À espera do coelhinho

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Considerada uma das principais datas do varejo, a Páscoa movimenta uma grande cadeia produtiva. Apesar da crise financeira mundial e da consequente mudança de comportamento do consumidor brasileiro, que está mais contido em seus gastos, muitos varejistas acreditam que o consumo de produtos mais acessíveis, como vestuário e, principalmente, chocolates, irá aumentar em relação ao ano anterior.

 

De acordo com o consultor de varejo Marco Quintarelli, do Grupo Azo, o mercado está mesmo mais cauteloso este ano. "Não só o varejo, mas o consumidor também está mais comedido e reduzindo gastos com produtos de preços mais elevados, como carros, aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, mas as indulgências ganham espaço em momentos de crise. E nada melhor do que um chocolate para garantir a alegria dos adultos e, principalmente, das crianças", diz o consultor.

 

Segundo Quintarelli, os varejistas esperam um crescimento de 10% nas vendas de chocolates, em comparação com a Páscoa de 2008, apesar de o preço da matéria-prima ter aumentado, em média, 8%. "Em 2008, a Páscoa aconteceu em março e as famílias ainda estavam sufocadas com as contas da volta às aulas. Agora, em abril, inicio de mês, o cenário será outro", afirma.

 

Para ele o chocolate continua sendo a vedete "chamariz de clientes" e a grande briga entre os varejistas acontecerá no ponto de venda. "O foco deste ano estará nos ovos de chocolate menores, de 40g até 200 g, de marcas próprias e exclusivas, sempre com brindes. Para incentivar as compras, muitas empresas vão apostar nas vendas complementares ou "casadas" (na compra de produtos; os consumidores ganharão brindes, "leve e ganhe"), além das promoções nos itens festivos e nas melhores condições de pagamento, parcelando em até três vezes sem juros no cartão de crédito" ressalta Quintarelli.

 

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amedoim, Balas e Derivados (Abicab), Getúlio Usulino Netto, diz que esse ano a produção foi de 24 mil toneladas de chocolates, o que representa 5% no aumento de produção em relação ao ano passado. "A Páscoa é a melhor época do ano para nossa indústria. É a que se produz mais, e esse ano não foi diferente", conta.

 

Para 2009, a Associação estima um total de 113 milhões de unidades de ovos de chocolate. Este número é um dos responsáveis por manter o Brasil no segundo lugar no ranking mundial dos produtores de ovos, atrás apenas da Inglaterra. Serão comercializadas ao longo do ano, segundo as previsões da entidade, 329 mil toneladas (produtos de consumo continuado e ovos) de chocolate. Os ovos correspondem a 7% desse total.

 

FABRICAÇÃO PRÓPRIA. A Confeitaria Beira Mar, em Niterói, investe todo ano numa linha especial de chocolates para a Páscoa. A casa, que fabrica seus próprios chocolates, lançou diversos produtos entre ovos, chocolates e biscoitos exclusivos para a data. Serão mais de 25 opções, incluindo o lançamento de uma linha diet. Segundo a dona, Paula Naegele, depois das festas de final de ano, a Páscoa é a data mais importante e rentável para a casa. "Além de vendermos muitos chocolates, o tradicional da Páscoa, vendemos bem também produtos de nossa confeitaria, como doces e tortas. O Empório, nossa loja de decoração e presentes anexa à confeitaria, também tem uma venda considerável de presentes para pessoas que não comem chocolates", conta.

 

A preparação para esta data, na confeitaria, vem sendo feita desde janeiro. "Vamos adiantando com a matéria prima e a produção. Nesta época também fazemos os pedidos para nossos fornecedores de embalagens e artigos complementares. Além disso, mudamos completamente o que é servido no restaurante, principalmente nos bufês de almoço e jantar e no chá da tarde, colocando produtos que tenham a ver com o contexto da Páscoa e da Semana Santa. Os produtos são escolhidos cuidadosamente, pois nos preocupamos em ter produtos exclusivos, saborosos e acessíveis", explica Paula.

