Setor têxtil brasileiro quer provar para argentinos que os 'vilões' são os asiáticos

Leia em 3min 30s

O setor têxtil brasileiro está com as contas prontas para comprovar que a culpa pelo aumento nas importações de tecidos e confecções na Argentina não é do Brasil, mas dos asiáticos. Os empresários se reúnem amanhã, em Buenos Aires, com seus colegas argentinos para discutir um acordo de limitação "voluntária" das exportações brasileiras.

 

A participação do Brasil nas importações argentinas de têxteis caiu de 41,5% em 2005 para 26,7% em 2008. No mesmo período, a fatia de outras origens (a maioria da Ásia) cresceu de 58,4% para 70,6%, conforme a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Em três anos, as importações da Argentina aumentaram 36%, mas, enquanto as compras vindas do resto do mundo subiram 70,6%, as importações do Brasil cederam 12,5%.

 
 
"Não somos o vilão da história", disse Fernando Pimentel, diretor-executivo da Abit, ao Valor, na sexta-feira da semana passada, quando chegou para o encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com uma pasta repleta de dados embaixo do braço.

 

Os empresários brasileiros argumentam que as medidas protecionistas da Argentina provocaram desvio de comércio, prejudicando o Brasil e beneficiando a Ásia. Um levantamento da consultoria Abeceb.com, situada na capital argentina, aponta que a participação das importações de tecidos e fios no consumo da Argentina estava em 26,4% em 2008, sem oscilações significativas desde 2006. Mas os produtos de terceiras origens abocanharam três pontos percentuais do Brasil no intervalo e respondem por 16% do mercado argentino. Na confecção, o elo da cadeia que mais gera emprego, as importações atendem 12,4% do mercado argentino, mas o Brasil possui inexpressivos 1,3%.

 

A tendência de perda de espaço do Brasil é a mesma até no denim, tecido utilizado para a fabricação de jeans, no qual o "share" do Brasil no mercado argentino é expressivo. Prejudicadas pelos acordos de limitação e outros mecanismos de proteção, as vendas de denim do Brasil para a Argentina caíram 15,8% entre 2005 e 2008. A fatia do país nas compras do vizinho cedeu de impressionantes 98,7% para 69%. Mesmo assim, as importações de denim da Argentina cresceram 19,8% nos últimos três anos, graças a alta de 31% nas compras vindas de terceiras origens.

 

Os fabricantes argentinos argumentam que a indústria brasileira é quatro vezes maior que a Argentina e que, apesar do protecionismo, o país acumulou um déficit de US$ 1,38 bilhão com o Brasil entre 2005 e 2008. Segundo a Fundação Pro Tejer, o setor é composto por 30 mil empresas, a maioria micro ou pequena, e emprega 460 mil pessoas, ou 10,5% do total da indústria do país.

 

Pimentel disse que o setor está preocupado com as negociações desta semana porque as medidas protecionistas da Argentina vão atingir 41% das exportações do Brasil para o país, se o governo de Cristina Kirchner cumprir a promessa de ampliar na quarta-feira a lista de produtos sujeitos a licenciamento não-automático.

 

Estão na nova lista produtos de cama, mesa e banho. Mesmo sem a aplicação de licenças, esse segmento perdeu participação na Argentina. As exportações brasileiras para o vizinho cresceram 10,3% em relação a 2005, para 7,2 mil toneladas em 2008 - abaixo do recorde de 8,3 mil toneladas em 2006. Apesar do desempenho positivo, a fatia do Brasil nas compras externas da Argentina cedeu de 53% para 43%. As importações da Argentina de cama, mesa e banho subiram 35% no período, impulsionadas pelo avanço de 63% nas compras de outras origens.

 

Pimentel, da Abit, disse que o setor está disposto a negociar com os argentinos cotas para suas exportações, mas argumenta que os dois países deveriam se unir contra a invasão asiática. Nos últimos anos, o governo argentino conseguiu atrair investimentos de várias empresas brasileiras do setor têxtil, que abriram fábricas no país para fugir das medidas protecionistas.
 


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Segura essa, Mickey!

    Veículo: Valor Econômico...

Veja mais
Cesta nada básica

  Veículo: Valor Econômico  ...

Veja mais
Produtores do país recebem mais por café e chá com selos socioambientais

O Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) está ampliando as certi...

Veja mais
Carrefour reforçará estratégia de marketing no País

Após anunciar a F/Nazca S&S como sua nova agência de publicidade, o Carrefour investirá mais em ...

Veja mais
Hering dobra o lucro líquido em 2008, para R$ 37,7 mi

Em balanço das atividades do ano passado divulgado ontem, a catarinense Cia. Hering reportou lucro líquido...

Veja mais
Comércio quer Páscoa "romântica"

O comércio da cidade do Rio de Janeiro estima vendas 7% maiores nessa Páscoa do que no ano passado, segund...

Veja mais
SC dobra produção de leite em oito anos

Quarenta e cinco anos atrás, o agricultor Luciano Sarvacinski saía diariamente a cavalo para entregar 30 l...

Veja mais
Comfort Concentrado com nova comunicação visual

A partir deste mês, a Unilever vai mudar a comunicação visual do Comfort Concetrado. A novidade cheg...

Veja mais
Congelador lotado é o mote da campanha da Consul Facilite

Para mostrar ao público que há uma salvação para o velho problema do congelador cheio de gel...

Veja mais