "Isso não quer dizer que as exportações estejam mal, ao contrário, a celulose continua a ser exportada", afirmou ele. "Faz sentido as empresas buscarem mitigação desse risco já que os agentes financiadores, como bancos estrangeiros estão em uma situação ruim", ressaltou ele.
Gravíssimo
Em papel a situação é mais complicada. Apesar dos preços estáveis, a demanda externa retraiu fortemente. No primeiro bimestre caiu 22,7% em volume e 25% em receita, segundo a Tendências. Esses números acabam por justificar a demanda que a Bracelpa apresentou ao governo para o papel. Segundo a presidente da entidade, a proposta é acrescentar cadernos ao programa do livro didático do Ministério da Educação e Cultura, que em 2008 comprou mais de 108 milhões de unidades a R$ 720 mi. De acordo com as contas da Bracelpa, essa proposta adicionaria ao mercado nacional 18 mil toneladas de papel. Porém, não foi apenas o mercado externo que apresentou retração, a situação do mercado nacional foi classificada como gravíssima por Carvalhaes. As vendas de papel de escrever e imprimir caíram 25%, papel cartão 29% e embalagens 10%.
O setor promete viver mais turbulência nos próximos dias com a divulgação dos resultados da VCP, Aracruz e Suzano. Para o analista da Geração Futuro, Felipe Ruppenthal, as companhias deverão apresentar prejuízo em função do impacto do câmbio.
Veículo: DCI