 

Os funcionários recebem treinamento para saber explicar aos clientes como os produtos novos funcionam. "Os itens que mais vendemos são, sem dúvida, os enfeites que têm chocolates ou biscoitos, como, por exemplo, cestinhas decoradas com coelhos e bombons. Além disso, oferecemos sabores exclusivos de ovos de Páscoa, como trufas, praliné belga e Ovomaltine. E espero que esse ano as vendas aumentem de 9,5% a 10% em comparação com 2008", ressalta Paula.

 

A chef Rosali Wilson criou há 20 anos a Chic Chicken, no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, loja especializada em carnes semiprontas. Ela começou oferecendo uma galinha chique - limpa e desossada e semipronta -, ganhou a clientela da região e hoje oferece mais de 200 tipos de carnes, indo muito além do frango. Os pedidos podem ser feitos pelo e-mail.

 

Toda a Páscoa, Rosali prepara dois almoços típicos, uma para a Páscoa católica e outro para Páscoa judaica. "Páscoa, assim como outras datas que são comemoradas em reuniões familiares (Natal, Dia dos Pais, Revéillon, Ano Novo Judaico) são muito importantes para nós. Nossos produtos atendem perfeitamente às donas de casa, que sabem ou não cozinhar, pois nossos pratos são semiprontos", conta Rosali.

 

A base de quase todos os produtos da loja é a carne de aves (frangos, galetos, codornas, patos, galinhas d'angola e perus). O diferencial fica por conta dos diferentes temperos e recheios. Alguns pratos semiprontos à base de boi, cordeiro, vitelo e porco, também estão no cardápio. Segundo Rosali, as expectativas com a Páscoa são as melhores, e já há algumas encomendas firmadas. "O aumento das vendas deverá ser de 15% a 20% a mais que em 2008", prevê.

 

A Cores Novas, versão infantil da marca Farm, criou produtos especialmente para data, como travesseirinhos de berço em formato de coelhos, blusas, calças e casacos com estampas de coelhinho. Segundo a sócia-proprietária, Flávia Trindade, a empresa está apostando na data.

 

"Para o comércio de vestuário, principalmente o infantil, é uma data que já não está com o clima tão quente. E as crianças precisam de roupas novas. Muitas famílias viajam e, por isso é hora de comprar algumas peças da nova coleção, já que as do ano passado não vestem mais os pequenos que cresceram. Ou seja, é uma ótima hora para lançar coleção", conta Flávia.
Para a sócia, as expectativas desse ano para data são muito positivas. "Estou apostando num aumento de 20% em relação ao igual mês do ano passado", aposta.

 

Outra loja irá investir em acessórios especiais para data é a Alice Disse, que tem como diferencial a valorização dos detalhes que vão desde toy arts a guarda-chuvas, passando por sapatos, bolsas e até objetos de decoração, A exclusividade é garantida, das estampas à embalagem. Na semana da Páscoa, a grife lança a promoção combo da Alice: um bibelô de coelho mais um conjunto de cinco brownies de doce de leite.

 

Segundo a estilista da marca, Mirna Ferraz, sempre há um planejamento de compras e desenvolvimento de produtos com foco nas datas especiais, como Carnaval, Páscoa, dia das mães, dias dos namorados, dia das crianças e Natal. "Apesar do nosso ramo ser de acessórios femininos, gostamos de estabelecer links entre nossos produtos e as datas comemorativas. Não vendemos chocolate na Páscoa, mas alguns produtos vem acompanhados de brownies como brinde, por exemplo", conta.

 

Outra boa idéia foi o que a loja de trufas, Bel Trufas, no Shopping da Gávea, desenvolveu. A dona, Bel Carvalho, fez vários tipos de embalagens exclusivas para Páscoa. Segundo ela esse preparo sempre começa 90 dias antes, e rende ótimo resultado.
"Por conta da crise apostei em produtos com menor custo sem perder em qualidade e acabamento que são uma característica forte da minha marca. Acredito que haja um aumento de 30% das vendas", conta Bel.

 

Em relação ao quadro de funcionários, Bel sempre contrata pessoal extra para as datas onde há o aumento das vendas. Estas pessoas chegam entre 15 e 20 dias antes da data, o que já é o suficiente para entrarem no ritmo, pois elas são contratadas especialmente para fazer a embalagem dos produtos.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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